Diz a sabedoria popular corporativa que, quanto mais horas trabalhadas, maior a produtividade. Essa crença vem de muito tempo atrás — mais precisamente, do século 18, quando a Revolução Industrial trouxe inovações tecnológicas que reconfiguraram a economia e deram origem à produção em série e em massa. A partir dali, fazer mais com menos se tornou um mantra entoado com afinco desde a base até o topo da hierarquia nas empresas. Líderes ocupados demais para aproveitar o fim de semana e funcionários que assumem mais funções do que deveriam, muitas vezes por receio de perder o emprego, ajudaram a moldar o que os especialistas têm chamado de produtividade tóxica — ou, para os íntimos, excesso de trabalho disfarçado de sucesso.
Esse comportamento ganhou outra dimensão na pandemia, quando muita gente passou a atuar em home office. O limite entre o pessoal e o profissional foi esgarçado, senão rompido, e estar constantemente à disposição da empresa virou o novo normal. Mas isso não é novo nem é normal.
Produzir mais não necessariamente é fazer melhor. O que costuma resultar dessa dedicação extrema são a disparada dos casos de ansiedade, depressão e burnout, o esgotamento físico e mental que impede a realização de um bom trabalho, os afastamentos cada vez mais recorrentes por motivos de saúde, o sufocamento da criatividade e, portanto, da inovação. Perdem as pessoas, perdem as empresas.
Mas uma das boas lições que a passagem do tempo nos ensina é que erros trazem a oportunidade da mudança. Na matéria de capa desta edição, apontamos caminhos para combater a produtividade tóxica. E aqui vai um spoiler: essa não deve ser uma pauta apenas do RH, mas um assunto estratégico assumido pelo CEO e abraçado pelas lideranças e equipes. Só assim será possível abandonar conceitos arcaicos de gestão e disseminar outra máxima, esta, sim, importante e urgente: a de que o valor de um profissional não se mede pela quantidade de tarefas que ele consegue executar no dia.