Requalificação pode ser a chave para incluir profissionais mais velhos
Mesmo com os jovens se formando, a falta de oferta de mão de obra não cobre a demanda por profissionais da tecnologia
A transformação digital aumenta a concorrência em todos os segmentos e exige novas competências de todos os talentos — a dificuldade geral é qualificar e preparar as pessoas na mesma velocidade. A solução passaria por olhar para o público 50+ de forma estratégica. “Em vez de encarar o copo meio vazio, podemos requalificar essas pessoas”, afirma Sergio Serapião, CEO da empresa. Hoje, são cerca de 20.000 profissionais passando pelos treinamentos gratuitos da Labora. “Percebemos que a experiência que eles têm pode contribuir muito, por exemplo ao colocar alguém que tenha feito carreira em banco para trabalhar com tecnologia em uma fintech.”
Na Accenture, consultoria de gestão e tecnologia, a discussão também tem sido essa. “Do ponto de vista socioeconômico, teremos uma série de consequências se essas pessoas não tiverem renda ou não estiverem ocupadas mentalmente”, diz Beatriz Sairafi, diretora executiva de RH da Accenture Brasil e América Latina.
O setor de tecnologia é o que mais cresce, inclusive no número de contratações — só no primeiro trimestre de 2021, a quantidade de empregos gerados na área foi 300% maior em comparação com o primeiro trimestre de 2020, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). O déficit de mão de obra qualificada, que era de 30.000 em 2019, deve alcançar 420.000 postos até 2024.
“Mesmo com os jovens se formando, esse gap não vai ser preenchido”, afirma Beatriz. Por isso, a Accenture lançou, em julho de 2021, o Grand Masters, programa que emprega pessoas 50+ que estão fora do mercado e oferece qualificação para que possam ocupar posições de tecnologia e de áreas administrativas e financeiras. De lá para cá, 137 profissionais com esse perfil já foram contratados.
Para preparar a empresa para a iniciativa, o RH organizou três grandes encontros com a liderança para tratar de temas como preconceito e viés inconsciente, treinou os profissionais de recrutamento e incluiu a diversidade geracional no webcasting, um informativo interno mensal para os funcionários. Agora o comitê de gerações prepara uma live com depoimentos de profissionais 50+. A ideia é envolver todos na discussão para que a iniciativa conquiste cada vez mais apoio. “Convidamos as pessoas para participar e nos ajudar a criar as soluções em contratação, comunicação, treinamento e outras questões relacionadas a esse público”, diz Beatriz.
O engajamento interno surpreendeu. A ação foi uma das mais compartilhadas pelos funcionários nas redes sociais, e muitos pediram para participar das iniciativas e do comitê. “Recebemos uma enxurrada de indicações internas — muitos jovens querendo trazer pais e parentes e ajudar os recém-contratados a se integrar”, diz Beatriz. E, da parte dos profissionais contratados, a motivação tem sido alta. “Eles agarram a oportunidade”, afirma.
Este trecho faz parte de uma reportagem da edição 78 (fevereiro/março) de VOCÊ RH. Clique aqui para se tornar nosso assinante