A disciplina no trabalho está fora de moda?
Em tempos de inovação acelerada, o verdadeiro diferencial está em quem mantém constância, propósito e clareza de direção.

O mundo está repleto de soluções e ideias com potencial de elevar profissionais e organizações a um patamar muito superior. No entanto, algo segue como um dos obstáculos do estabelecimento de práticas efetivas: a falta de disciplina, uma habilidade que tem sido deixada de lado, como se fosse um conceito ultrapassado ou rígido demais para os tempos atuais.
Em meio a tecnologias que nos prometem atalhos e respostas a um clique, a disciplina parece estar com dificuldade de encontrar apelo para existir. O que é um risco. Afinal, por mais que o mundo evolua, ainda não inventaram um substituto real para a qualidade dos resultados conquistados com dedicação e esforço contínuo.
Realizações significativas, seja na vida pessoal ou profissional, continuam dependendo do comprometimento com o processo. Em alguns contextos, é preciso seguir trabalhando mesmo quando a motivação falha. Exige enfrentar desconfortos, ajustar rotas, errar, aprender e seguir. Tudo como parte da invisível dinâmica de coisas que realmente funcionam.
Tamara Klink: a desbravadora dos mares
É a disciplina que nos impede de desistir na primeira dificuldade e mantém a nossa conexão com um objetivo maior. Algo que, por exemplo, vejo com muita clareza no perfil da velejadora brasileira Tamara Klink, com quem eu tive a oportunidade de conversar recentemente. Ela acaba de ser oficialmente reconhecida como a mulher mais jovem do mundo e a primeira pessoa da América Latina a concluir a Passagem Noroeste em solitário, no Ártico.
Foram quase dois meses de navegação entre a Groenlândia e o Alasca, uma jornada exigente em diferentes sentidos. E, para concluir o trajeto sã e salva, Tamara não contou apenas com coragem, talento e uma equipe remota. Foi preciso preparo, rotina, paciência, estudo de erros e acertos alheios. Acima de tudo, ela precisou de disciplina para se manter em movimento e segurança durante todo o trajeto.
Reconheço que não é fácil manter a disciplina. A psicologia explica que, originalmente, nossos cérebros foram moldados para sobreviver, não para ter constância. E isso explica a nossa vulnerabilidade diante de distrações e prazeres. O que significa dizer que, na prática, não somos nenhum fracasso. Só precisamos de treino e intenção na missão de levar algo adiante.
O primeiro passo desse processo é ter consciência dessa nossa fragilidade como seres humanos e reconhecer que estamos inseridos em um ambiente hiperestimulante. Depois, vale considerar que disciplina não tem relação com inflexibilidade ou opressão, mas com escolhas mais conscientes. Quando bem desenvolvida e aprimorada, aliás, ela liberta.
Como defendia Aristóteles, “nós somos o que fazemos repetidamente; excelência, então, não é um ato, mas um hábito”. E é justamente nessa mudança de postura e pensamento que profissionais e empresas têm transformado bons projetos em realidade, tirando-os do campo das ideias por meio de prática consistente e da busca contínua pelo melhor resultado.