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Luciana Rovegno

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Coach executiva, membra do Comitê de Ética da ICF (Brasil), mediadora e mestre em educação de adultos.

A imunidade à mudança e os quatro estágios de desenvolvimento na vida adulta

Há um sistema psicológico inconsciente que, ao tentar nos proteger, sabota mudanças desejadas. Mas manter a curiosidade e a abertura a novas perspectivas é fundamental.

Por Luciana Rovegno, colunista da Você RH
26 jul 2025, 19h03
Imagem de um origami de cisnede papel mudado para um avião de papel.
 (wildpixel/Getty Images)
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“Não aceito os fatos que você está apresentando.”

Essa frase, dita por um participante em uma imersão de comunicação não violenta (CNV) na qual estive recentemente, ficou ecoando em minha mente. Nunca havia me ocorrido que alguém pudesse não aceitar fatos. Um dos pilares da CNV, abordagem organizada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg a partir da longa tradição de práticas promotoras de uma cultura de paz, é justamente a observação dos fatos, a descrição do fenômeno, constituindo a base comum a partir da qual é possível iniciar o diálogo. Se alguém não aceita os fatos, como seguir?

Talvez a teoria de imunidade à mudança, de Robert Kegan, possa iluminar nossa reflexão. Segundo Kegan, a imunidade à mudança é um sistema psicológico inconsciente que protege o indivíduo de ameaças percebidas, mesmo que isso signifique sabotar mudanças desejadas. No caso, alguém que estava participando de um curso intensivo em CNV provavelmente tinha interesse em praticar outras formas de se relacionar que fossem mais colaborativas e inclusivas.

Vale lembrar que a imersão aconteceu recentemente, em um momento no qual o mundo está cada vez mais polarizado e as guerras ocupam as manchetes dos jornais. Sendo assim, vários instrutores estavam abordando a perspectiva sistêmica da não-violência. Quando surge uma resistência na forma de “não aceito os fatos que você está apresentando”, ela não pode ser vista como falta de vontade, mas como uma defesa ativa e inconsciente contra o desconforto emocional em relação aos fatos que estavam sendo apresentados.

Imagine que você está em uma reunião virtual, faz uma colocação e percebe um sorriso cúmplice sendo trocado por dois colegas enquanto você está falando. Você pode imaginar que estavam debochando de você ou de algo que você disse. Uma estratégia possível de lidar com a situação é perguntar diretamente aos colegas o motivo dos sorrisos. A resposta pode te satisfazer e tranquilizar – ou continuar causando desconforto e desconfiança.

Em uma reunião com um grupo de clientes, presenciei exatamente essa cena. Os sorrisos causaram profundo desconforto em quem estava com a palavra naquele momento, a ponto dos outros participantes terem tentado explicar o que havia acontecido, sem que isso apaziguasse os ânimos. Havia um desejo genuíno no grupo de participantes de melhorar as relações entre eles e de terem um ambiente mais colaborativo (assim como na imersão em CNV). Entretanto, os fatos apresentados podem não ter se encaixado com a visão que o participante incomodado tinha sobre aquele time (ex. “não estão comprometidos com as metas”), as relações nos ambientes organizacionais (ex. “todos querem puxar o tapete de todos”) e mesmo sobre si mesmo (ex. “não me levam a sério”).

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Obstáculos psicológicos

Na teoria de Kegan, a imunidade à mudança transparece quando, mesmo querendo mudar, mantenho um comportamento contrário ao que quero desenvolver, pois essa forma de agir protege inconscientemente algo que está sustentado por uma determinada visão de mundo. E essa crença profunda pode ser uma crença sobre mim mesma e minha identidade, como defendem Stone, Patton e Heen em seu livro Conversas Difíceis.

Para eles, uma conversa é difícil quando desafia aquilo que acreditamos ser verdade sobre nós mesmos. Se eu me vejo como alguém responsável, sério, comprometido e meus colegas trocam sorrisos enquanto exponho um argumento, é bem possível que eu reaja com desconfiança mesmo quando quero crer que todos ali buscam um ambiente melhor.

Da mesma forma, se estou numa imersão para trabalhar minha escuta e minha empatia e me vejo como alguém gentil, humano, que sempre acomoda as necessidades dos outros, pode ficar difícil “aceitar fatos” que na minha percepção estejam contradizendo essa visão, como em uma sessão que discute a experiência de grupos historicamente oprimidos em relação aos grupos social e economicamente favorecidos — e eu faça parte dos últimos. Mesmo querendo ser empático e compreender a experiência dos outros, é possível que eu negue os fatos apresentados, pois estou protegendo minha crença sobre quem sou e como me comporto no mundo.

Uma vez, um colega consultor quis me dar uma dica para que eu ficasse mais relaxada nas intervenções que conduzíamos juntos em equipes de clientes. Apesar de eu também querer me sentir mais relaxada, não era algo que eu estivesse conseguindo fazer. Hoje, refletindo sobre esse momento, acredito que eu estivesse inconscientemente querendo proteger minha reputação de seriedade e responsabilidade.

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Provavelmente, uma crença que me deixava excessivamente em alerta era a de que desenvolvimento humano era visto como “perfumaria” por muitos profissionais (cheguei a ouvir isso de uma executiva da área de negócios em uma organização) e que eu não queria ser vista como uma consultora “alternativa demais” ou “abraça-árvore”. E essas crenças e receios me faziam perder a espontaneidade e a leveza. Não era uma mudança simples, técnica, que exigiria a aquisição de novos conhecimentos e práticas, mas sim uma mudança adaptativa, que exigia transformação interna profunda.

Quatro estágios de evolução

Kegan e outros autores que estudam o desenvolvimento de adultos, identificam alguns estágios possíveis de evolução de nossa mente. Um estágio bastante comum, em que a maioria de nós se encontra, é o da “mente socializada”, que é moldada por normas e regras sociais, portanto externas ao indivíduo. Nesse estágio, o indivíduo atua para atender suas necessidades de pertencimento, reconhecimento e contribuição à sociedade, por exemplo. Daí a grande importância que atribui à opinião dos outros sobre si.

Um outro estágio possível, a “mente de autoria”, privilegia seus próprios valores e objetivos, atuando para atender necessidades de autonomia e realização, por exemplo, sendo menos sensível ao juízo que os outros fazem de si.

O estágio mais raro (e mais inspirador) é o da “mente autotransformadora”, que questiona as próprias crenças e está aberta à reinvenção contínua. A atuação do indivíduo nesse estágio visa atender necessidades de aprendizado, expansão, compreensão etc. Esse estágio me lembra a máxima de que “sábio é quem sabe que nada sabe”. E Raul Seixas, que cantava: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

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Essa reflexão reforçou minha crença sobre a importância de nos mantermos curiosos e abertos a outras perspectivas — não apenas como estratégia de desenvolvimento, mas como expressão de coragem para rever quem acreditamos ser.

E você? Quais atitudes vêm sustentando sua própria evolução?

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