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Jackie De Botton

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Diretora criativa da The School of Life
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O sucesso, segundo Alain de Botton

As ideias do filósofo fundador da The School of Life sobre o significado da glória no trabalho.

Por Jackie de Botton, colunista de VOCÊ RH
Atualizado em 17 out 2023, 18h13 - Publicado em 17 out 2023, 17h49
Alain de Botton fazendo uma palestra
 (Rosie Hardy/VOCÊ RH)
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Recentemente, estive em Londres representando a The School of Life Brasil em nosso encontro anual, que reúne todas as unidades da escola. Tive a oportunidade de conversar com o filósofo suíço Alain de Botton, que é a grande mente por trás de boa parte das ideias que circulam em livros, textos, vídeos e experiências. Falamos bastante sobre os dez anos da escola aqui no Brasil – completados em 2013 –, sobre o papel fundamental da filosofia na nossa vida e o que significa sucesso e a arte de sonhar.

Aquela conversa me encheu de inspiração. Principalmente, no que diz respeito ao trabalho da The School of Life desenvolvendo habilidades emocionais em grupos corporativos. Noto que existe um desejo dentro de muitas empresas de tratar os colaboradores, os clientes e o mundo com mais respeito. A questão é que isso, muitas vezes, parece incompatível com outros objetivos do negócio, como eficiência, vantagem competitiva e maximização de lucros.

Na minha conversa com o Alain, porém, eu consegui entender que é possível trilhar um caminho do meio nessa jornada. O pano de fundo do nosso bate-papo sobre sucesso no mundo corporativo foi o seguinte:

Devemos nos livrar de algumas falsas suposições sobre o sucesso no trabalho

O Alain me explicou que, quando nos perguntamos se uma organização ou pessoa é bem-sucedida, geralmente, não nos perguntamos o que as torna bem-sucedidas. Em outras palavras, nossa definição de sucesso está completamente desligada do propósito da organização. O sucesso, na opinião do Alain, só é possível se uma organização tiver o objetivo de promover o bem-estar da humanidade de alguma forma. Ao mesmo tempo, há muitas pessoas que pensam que o sucesso nos negócios é incompatível com uma vida boa e decente.

Ele destacou que, em algumas partes da sociedade, existe uma hostilidade tão arraigada às companhias que todos os negócios são considerados exploradores. Somente administrar uma organização de caridade é considerado moralmente digno. Mas, para o Alain, isso também não é saudável, porque assim a gente esquece que o dinheiro tem um grande poder disciplinador: fornece uma excelente forma de direcionar esforços e avaliar resultados. Na visão dele, a organização ideal tem dois objetivos: criar significado e ganhar dinheiro. Mas o significado vem em primeiro lugar e o dinheiro é apenas um meio, não um fim.

Também devemos aceitar que ninguém consegue ter sucesso em todas as áreas da vida. O sucesso numa área quase sempre significa menos destaque em outra. Se você tiver sucesso nos negócios, é improvável que também tenha sucesso nos esportes de ponta. É uma estranha ilusão pensar que o trabalho e a vida privada podem ser mantidos em perfeito equilíbrio: tudo o que é importante para você desequilibra a sua vida, pelo menos em algum momento.

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É importante adotar uma perspectiva melhor sobre o sucesso

O sucesso, segundo Alain, é a realização de um conjunto de ambições dignas centradas nos verdadeiros talentos de quem executa determinada ação e nas reais necessidades do mundo. Mas o sucesso também vem com a aceitação de que muita coisa vai dar errado.

Ele me lembrou que esperamos muito dos nossos relacionamentos hoje em dia: intimidade, comunicação e comprometimento. Ao mesmo tempo, passamos a exigir muito de nós mesmos em relação ao nosso trabalho: entusiasmo, longas horas de expediente e dedicação total. Os relacionamentos, muitas vezes, são prejudicados porque um parceiro ou ambos trabalham por muito tempo. Às vezes, o trabalho também sofre em decorrência do relacionamento, embora isso seja menos comum.

Na visão dele, estamos presos entre os ideais do romantismo e os do capitalismo. Mas devemos compreender que esses ideais surgiram em uma época diferente. Os ideais do romantismo foram criados por pessoas que geralmente não precisavam trabalhar: adolescentes privilegiados que tinham tempo para escrever poesia. E os ideais do capitalismo foram desenvolvidos por pessoas para as quais o trabalho árduo e a acumulação de riqueza eram fundamentais. O romantismo e o capitalismo têm muito a nos ensinar, mas os seus ideais são incompatíveis em momentos-chave das nossas vidas. Isso é algo para o qual devemos estar preparados e não nos culpar.

A inteligência artificial não é inimiga da inteligência emocional

Na conversa, o Alain fez a seguinte provocação que achei muito interessante: temos de garantir que as nossas máquinas não são apenas inteligentes, mas também sábias. Para ele, os desenvolvedores precisam saber fazer a distinção entre inteligência e sabedoria. Precisamos envolver as pessoas na criação de novas tecnologias para que pensem em termos do bem-estar da humanidade. Ele avalia que os projetos costumam dar errado quando se trata apenas de ganhar mais poder. E completa destacando que esse é um problema antigo: Platão disse que o mundo só seria bom se os filósofos fossem reis ou se os reis fossem filósofos. Com essa afirmação, ele quis dizer que devemos garantir que o poder esteja alinhado com a sabedoria. Isso é muito verdadeiro tanto para os reis da tecnologia quanto para os reis de antigamente.

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As organizações ainda têm dificuldade de transformar ideias utópicas em realidade

O Alain disse acreditar que as pessoas em posições de poder, muitas vezes, têm uma visão pouco imaginativa e muito conservadora do propósito do trabalho. Esses líderes não são pessoas más em si, mas estão em um sistema que recompensa a busca repetitiva de alguns objetivos escassos e não essenciais. Na visão dele, o mundo é um pouco como uma escola gigante em que os professores não acreditam muito no que ensinam, suspeitam que existe uma maneira melhor de fazer as coisas, mas estão muito ocupados e exaustos para pensar em alternativas.

Ingredientes de uma organização “melhor”

Uma organização melhor, na visão de Alain, começaria por analisar o que torna as pessoas infelizes no dia a dia e tentaria resolver os grandes problemas da vida em vez de, como agora, focar nos pequenos desafios. Esses grandes problemas envolvem, por exemplo, não ter bons relacionamentos ou não encontrar sentido no trabalho. Já as questões menores e menos significativas são: não tenho um aplicativo que me diga como está o tempo em Taipei ou o supermercado oferece pouca variedade de salada. Uma organização ideal também está atenta ao real potencial de todos os colaboradores e garante que seu trabalho esteja bem alinhado com seus talentos. O Alain considerou, ainda, que, de certa forma, a maioria das pessoas simplesmente não está no lugar certo no trabalho.

No ambiente de trabalho, pessoas são os recursos mais valiosos e menos compreendidos

Algo que tenho acompanhado nos workshops da The School of Life dentro das empresas é que as pessoas e as relações entre elas são o maior desafio de uma organização. Mas, por incrível que pareça, como bem destacou Alain no nosso encontro, a maioria das organizações não investe tempo e recursos adequados e de qualidade na missão de conhecer suas pessoas. Isso, no médio e longo prazo é extremamente prejudicial para os negócios. Isso porque o quão feliz ou triste um funcionário está impacta diretamente na criatividade, produtividades, inovação e competitividade de uma companhia.

Conduzir um negócio significa sonhar acordado, pensar em um mundo futuro melhor. É claro que se trata, também, de trabalhar de forma sistemática, prática e eficiente. Mas, antes de entrar nisso, deveria ser sobre imaginar o mundo como ele poderia ser um dia. Deve haver espaço para a utopia.

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