Com a covid-19, os profissionais tiveram que se adaptar a uma nova realidade de trabalho. No caso dos psicólogos, os atendimentos online, que antes eram exceção, passaram a fazer parte da rotina profissional. Tanto que dados do e-Psi, plataforma de cadastro de psicólogos para atendimentos remotos, cresceu 447% entre 2018 e fevereiro de 2020. “Existem textos antes da pandemia que já falavam sobre terapia por telefone e por videochamadas, mas sempre como exceção, como algo além do atendimento presencial. Se não fosse a pandemia, encararia o atendimento online desta maneira, como algo extra”, explica o psicólogo clínico Caique Mendes.
Edwiges Parra, psicóloga clínica e colunista da VOCÊ RH, endossa a fala do colega. “No campo da psicologia ainda existia uma certa estranheza sobre realizar sessões online, o que é justificável. Uma vez que a preocupação estava baseada na segurança, qualidade e efetividade”, afirma.
Novo normal da terapia
A pandemia da covid-19, no entanto, veio para mudar cenário – e não de forma provisória. Em outubro de 2020, cerca de 70% dos países já haviam adotado as práticas de teleterapia de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A Zenklub, plataforma de orientação psicológica online, que foi criada em 2016, percebeu bem a mudança. Na comparação do primeiro semestre de 2019 com o mesmo período de 2020, o número de sessões feitas através da Zenklub cresceu quase 700%. Mais profissionais também buscaram a plataforma: 1.237 psicólogos se inscreveram, crescimento de quase 500% em comparação ao ano anterior.
E essa é uma tendência que veio para ficar. “Os profissionais perceberam que o digital é um canal tão eficiente quanto o presencial para trabalhar as temáticas que as pessoas procuram”, afirma o CEO da Zenklub, Rui Brandão. “É como vemos em todos os setores, existem um mundo online e um mundo offline e eu acredito que estes dois mundos vão se perpetuar também na saúde mental”, acrescenta Rui.
O que é preciso para atender online
Vale lembrar que, apesar de impedir que os pacientes interrompam seus tratamentos por causa do risco da covid, essa modalidade de terapia tem exigido novas demandas dos psicólogos. Caique, por exemplo, começou a espaçar as consultas, as intercalando com pausas para diminuir o cansaço que os atendimentos online causam.
“Percebo uma diferença de cansaço depois de um dia atendendo presencialmente e um dia atendendo on-line. Isso fez que eu remanejasse alguns horários, colocando mais pausas quando se tem pacientes atendidos de maneira on-line”, explica o profissional.
Além disso, os profissionais também devem se preocupar com materiais de audiovisual e o cenário de suas tele consultas. “Criar o cenário de ambiente terapêutico ajuda muito o paciente a se engajar e compreender que está em sessão”, afirma Edwiges. “Se possível, investir na parte audiovisual, como câmera para ofertar uma boa imagem e headset para possibilitar um áudio de qualidade”, acrescenta a psicóloga.
Caso o profissional não esteja em um consultório, Caique e Edwiges também citam a importância de ter um ambiente reservado em casa, evitando assim interrupções e fazendo com que os pacientes se sintam preservados e segura.
Orientar de forma clara os pacientes também é essencial. “Explicar sobre a plataforma que vai ser utilizada, perguntar se ele está familiarizado com ela e também pedir para que ele fique em um local silencioso e sem interrupções durante a sessão”, afirma o Caique.
Prós e contras da terapia virtual
Na terapia presencial, o profissional tem a oportunidade de estabelecer melhor um vínculo terapêutico e de aproximação social, melhorando a leitura não-verbal que tem do paciente. Mas os encontros virtuais também têm suas vantagens.
“O online é muito mais acessível no sentido de tempo de deslocamento”, diz Caique. Entre os bônus de atender remotamente, Edwiges também cita a praticidade e oportunidade de poder trabalhar de qualquer lugar, sempre de forma segura, e atender pacientes do mundo todo.
“Não importa se é online ou presencial, a técnica e a teoria são as mesmas. Um trabalho de psicoterapia deve ser pautado em teoria sempre”, acrescenta Caique.
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