O líder maestro — e por que a gestão tem tudo a ver com o jazz
Líderes maestros são pessoas criativas, confiantes e com poder de decisão que garantem sempre o ritmo do time. Entenda a relação da gestão com a música
m meu último artigo aqui publicado, citei o famoso jazzista Wynton Marsalis, que realizou uma série de seis palestras ministradas na Universidade de Harvard, entre 2011 e 2014, chamada Hidden in Plain View: Meanings in American Music. Esse talvez tenha sido meu texto mais inspirador para a liderança, por isso resolvi trazer as aulas para este e os próximos artigos, explorando os aprendizados de cada encontro. Começo hoje com Música como metáfora.
Neste encontro, Wynton argumenta que a música tem o poder significativo de nos unir e evocar humores e memórias. Não à toa, o comparativo com a liderança, uma vez que líderes têm o importante papel de manter o time unido e afinado. Assim como maestros, que lidam com diferentes habilidades, diferentes instrumentos, timbres e técnicas, mas que ao harmonizar tudo, o som se torna impecável.
Para tangibilizar essa analogia, podemos imaginar as empresas como uma grande orquestra. Os músicos seriam os profissionais que compõem a organização. Apesar de especialistas no que atuam, sozinhos não fazem música. Somente o time completo traz os resultados esperados de uma orquestra. Os solos têm sua vez – assim como nas jam sessions, no entanto, funcionam por determinado tempo.
Ainda sobre as jam sessions, elas também são carregadas de aprendizados aos gestores, pois um solo nada mais é do que a capacidade de improvisação e expressão da individualidade que, ao trazerem interatividade com o todo, enriquecem o resultado da apresentação. Em uma orquestra, o maestro mostra confiança em seu time quando dá abertura para que esses solos aconteçam, uma vez que eles não necessariamente fazem parte de um ensaio prévio, portanto o líder desconhece o que está por vir, mas confia mesmo assim.
Vale ressaltar que as jam sessions são despidas de disputas sobre quem toca melhor. Ao contrário, elas são sempre colaborativas, uma vez que o coletivo mantém a base instrumental durante o solo. O improviso é também uma habilidade muito valorizada nos ambientes corporativos, pois muitas vezes é essa capacidade de criar soluções de maneira ágil que zera os problemas ao fim do dia.
O péssimo líder (spoiler alert)
Trazendo um contraponto ao maestro ideal, um péssimo líder é capaz de colocar tudo a perder. É esse exemplo que podemos extrair do filme Whiplash – em busca da perfeição. O filme conta a história de um jovem baterista (Andrew Neiman, interpretado por Miles Teller) na melhor escola de música e com um professor autocrata (Terence Fletcher, interpretado por J.K.Simmons, que ganhou o Oscar pelo papel).
No filme, o professor desafia seu aluno de forma consistentemente agressiva, abusando dele verbal, física e psicologicamente.
No entanto, por mais que o aluno se esforce (e ele é bom no que faz), o líder constantemente promove um ambiente competitivo e, mesmo tendo momentos de elogio, na maioria das vezes impera a lei do medo.
O baterista, em busca de seu sonho, se dedica além de seus limites, praticando exaustivamente e chegando a sangrar as mãos para alcançar o resultado esperado pelo professor. A reflexão que fica é: em que ponto nossos próprios sonhos podem se tornar nocivos? A verdade é que líderes abusivos acreditam que toda essa pressão pode motivar os liderados, quando na realidade, podem até proporcionar um resultado de curto prazo, mas nunca duradouro, pois cultivam um ambiente tóxico, com relacionamentos intensos (mas superficiais) e nada inspiradores.
O Jazz como inspiração
Voltando às orquestras, o jazz e a liderança definitivamente andam de mãos dadas. É a união que traz equilíbrio e dá ritmo aos processos de trabalho. Ao falarmos de líderes maestros, estamos falando de pessoas criativas, confiantes e com poder de decisão que garantem sempre o ritmo do time. Eles são capazes de conduzir os músicos e todo o concerto, tal qual os profissionais de uma organização caminham para concluir um projeto ou chegar em uma meta. Conseguem fazer com que o indivíduo seja melhor do que ele mesmo pensava ser capaz. Sua condução leva ao protagonismo, ao novo e à oportunidade de pertencer a um grupo que faz dele ainda melhor.
No fim do dia é sempre a liderança, alinhada com os interesses de todo o time, que pode proporcionar resultados positivos. Essa simbiose não faz um mais importante do que o outro, mas sim garante que a noção clara dos papéis em um processo de confiança gera por consequência autonomia, agilidade e criatividade para organização. Por sinal, competências de sobrevivência nos dias de hoje.
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