Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Liderança

Na crise, é melhor aumentar ou diminuir o investimento em pessoas?

A resposta para enfrentar a crise é demitir pessoas e cortar custos como os de treinamento? Não para quem acredita no ROI humanizado

por Caroline Marino Atualizado em 10 mar 2021, 20h51 - Publicado em
18 dez 2020
08h03

Esta reportagem faz parte da edição 71 (dezembro/janeiro) de VOCÊ RH

A forma de fazer negócios e a dinâmica corporativa vêm se alterando drasticamente por causa da pandemia. Os motivos vão desde a instabilidade da economia até a adaptação do modelo de trabalho para o home office, além da urgência em acelerar a transformação digital. Nesse sentido, o olhar atento às necessidades e aos anseios dos funcionários se tornou ainda mais relevante. São as pessoas — e como a companhia investe nelas e as desenvolve — que determinam se os negócios prosperam ou não. Isso exige um novo entendimento do retorno sobre os investimentos, o famoso ROI. Agora é preciso pensá-lo sob o ponto de vista das pessoas.

Essa abordagem se concentra em capacitar e reenergizar a força de trabalho para preencher funções atuais e futuras, com menos demissões, como explica Alexandre Marins, diretor de desenvolvimento de talentos da consultoria LHH. Isso significa abandonar estratégias de gestão de talentos reativas e caras, que se apoiam em uma abordagem de “demitir e contratar”, e adotar ações de capacitação de talentos que possibilitem passar de uma força de trabalho substituível para uma que seja renovável. “Na prática, quando olhamos para a equação financeira, vemos o retorno indireto de investir no capital humano”, diz Alexandre.

Melhor para os negócios

Segundo o estudo Future-Proofing the Workforce, do Adecco Group e do The Boston Consulting Group, as empresas que decidem requalificar e realocar em vez de demitir e contratar podem economizar até 136.000 dólares por funcionário. Isso porque investir em pessoas significa para as companhias evitar vários custos visíveis e invisíveis, como verba rescisória ou auxílio para transição ao funcionário que está deixando a empresa, gastos com recrutamento, perda de produtividade durante a contratação e a integração, e danos à marca empregadora caso a demissão seja malfeita, por exemplo.

Sem falar nos aspectos culturais do ROI que não é voltado para as pessoas. De acordo com Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de planejamento e transição de carreira, ao olhar o desempenho do funcionário, é preciso mensurar “como ele entregou o resultado”, o que está muito alinhado aos valores da empresa, e não apenas “o que ele entregou”.

Continua após a publicidade

A postura de não investir no pessoal e optar sempre pela troca não possibilita que a companhia mantenha sua essência na realização das atividades, que envolve a maneira como cada profissional atua para chegar à meta. “Valores, competências e atitudes se sustentam mantendo um time mais coeso por mais tempo”, diz Rafael.

Esse tipo de olhar requer uma ação estratégica que seja capaz de antecipar as necessidades de perfis e de competências que a organização terá no futuro. “A área de recursos humanos não pode ser reativa, deve antever as demandas do negócio – esse é o maior desafio”, afirma Alexandre. Segundo ele, os líderes de RH precisam equilibrar a velocidade da execução do dia a dia, que é acelerada, e a transformação para o que está por vir.

Habilidade com números

Apesar de o investimento em pessoas ser subjetivo, alguns indicadores podem ajudar nessa conta. Um deles é projetar quanto a empresa gastaria com desligamentos e reposições (valor total dos custos financeiros e de tempo dividido pela soma dos riscos envolvidos), versus o investimento em pessoas de forma planejada e antecipada. “É preciso fazer uma reflexão que permita que a maior parte dos recursos internos seja recapacitada e reaproveitada”, explica Alexandre.

O trabalho começa com a conscientização do RH sobre o tema e um mapeamento estratégico das tendências e características do negócio, do formato de trabalho e do perfil das pessoas. Segundo Rafael, o que geralmente acontece é que o RH, apesar de ter a mentalidade pró-desenvolvimento, carece de habilidades analíticas para interpretar informações de people analytics, por exemplo.

“É preciso mostrar com mais dados quanto o investimento pode, de fato, ser mais impactante do que uma demissão”, afirma o CEO da Produtive. Ele sugere escolher índices para mensurar cada treinamento, o que tornaria o cálculo mais tangível. Uma capacitação em inovação e disrupção, por exemplo, pode usar indicativos de quantos produtos que estavam para ser lançados conseguiram sair do papel. “É possível olhar, ainda, dados da performance do indivíduo antes e depois do treinamento, o nível de engajamento e a média de turnover voluntário”, explica Rafael.

Continua após a publicidade

A conta fecha

Analisar a retenção e a movimentação interna também ajuda no cálculo do novo ROI. A Atos, empresa que atua com serviços de tecnologia, tem metas globais para que suas vagas sejam preenchidas internamente e, no Brasil, o índice chega a 80%.

“Olhamos sempre para o grupo de pessoas que temos hoje, o que está acontecendo na tecnologia e no mercado, e quanto vamos precisar de mais pessoas preparadas”, diz Alexandre Benatti, diretor de recursos humanos da Atos para a América do Sul. Para isso, a companhia usa os conceitos de reskilling (capacitação do funcionário para que ele consiga fazer uma mudança de rota na carreira e se adaptar melhor ao mercado e às oportunidades abertas) e upskilling (capacitação que reforça e complementa o conhecimento do profissional na área em que ele já atua).

Continua após a publicidade

Segundo o executivo, essas capacitações são feitas por meio de academias internas de desenvolvimento, com cursos, palestras e materiais de diferentes áreas. “Isso traz velocidade à adaptação aos novos desafios e se traduz em números.” Alexandre explica que um dos indicadores é o custo do desenvolvimento que a empresa teria com um novo funcionário. “Mesmo que tenha bons conhecimentos e entenda das demandas técnicas, ele vai entrar num ambiente novo e precisará de um tempo para se adaptar e entregar tudo o que pode. Vale muito mais investir no desenvolvimento do que arriscar em contratações desconhecidas”, diz.

A coordenação desses processos é possível por uma ação conjunta entre as áreas de operação e a equipe de recursos humanos da Atos, que está dedicada a identificar pessoas que possam se encaixar em novas oportunidades. “O RH é um facilitador. Temos buscado protagonismo para criar as pontes entre as diversas oportunidades e as pessoas”, afirma Alexandre.

Satisfação que vira resultado

Para que o cálculo do desenvolvimento das pessoas dê certo, o melhor é unir indicadores quantitativos e qualitativos, como crescimento da empresa, custos com demissão, análise de engajamento e taxa de absentismo. Na EDP, o retorno sobre os investimentos em pessoas se traduz em pilares como a alta taxa de engajamento na pesquisa de clima, que alcançou 86% em 2019 – o maior número do grupo -, e o crescimento da empresa, que de 2014 para cá triplicou e alcançou 1,3 bilhão de reais de lucro líquido. “Para isso, olhamos para o colaborador de forma ampla, em todas as dimensões: emocional, física, social, espiritual, cultural e financeira”, explica Fernanda Pires, diretora de RH da EDP.

Do ponto de vista da educação, a empresa, que possui uma universidade corporativa, investiu em 2019 na multiplicação interna com o intuito de capacitar pessoas para promoverem conhecimento especialmente sobre as demandas futuras. Um exemplo é o programa IMentors, que envolve treinamentos em design thinking e metodologias ágeis para que funcionários se atualizem e atuem como multiplicadores. E, para medir a efetividade dessas capacitações, Fernanda conta que há sempre pesquisas pós-treinamento. Além disso, na pesquisa de clima, há perguntas voltadas apenas para esse tema. A executiva diz que, no último ano, a EDP cresceu dez pontos percentuais nas questões ligadas a iniciativas que impactam no desenvolvimento pessoal. “Esse é um termômetro para nós”, afirma Fernanda.

Mas esse novo ROI só será bem-sucedido, comenta Anderson Sant’Anna, professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), se houver interesse genuíno nas pessoas. “É preciso pensar o ROI de uma maneira mais humana, olhando o bem-estar, a saúde e a satisfação do funcionário”, diz o professor. E não há crise que consiga esconder essa necessidade.

Continua após a publicidade

Quer ter acesso a todos os conteúdos exclusivos de VOCÊ RH? É só clicar aqui para ser nosso assinante.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Você RH impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.