Por que aprender é tão difícil – e como facilitar o processo
O processo de aprendizagem é longo e cansativo. Por isso, demanda persistência, motivação intrínseca e muita estratégia.

Outro dia, ao preparar uma xícara de chá, percebi que a etiqueta no cordão do saquinho trazia uma questão: “o que te faz crescer?”. À princípio, achei curioso: até o chá entrou na “onda coaching”, propondo perguntas que estimulam a reflexão. Mas fiquei pensando no assunto.
Crescer, para mim, significa se desenvolver. E se desenvolver é aprender. Não sou eu quem afirma isso: Carl Rogers, um dos pioneiros da psicologia humanista, destacou o papel da aprendizagem no desenvolvimento do potencial humano, enquanto Lev Vygotsky defendia que o aprendizado impulsiona o desenvolvimento cognitivo.
Mas o que é, afinal, aprendizagem?
O linguista H. Douglas Brown define a aprendizagem como o processo contínuo e ativo de aquisição de conhecimentos, habilidades e comportamentos por meio de experiência, estudo ou ensino. Ele ainda enfatiza o papel relevante que a interação social, a reflexão crítica e a aplicação prática desempenham nesse processo ao longo de nossas vidas.
Talvez esse conceito pareça familiar para você, porque lembra outro: a sigla CHA (conhecimento, habilidade e atitude), uma teoria criada pelo psicólogo David McClelland nos anos 1970 que ajuda a identificar competências essenciais para o sucesso – e é muito usada no recrutamento, na seleção e no treinamento de profissionais pelo RH, por exemplo.
Ao nos depararmos com uma competência que nos falta, temos diante de nós o desafio de adquirir novos conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA). Quanto mais distante o desempenho atual estiver do desempenho desejado, maior o desafio. Para superá-lo, precisamos nos dedicar a aprender, praticar e refletir. Trata-se de processo iterativo e persistente, que vai consumir energia. O que garante que seguiremos firmes?
“Quando fica mais fácil?”
Numa sessão recente de coaching executivo, minha cliente compartilhou dois momentos em que tinha se comportado de forma alinhada ao seu objetivo. Fiz questão de comemorar e pontuar como o comportamento desejado estava mais frequente. Ela retrucou: “a energia que isso consome é imensa. Quando vai ficar mais fácil?”.
É difícil dizer. No processo de aprendizagem, quando a nova competência ainda não foi internalizada, operamos no que o psicólogo Daniel Kahneman chama de “sistema 2”: um modo de pensar mais lento, deliberado e analítico, que consome consideravelmente mais energia do que o “sistema 1”, responsável por decisões rápidas, automáticas e intuitivas.
Nosso cérebro é uma máquina que visa garantir nossa sobrevivência. Economizar energia está na ordem do dia. Por isso, Kahneman estima que quase todas as decisões que tomamos diariamente são automáticas – e parte do sistema 1. Apenas 5% delas seriam intencionais, deliberadas; exigiriam atenção e cuidado.
As decisões relacionadas ao processo de aprendizagem estão no sistema 2. Nosso cérebro trabalha para que possamos aprender e automatizar as decisões relacionadas a esse aprendizado, de forma a incorporá-las ao sistema 1 e gastar menos energia. Qual seria, então, a chave para fazê-lo?
Aprendendo a aprender
Segundo John Dewey, teórico que cunhou a expressão “learning by doing” – ou “aprender fazendo”, em português –, a prática é essencial para acelerar esse processo de automatização.
Reflita por um momento e tente identificar algo que você tenha aprendido sem praticar de forma consistente. Pessoalmente, não consigo identificar coisa alguma, em minha experiência. Então, quando minha cliente questiona quando ficará mais fácil, eu fico apreensiva, pois sei que sua motivação será determinante para que ela mantenha a disciplina e siga consolidando seu aprendizado.
Pode ser útil explorar obstáculos para a prática deliberada e planejar como superá-los. Assim, você terá um plano de contingência à mão. Também é fundamental se dar conta da importância que aquele aprendizado tem para você. Perguntei à minha cliente, por exemplo, o que significa dominar a competência que ela se propôs a desenvolver e que impacto o domínio dessa competência terá na carreira dela. Também refletimos sobre os resultados que ela já estava colhendo.
Celebrar cada conquista ajuda a fortalecer o propósito por trás do aprendizado. A motivação intrínseca – o desejo de aprender e crescer por satisfação interna – é a base para a consistência nesse processo. Afinal, quando o aprendizado se conecta ao nosso propósito, nos tornamos mais propensos a superar os desafios e seguir adiante com energia renovada.
Reconhecer o crescimento enquanto ele acontece pode ser um motivo suficiente para perseverar. A cada passo no processo de aprendizagem, estamos nos aproximando de nossa melhor versão. Crescer é um esforço contínuo, mas também uma conquista profundamente recompensadora – para nós mesmos e para aqueles ao nosso redor.