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Sócio fundador e CEO da iN, consultoria de propósito e gestão de marcas
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Profissionais estão dispostos a ganhar menos em troca de flexibilidade

As empresas que souberem oferecer um novo tipo de jornada vão vencer a disputa para atrair e reter os melhores talentos

Por Fábio Milnitzky, colunista de VOCÊ RH
27 abr 2023, 14h18
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uem, como a minha geração, acompanhou o mundo corporativo nos últimos anos, assistiu à morte daquela grande saga conhecida como a carreira tradicional. No tempo de vida de uma geração o ambiente das empresas mudou daqueles computadores de tela verde, que sequer eram ligados à internet, para um mar de smartphones em que cada pessoa tem conexão 24/7 e pode trabalhar à distância. A revolução digital virou tudo de cabeça para baixo: mercado financeiro, comércio, logística, educação, saúde. Na sua nova temporada, essa disrupção trouxe a inteligência artificial, que vai tornar obsoletas centenas de funções. Para os profissionais, uma consequência dessa nova ordem é a pandemia de angústia que vivemos hoje. Fala-se muito em como os millennials são pessimistas em relação ao futuro, mas a verdade é que essa visão sombria atinge a todos, e a crise de saúde mental no ambiente de trabalho é reflexo de uma crise de identidade profissional iniciada na pandemia e sem data clara para terminar.

Uma carreira de sucesso, dos anos 1950 aos anos 1990, tinha um mapa conhecido. Era entrar em uma grande empresa como estagiário (melhor ainda se fosse trainee) e subir os degraus até alcançar o máximo do seu potencial — pelo menos, teoricamente. O caminho estava nas grandes empresas. Empreender não era para todos, muito menos atrativo, e o trabalho autônomo costumava ser uma situação provisória para quem havia perdido um emprego e procurava o seguinte. Tudo simples. Tudo mudou. Com a tecnologia vieram uma montanha de ferramentas digitais e a possibilidade de contratar por job. Ficou muito mais fácil e barato empreender ou trabalhar como autônomo. O caminho do trabalho já não passa necessariamente pelas corporações, e a uberização chegou até a profissionais financeiros, advogados, programadores e marqueteiros.

A pandemia de covid-19, então, quebrou de vez o modelo padrão de trabalho. Mesmo grandes empresas passaram a ter gente trabalhando em casa. E os profissionais gostaram da ideia. Pesquisas nos EUA mostram que um terço deles — principalmente as mulheres — considera o home office mais seguro, já que diminui o risco de assédio moral e sexual. A maioria comemora a economia do dinheiro da condução e das refeições fora de casa. Além do fato de ter ganho horas úteis. Por aqui, o quadro é semelhante: 7,4% dos brasileiros se dizem dispostos a trocar de emprego ganhando um pouco menos, desde que trabalhem mais tempo de casa. A quantidade de pessoas trabalhando em home office para empregadores em outro país cresceu 491%. Isso significa que os recrutadores agora concorrem com empresas de todo o planeta na disputa pelos melhores profissionais.

Fala-se muito de home office porque é uma questão tangível para todos. Mas, no fundo, ele é um sintoma. O modelo padrão de trabalho, que já estava quebrado até antes da pandemia, agora está sendo destroçado.

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E como as áreas de pessoas das empresas ficam diante desse quadro? Minha avaliação pode parecer contraintuitiva, mas creio que ficam empoderadas. Tornar-se estratégico foi o desafio do RH nas últimas décadas. Era uma questão de sobrevivência de nossa espécie. Agora, é uma questão de sobrevivência de nossas empresas. Empresas sem uma estratégia cultural clara e conectada à estratégia vão ser engolidas pela velocidade com que as coisas mudam.

Por isso, mais do que nunca o RH agora terá um papel crítico em ajudar a construir as empresas que serão bem-sucedidas. Disputas por mercado deixaram de ser apenas competições entre os melhores modelos de negócio no segmento A ou B, mas passaram a ser também competições sobre quem encontra o melhor modelo de gestão de pessoas, aquele que consegue atrair e manter os talentos e, ao mesmo tempo, permitir que atinjam todo o seu potencial de crescimento, junto com o da companhia.

A oportunidade existe. As empresas podem se posicionar como quem propõe, por seu lado, um projeto de futuro para os profissionais, aportando valores como segurança, visão de longo prazo ou possibilidade de fazer parte de um projeto maior. Uma obra em aberto, com a qual o projeto pessoal de cada um pode dar match — uma combinação em que os dois lados ganham, já que não existe match perfeito. Um cenário que favorece a carreira e a saúde mental — os dois temas que estão no centro das preocupações das pessoas, como há tempos os profissionais de RH vêm sinalizando. No “novo normal”, há muitas preocupações e insatisfações que precisam ser endereçadas. Sentimentos de solidão e estagnação. Carência de mentoria. Dificuldade de manter uma conexão real com os colegas de trabalho.

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Para que uma pessoa se sinta realizada pessoal e profissionalmente, é preciso atender a uma lista de necessidades, que começa com as básicas — como alimentação e sono — e chega até a autoestima e o sentimento de realização. O “novo normal” facilitou os itens básicos, mas dificultou os mais complexos. Então, deve haver um caminho equilibrado que ofereça o melhor balanço. As empresas, pelo menos as mais rápidas, parecem estar em busca disso. Nos EUA, entre as funções que podem ser realizadas remotamente, o que está crescendo são formatos híbridos ou flexíveis, que eram 35% em 2022 e agora já chegam a 41%. O modelo totalmente remoto, que foi dominante no auge da pandemia, já recuou para cerca de um terço. No Brasil, a maioria dos recrutadores diz que já enxerga modelos híbridos como os mais eficientes para trabalhadores e empresas.

A polêmica do presencial versus remoto é apenas uma das questões para as quais um RH estratégico precisará encontrar a solução daqui em diante. As realidades do mercado exigem aprendizado durante a vida inteira e reinvenção permanente, tanto por parte das pessoas quanto das empresas. Os verdadeiros talentos, aqueles que não são substituíveis pelo Chat GPT, continuam querendo viajar pelo mundo, escalar a hierarquia e se envolver em grandes projetos, como acontecia nos tempos clássicos da carreira corporativa — coisas que, segundo as pesquisas, são vistas como cada vez mais difíceis para os profissionais de todos os perfis. Mas essas pessoas também querem viver um ambiente diverso, com cultura de evolução e possibilidades enriquecedoras de trabalho em equipe. A velha carreira corporativa morreu, mas o profissional ainda pode ser o herói de sua própria jornada. As empresas que realmente apontam seus telescópios para o futuro poderão chamá-lo para uma viagem conjunta. Qual é a aventura? Quais os meus colegas? Que desafios e vitórias posso esperar? As que souberem fazer esse convite e navegar essa rota poderão contar com os melhores aliados.

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