“Fomos criados para acreditar que, se nos esforçássemos o suficiente, poderíamos ganhar no sistema — do capitalismo e da meritocracia”, diz Anne Helen Petersen, autora de Não Aguento Mais Não Aguentar Mais (HarperCollins Brasil). Assim, segundo ela, convencemos profissionais de que as péssimas condições de trabalho são normais e de que se rebelar contra isso é sintoma de uma geração mimada.
Trabalhar mais horas do que antes, estar constantemente conectado, usar todos os períodos livres para produzir, deixar de almoçar para participar de uma reunião — tudo isso passou a ser rotina para diversos profissionais. “Vejo muitos discursos simpáticos, com falas do tipo ‘nós nos preocupamos com saúde física e emocional’, mas na prática isso não acontece”, diz Rafael Souto, presidente da consultoria Produtive.
Nesse cenário, todos perdem. Os profissionais, exaustos e desmotivados, deixam de produzir, procuram outro emprego. O clima na empresa pesa, não há espaço para a criatividade e a inovação — e o futuro dos negócios fica comprometido. Veja o preço que as companhias pagam pela cultura do excesso de trabalho, segundo Rafael Souto.
1. Menos inovação
Quando as pessoas não têm momentos de pausa, a criatividade fica em segundo plano. Afinal, as novas ideias surgem quando há tempo para reflexão e troca entre as pessoas. Sem inovar, a empresa se torna burocrática e centrada no cumprimento de metas. É como se o negócio entrasse no piloto automático.
2. Clima pesado
O trabalho em excesso deixa as pessoas nervosas, impacientes e mais agressivas. Isso se reflete no clima organizacional e tem impacto na felicidade.
3. Foco no curto prazo
Sem tempo para pensar no futuro, a empresa começa a funcionar apenas para atender as demandas momentâneas e as urgências. Assim, até os processos de gestão de carreira, como o desenvolvimento de sucessores, ficam comprometidos, já que o líder não encontra tempo para preparar sua equipe. Isso pode prejudicar, inclusive, a competitividade da companhia.
4. Fuga de talentos
Com um ambiente ruim, os talentos começam a buscar outras alternativas de carreira, e a empresa perde a atratividade, prejudicando a marca empregadora. Ninguém quer trabalhar em um lugar que não valoriza a qualidade de vida.
5. Mais afastamentos
A produtividade sem limites gera transtornos como burnout, depressão e ansiedade crônica. Além de comprometer a saúde dos funcionários, os excessos trazem mais gastos à empresa.
Fonte: Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de planejamento e transição de carreira
Este trecho faz parte da edição 77 da VOCÊ RH (dezembro/janeiro).