Esta reportagem faz parte da edição 73 de VOCÊ RH
Até março, Flavia Caroni só tinha conhecido pessoalmente dez pessoas de sua nova empresa, a Kraft Heinz. Isso poderia parecer estranho alguns anos atrás. Em tempos de pandemia, essa é a nova realidade de muitos profissionais que, como ela, fizeram uma transição de carreira durante o período de isolamento social. Flavia assumiu, em agosto de 2020, a vice-presidência de recursos humanos para o Brasil e a América Latina da fabricante de molhos alimentícios e cuida de 7.000 funcionários na região.
“É um processo que gera a necessidade de reinventar a maneira como nos conectamos com as pessoas. Não existe mais o cafezinho para gerar uma empatia inicial, a forma de contato é diferente”, diz Flavia.
Reinvenção não é necessariamente um problema para a executiva. Com uma carreira de 17 anos, ela passou por diferentes áreas de atuação em companhias como Kimberly-Clark e Whirlpool e já conduziu projetos em diversos países latino-americanos. “Nós até achamos que, por sermos latinos, somos parecidos. Mas não é verdade.”
De sua primeira experiência de expatriação, quando se mudou para o Peru em 2015, Flavia guarda a lembrança de ter que reaprender muito — desde as tarefas singelas do dia a dia, como navegar em um supermercado estrangeiro, até atividades do escopo profissional, como encontrar os diferentes gatilhos de motivação de pessoas de outras culturas. “É um exercício de humildade a cada minuto, de entender os outros. Aprendi que temos alguns paradigmas que não vão, necessariamente, funcionar para todas as realidades”, afirma Flavia.
Além disso, seus anos morando fora do Brasil, que também a levaram até a Argentina, trouxeram a lição de que é preciso entender como funciona sua própria curva de aprendizado. “Mesmo sem pressão externa, existia uma pressão interna que me fazia querer uma adaptação rápida para mostrar logo os resultados. Tive que aprender a lidar com isso.”
O desafio
Como não poderia deixar de ser, o contexto de crise se impõe como um grande desafio de gestão de pessoas para a Kraft Heinz neste momento. É necessário, por exemplo, garantir a saúde e a segurança dos funcionários que precisam atuar presencialmente, como os das fábricas e os da força de vendas, ao mesmo tempo que se acolhem os profissionais em home office. Por isso, a empresa tem investido em programas de saúde mental, que vão desde palestras e apoio psicológico pelo telefone até a sensibilização das lideranças para que compreendam a vulnerabilidade de todos — inclusive a de si próprias.
Para além da pandemia, o RH está atuando em quatro grandes objetivos, que foram estabelecidos no final do ano passado e começaram a ser trabalhados em 2021. O primeiro, de longo prazo, é a transformação cultural, cujo desafio é tornar a empresa cada vez mais focada em pessoas (do ponto de vista dos clientes e dos funcionários). A segunda meta é o desenvolvimento e a conexão da liderança, que deve se tornar mais conectada com os times e com o propósito da empresa: “tornar a vida mais deliciosa”. O terceiro é o pilar da diversidade, que começou com a sensibilização de toda a companhia para a importância da inclusão e que tem como meta alcançar a representatividade da sociedade dentro da organização. “Só assim teremos os melhores produtos e soluções”, explica Flavia.
E, por último, mas não menos importante, está a transformação digital que, é claro, foi acelerada pela pandemia. A ideia da Kraft Heinz é tornar o RH tecnológico sem deixar de lado as pessoas e o cuidado com a humanização. “Não queremos robotizar, mas ter ferramentas de análise de dados e de análise preditiva para que possamos tomar as melhores decisões”, explica Flavia.