uso de tecnologias no ambiente de trabalho era uma crescente e se intensificou nos últimos anos, com a pandemia e a necessidade de isolamento social. Com mais pessoas em casa, empresas adaptaram suas demandas e optaram pelo trabalho remoto, precisando utilizar ferramentas ágeis e eficientes para manter a comunicação com seus colaboradores e continuar entregando qualidade em serviços e produtos.
Com a internet disponível em cada aparelho de telefonia e computador, o uso de aplicativos de mensagens instantâneas, assim como redes sociais e e-mails, está ao alcance de quase todos e mais presente no dia a dia, facilitando o acesso e disseminação de informações, assim como a resolução de problemas. Mas, o que tenho observado no consultório é que mesmo com tantos benefícios, desvantagens andam ao lado das tecnologias também, como o desenvolvimento da sensação de que é preciso estar sempre disponível, e, no ambiente organizacional, responder chamados instantaneamente, evoluindo até para um padrão workaholic.
O que precisamos entender é que a necessidade de estar sempre conectado e até mesmo dependente do celular pode ter sido incentivada pela pandemia, que elevou taxas de desemprego. O aparelho se tornou alternativa para geração ou complemento de renda e até para manutenção dos empregos já existentes, fazendo com que as pessoas demonstrem proatividade e disponibilidade integral às corporações.
Um levantamento do Instituto Locomotiva, realizado em 2021, revelou que 32,4 milhões de brasileiros utilizam algum tipo de aplicativo para trabalhar. Para 16%, essa é a única fonte de renda e para outros 15% é metade do orçamento. Sendo assim, podemos identificar que o celular também é responsável pela estabilidade financeira de muitos trabalhadores, mas também está além, proporcionando às pessoas acesso ao mundo, aos amigos e familiares em um período que nos exigiu estar sozinhos. O quanto o uso dessa tecnologia se tornou abusivo, não só no âmbito clínico, social, mental, cognitivo, comportamental e nas relações do trabalho é motivo de alerta e atenção.
De acordo com o Observatório Febraban, 87% da população brasileira afirma que não viveria sem internet. Esse fenômeno, apesar de pouco estudado, tem nome: nomofobia. O termo surgiu na Inglaterra e é a síntese da expressão no-mobile (sem celular) e da palavra fobos (medo/fobia em grego), ou seja, o medo de ficar longe ou impossibilitado de se comunicar por meios virtuais, celular, computador ou internet.
Antes de falarmos sobre a nomofobia, vale ressaltar as diferenças entre ansiedade, fobia e medo. Quando falamos sobre ansiedade, compreendemos que é uma ação fisiológica do corpo que se prepara para fugir ou lutar diante de uma situação, podendo provocar tremores, angústia, taquicardia e outras reações. O medo está relacionado à interpretação de uma situação perigosa, podendo ser acompanhado de ansiedade ou não. Já a fobia é um medo desproporcional, muitas vezes considerado irracional e que pode atrapalhar o cotidiano, prejudicando a qualidade de vida.
Quando há uso desproporcional das tecnologias, principalmente no ambiente organizacional que incorpora em suas atividades cotidianas a utilização do celular, os impactos podem afetar a saúde mental, desencadeando compulsão, vício, Burnout, pânico, ansiedade, entre outros. A maior rapidez na comunicação e a facilidade de solucionar problemas é indiscutível, porém, em contrapartida, a internet pode gerar a necessidade responsiva de dar conta de todas as demandas e e-mails, ter velocidade nas respostas, afetando também a produtividade e rotina do colaborador, que se sente “preso” ao celular, o que vem sendo notado em diferentes profissões e gerações.
A nomofobia pode estar associada também aos aspectos econômicos do mundo do trabalho, como a digitalização dos negócios e as mudanças no estilo das pessoas, que optam por fazer tudo pelo celular. No ambiente organizacional, alguns possíveis sintomas de comportamento do colaborador devem levantar sinais de atenção para líderes e gestores, entre eles:
- Se o funcionário passa mais tempo no celular do que interagindo em eventos sociais da empresa (happy hours, reuniões, cafezinhos, almoço)
- Não confundir prontidão nas respostas de aplicativos de mensagens com imediatismo nas mensagens
- Quando um colaborador precisa voltar correndo para pegar o celular, se esquece o aparelho na mesa do trabalho, em qualquer circunstância
- Irritabilidade constante
- O celular estar sempre mais na mão do que pousado em algum lugar
Comentários sobre insônia, dificuldade de foco, concentração, impacto na produtividade, ganho de peso e isolamento social também podem gerar alerta, desde que se tornem um padrão ou algo recorrente, por duas semanas ou mais.
Visando proporcionar melhoria na saúde mental e o uso adequado das tecnologias, é importante que empresas pensem em maneiras de melhorar o relacionamento de seus colaboradores com a utilização de celulares e computadores. Muitas delas são fáceis e podem ser inseridas em processos já existentes.
5 dicas melhorar o relacionamento entre colaborador e tecnologia:
- Estudar a necessidade de limitar horas de acesso, principalmente em aplicativos de mensagens instantâneas, redes sociais e internet. As empresas podem criar relatórios de controle para averiguar se há excessos.
- Políticas com diretrizes claras sobre o uso adequado e saudável da tecnologia.
- Campanhas de endomarkenting sobre saúde mental, que envolvam vídeos com instruções sobre esse tema.
- Rodas de conversa para falar sobre dependências tecnológicas, investindo em psicoeducação.
- Inclusão dessa pauta em reuniões das lideranças com suas equipes.
A ideia é trazer equilíbrio entre trabalho e saúde mental, tornando o ambiente organizacional menos nocivo ao uso excessivo de exposição a telas de celulares, computadores e tabletes. Tornando-se um espaço de promoção a saúde e bem-estar físico e mental.
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