Imagine-se como o capitão de um navio em meio a uma tempestade. Todos os olhares se voltam para você, esperando decisões rápidas, certeiras e que podem salvar a embarcação e a vida de todos dentro dela. Não há espaço nem tempo para dúvidas, hesitações ou, Deus me livre, erros. Você é o farol em meio ao caos, o porto seguro em águas turbulentas. Mas quem segura a sua mão quando as ondas ameaçam engolir tudo?
Os líderes empresariais carregam o peso de serem vistos como super-humanos. Capa esvoaçante invisível, “S” estampado no peito corporativo. Essa imagem, embora lisonjeira, cria um abismo entre o líder e sua equipe. Os funcionários, inconscientemente, se distanciam. Afinal, quem ousa oferecer ajuda a um super-herói?
Essa aura de invencibilidade é uma prisão dourada. O líder se vê compelido a manter as aparências, escondendo vulnerabilidades, dúvidas e medos.
Estamos falando de um paradoxo cruel: quanto mais um líder precisa de apoio, menos provável é recebê-lo. A cultura do “chefe que tudo sabe” cria uma barreira invisível, impedindo que ideias valiosas e perspectivas diferente cheguem ao topo. E, assim, decisões que poderiam ser enriquecidas pela sabedoria coletiva acabam sendo fruto de uma visão única – que, por falta de outros olhares, pode chutar bem longe do gol.
Esse isolamento não é apenas um drama pessoal; é um risco para as organizações. Líderes isolados são mais propensos a erros de julgamento, visão em túnel (perda da capacidade de enxergar o que está ao lado) e burnout. A empresa tem um risco muito maior de derrotas quando seu timoneiro está sozinho no leme.
A solução? Humanizar a liderança. Desconstruir o mito do líder infalível. Criar espaços seguros onde os que estão no topo possam compartilhar incertezas, buscar conselhos e, sim, até admitir erros. É preciso uma mudança de cultura que valorize a vulnerabilidade como força, não fraqueza.
Enquanto a inteligência artificial não me desmentir, líderes são humanos, afinal. E, como todos nós, precisam de conexão, apoio e a liberdade de não ter todas as respostas. Só assim poderemos transformar a solidão no topo em uma sinfonia de liderança compartilhada, onde o peso das decisões é distribuído.
E o sucesso é verdadeiramente de todos.
Este texto é a Carta ao Leitor da edição 94 (outubro/novembro) da Você RH. Clique aqui para conferir outros conteúdos da revista impressa.