Prêmio de assiduidade nas empresas: prática vale a pena?
Benefício que recompensa a presença pode motivar as equipes, mas também levanta questões sobre saúde, equilíbrio e cumprimento do contrato de trabalho.

Recompensar funcionários que não faltam ao trabalho. A prática do prêmio de assiduidade, também chamado de prêmio de presenteísmo, é simples e muito comum em algumas organizações, especialmente nas áreas de operação fabril, logística e varejo. Mas, ainda que pareça uma estratégia motivacional eficaz, o tema tem provocado reflexões sobre impactos reais na equipe e na cultura organizacional.
Para a especialista em RH Mônica Ramos, a questão vai além do aspecto financeiro. “Reconhecer a dedicação é positivo, mas precisamos avaliar se o incentivo não acaba estimulando que as pessoas venham trabalhar mesmo doentes ou exaustas, colocando a saúde física e mental em risco”, alerta. “Quando o foco é apenas ‘não faltar’, o colaborador pode se sentir culpado por necessidades legítimas de afastamento, gerando estresse, ansiedade e até queda na produtividade”.
Outro ponto questionado por ela, que também é psicóloga, é a prática de premiar uma obrigação do funcionário, que é cumprir sua jornada conforme estabelecida no contrato de trabalho. “Ao oferecer um prêmio por presença, a empresa corre o risco de valorizar algo que já faz parte das responsabilidades do trabalhador”. O engajamento também pode enfraquecer, impactando a percepção de justiça dentro da companhia. “Se um colaborador precisa se ausentar por motivos médicos ou pessoais, ele pode se sentir penalizado, enquanto outros que não têm esses impedimentos recebem o prêmio. Isso pode gerar desconforto e afetar o clima organizacional”.
Políticas complementares
Para equilibrar motivação e cuidado com o bem-estar, a especialista em RH sugere políticas complementares: programas de saúde, acompanhamento psicológico, flexibilidade no trabalho e incentivos que considerem não apenas a presença física, mas também a qualidade da entrega. “Um ambiente corporativo saudável entende que produtividade não é sinônimo de presença ininterrupta”. Para Mônica, reconhecer esforço, dedicação e resultado é mais eficaz do que premiar apenas quem ‘não falta’.
“O tema, portanto, não se resume a uma questão de direito ou obrigação. Ele toca diretamente na cultura da empresa, na valorização do colaborador e no equilíbrio entre motivação e respeito à saúde”, ressalta ela, lembrando que incentivos funcionam melhor quando apoiam o bem-estar, não apenas a presença.