ma empresa, em muitos pontos, lembra um time de basquete. Ela precisa de grandes pontuadores. Precisa de um estrategista apoiado por gente que levanta os números para que ele possa basear corretamente suas decisões. Precisa de um time entrosado, que joga junto para encarar os desafios. E, no banco de reservas, energizando a equipe, precisa de um CEO.
Nesse caso, um Chief Energy Officer. Calma, vou explicar.
A ideia de falar sobre esse cargo surgiu quando estava assistindo um jogo de basquete universitário americano. Recentemente, em determinado momento de uma partida, os locutores se referiram a um atleta que estava no banco de reservas, mas que, mesmo não estando entre os pontuadores da rodada, tinha um papel fundamental no time. Era o Chief Energy Officer, uma figura que tem a função de aumentar a voltagem do time, apoiando os companheiros, pressionando os adversários, puxando a torcida. Ah, e até jogando.
Conrad Hawley é um armador do time da Universidade de Iowa State. Ele entra pouco na quadra — em média 2 minutos por jogo. Mas sua história e sua função no time são extraordinárias. Até a temporada 2021 ele não jogava basquete. Seu passado no esporte foi como quarterback dos Jayhawks, um time de futebol americano que disputa a liga do ensino médio em Missouri. Hawley teve um resultado legendário na categoria, somando 3.000 jardas de arremessos, fazendo 26 touchdowns, vencendo o estadual e sendo premiado como o melhor jogador.
Então ele entrou na faculdade de administração em outro estado, e decidiu mudar de área. Ligou para o técnico do time de basquete da universidade e se voluntariou para participar da equipe. “Eu nem fazia questão de entrar muito em quadra. Queria mesmo é fazer parte de um time, me divertir, e trazer energia para o pessoal”, explicou, em uma entrevista. Ele literalmente mudou de esporte, mas não de função.
Segundo a própria página da universidade, o CEO tem seu assento definido no banco de reservas e “cumpre seu dever de trazer energia para a equipe o dia todo, todos os dias.” Ele é considerado fundamental para o desempenho da equipe e tem sua importância reconhecida por todos.
Não se assuste, a figura do novo CEO não é um discurso de autoajuda ou feitiçaria. Tampouco estamos propondo cheerleaders espalhados por escritórios e fazendo visitas ao home-office das pessoas. Este cargo é, literalmente, uma resposta necessária a organizações cada vez mais humanas.
Há alguns anos estudamos organizações, seja em projetos de cultura organizacional, seja em projetos de mapeamento das redes de colaboração e comunicação nas empresas. O que aprendemos, e isso é comprovado por dados, é que “energia” é um dos principais fatores que contribuem para a saúde organizacional. Quando falamos de saúde da organização, estamos falando de colaboração, fluxo de informação e capacidade de inovação. E o que é “energia” nesse contexto? Não é uma pregação esotérica, distante do repertório corporativo ou organizacional. É uma palavra que poderia ser traduzida parcialmente como “motivação”. Mas vai além. No dia a dia as pessoas se referem à “energia” para descrever a sensação que fica após as interações com as pessoas. Depois de uma reunião ou uma conversa de trabalho com um colega, a sensação é positiva ou negativa? A troca e convivência com esta pessoa é agradável ou desagradável? O funcionário vai querer interagir com a pessoa outras vezes, ou vai evitar que isso aconteça? Quando os colaboradores se referem a alguém como tendo “muita energia”, isso se refere a sentimentos e sensações positivas (a não ser, claro, que digam que é o oposto, uma “energia ruim”).
Essa sensação positiva, quando trazida para o ambiente de trabalho por pessoas da equipe, melhora de forma considerável a qualidade das relações. Em um ambiente energizado, as pessoas interagem mais, cooperam mais e inovam mais. Uma publicação da Harvard Business Review chamado “Os 3 Elementos da Confiança” trazia o resultado de um estudo que mostrava que a confiança é construída com três elementos principais: a expertise (relacionada ao grau de conhecimento e especialização de uma pessoa), a consistência (ou seja, o quanto as pessoas fazem aquilo que pregam, o “walk the talk”, na expressão americana). O terceiro elemento é justamente a energia, as relações positivas, capazes de criar boas conexões e gerar cooperação e crescimento. Segundo o artigo, esse é justamente o fator mais importante para gerar confiança. Como diz nosso head de Cultura na iN, Vinícius Buso, energia é o ativo mais subestimado e com maior potencial de resultado dentro das organizações.
Cada empresa pode ter apenas um Chief Executive Officer, mas pode ter Energy Officers permeando toda a empresa. Pesquisas mostram que colaboradores motivados têm desempenho superior àqueles presos nas tradicionais culturas de comando e controle. Estudos sobre redes organizacionais, que mapeiam o funcionamento real das empresas, desvendando não a hierarquia tradicional, mas as relações humanas e laços de confiança, mostram que alguns talentos-chave, que são os “hubs” dessas redes, têm influência mais poderosa no comportamento da área do que os próprios gestores.
Em um momento em que tantas empresas se ressentem da dificuldade em trabalhar com processos de transformação, porque “a bateria acaba” ao longo do tempo, a chave para o sucesso pode estar em trabalhar a energia como uma competência ou comportamento corporativo, tal qual eficiência e empreendedorismo, por exemplo.
É assim que diversas empresas já começaram a pensar. Satya Nadella, CEO da Microsoft, disse recentemente “Líderes criam energia. Você sabe que encontrou um líder porque você sai dizendo: uau, eu quero fazer parte desse time. A energia que você cria em torno de você será provavelmente o atributo mais importante no longo prazo”. Ou seja, um time que sabe jogar com energia já começa fazendo uma cesta de 3 pontos.