Demissões nas Big Techs são alerta para o futuro do setor de tecnologia
Mais de 650 mil profissionais foram desligados entre 2022 e 2025. Resultado: 60% dos que ficaram tiveram aumento de estresse e ansiedade.

O setor de tecnologia, tradicionalmente símbolo de inovação e progresso, está agora diante de um momento de reflexão sobre suas práticas e estruturas. Após anos de crescimento acelerado, muitas das grandes empresas de tecnologia se veem obrigadas a reavaliar seus modelos de gestão.
A pandemia e a subsequente demanda por inovação impulsionam uma expansão rápida, mas as consequências dessa aceleração começam a ser sentidas em demissões massivas que têm marcado o setor desde 2022, um fenômeno que agora também alcança o Brasil.
O preço do crescimento acelerado sem sustentabilidade
De acordo com dados do site especializado Layoffs.fyi, mais de 650 mil profissionais de empresas de tecnologia foram desligados globalmente entre 2022 e 2025, com um aumento acentuado dos cortes a partir de 2024. Empresas como Meta (Facebook), Amazon, Google e Microsoft lideram essa onda de reestruturações, mas o impacto está sendo sentido em todos os níveis.
Embora essas decisões de cortes tenham sido recebidas positivamente pelos mercados financeiros, devido à redução de custos, as consequências humanas são notáveis. De acordo com um estudo da McKinsey & Company, mais de 60% dos profissionais de tecnologia relataram um aumento nos níveis de estresse e ansiedade, o que também acende um alerta sobre o risco de burnout e insegurança crônica no setor.
Esse cenário não ficou restrito aos Estados Unidos. No Brasil, desde o início de 2025, startups e grandes empresas de tecnologia começaram a reestruturar suas equipes, influenciadas por fatores como a queda nos aportes de venture capital, a crescente automação com inteligência artificial e a pressão por eficiência operacional.
Da busca pelo crescimento à sustentabilidade
O modelo adotado por muitas dessas empresas, que priorizava o crescimento acelerado a qualquer custo, revelou-se insustentável no longo prazo. Em muitos casos, a tentativa de expandir rapidamente acabou resultando em equipes inchadas e processos mal estruturados. Quando o mercado pressionou por maior eficiência, em vez de uma reorganização estratégica, muitos gestores optaram por cortes rápidos e indiscriminados.
Embora a crítica ao modelo de crescimento sem sustentabilidade seja válida, é importante reconhecer que o setor de tecnologia também tem mostrado resiliência e vontade de adaptação. Muitas empresas estão começando a repensar suas práticas de gestão e a priorizar estruturas mais enxutas e ágeis.
Futuro mais equilibrado e sustentável
Olhando para o futuro, é possível identificar algumas alternativas que podem ajudar as empresas a se reestruturar de forma mais saudável e eficaz. A primeira proposta é a mudança de foco no modelo tradicional de gestão de recursos humanos. Squads sob demanda, treinamentos contínuos e uma gestão orientada por dados são algumas das soluções que permitem maior flexibilidade e adaptabilidade.
Além disso, é fundamental que as empresas invistam em uma cultura organizacional que valorize tanto a performance quanto o bem-estar dos colaboradores. O investimento em saúde mental, bem como a criação de ambientes de trabalho mais humanos, será essencial para evitar o desgaste excessivo dos profissionais e garantir a sustentabilidade das operações.
A utilização de dados para otimizar processos de recrutamento e retenção de talentos, por exemplo, pode proporcionar uma gestão mais eficiente e menos propensa a decisões baseadas apenas em métricas financeiras de curto prazo. Isso permite que as empresas alinhem suas necessidades operacionais com a valorização de seus colaboradores.
Equilíbrio entre eficiência e bem-estar
O setor de tecnologia enfrenta um momento crucial. As demissões em massa nas grandes corporações não são apenas uma resposta às dificuldades econômicas globais, mas também um reflexo de falhas estruturais que precisam ser corrigidas. É urgente que as empresas adotem práticas de gestão mais equilibradas, com foco não apenas na redução de custos, mas também na criação de um ambiente organizacional saudável e sustentável.
Ao olhar para o futuro, as empresas que souberem integrar eficiência operacional, inovação e cuidado com o bem-estar dos colaboradores estarão mais preparadas para lidar com os desafios de um mercado em constante transformação. Esse novo modelo de gestão, que prioriza a agilidade, o equilíbrio e a adaptabilidade, pode ser o caminho para evitar que o setor de tecnologia se torne um campo fértil para a exaustão e a insegurança profissional.
O risco de burnout e da exaustão mental continua sendo uma preocupação crescente, e as empresas precisam urgentemente repensar não apenas suas estruturas, mas também o valor real que atribuem às pessoas que são, de fato, o motor da inovação.
*Sylvestre Mergulhão é CEO da Impulso, uma People Tech especializada em produtividade e reestruturação de equipes.