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Álvaro Machado Dias

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Álvaro Machado Dias é neurocientista, professor livre-docente da Unifesp e sócio da Human Factor, empresa de recrutamento e seleção com uso de inteligência artificial e metaverso
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As previsões que ninguém faz sobre o avanço da inteligência artificial

Valorização da liderança, explosão do empreendedorismo e enfraquecimento da TI: quem espera que a tecnologia vai nos mandar para casa irá se surpreender

Por Álvaro Machado Dias, colunista de VOCÊ RH
Atualizado em 4 abr 2023, 16h32 - Publicado em 3 abr 2023, 06h11
Três pessoas estão sentada ao redor de uma mesa. Duas mulheres e um homem, este último utiliza uma cadeira de rodas. Eles estão analisando algo na tela de um computador sobre a mesa
 (Pexels/Kampus Production/Divulgação)
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O

lançamento do GPT-4 reforçou as certezas de quem acredita que existe uma revolução tecnológica acontecendo e não simplesmente uma moda. O desempenho em tarefas cognitivas deu um salto estrondoso e mostrou que as novas IAs são capazes de coisas que transcendem a sua própria implementação, o que parece uma contradição, mas não é.

O que une GPT (ChatGPT, GPT-4, etc.), Google Bard, Llama (Facebook/Meta), Claude (Anthropic) e tantos outros é o fato de serem aplicações das lições contidas em um único paper, “Attention is all you need”, de 2017. Porém, como sempre há uma distância muito grande entre teoria e prática, foram necessários cinco anos para que a coisa ganhasse momento.

Nestes anos todos, aprendemos que tudo o que essas ferramentas fazem é determinar a próxima palavra, em uma sequência que não lhes são irrelevantes, a qual entendemos como texto. Pois essa perspectiva encontra-se em xeque, na prática.

As coisas que o GPT-4 é capaz de fazer não podem ser explicadas meramente dizendo que ele estima a próxima palavra em sequências que não têm sentido para si. Pelo contrário, o algoritmo é plenamente capaz de extrair o sentido de uma narrativa e aplicá-lo em outra, ou de reescrever uma história a partir de um novo ponto de vista, implementando todas as consequências lógicas da mudança, o que só é possível quando começo, meio e fim estão integrados semanticamente.

Na minha visão, o que estamos observando é o surgimento de propriedades emergentes da expansão da complexidade, isto é, capacidades imprevistas, surgidas em função da mera ampliação no número de parâmetros (correlato de sinapses cerebrais) da IA. Outras propriedades emergentes incluem a capacidade de prospectar intencionalidade (Teoria da Mente), a de demonstrar teoremas matemáticos, a ironia e o humor. Como todas essas IAs são muito parecidas, é esperado que propriedades emergentes surjam em todas.

A importância desse raciocínio não pode ser subestimada. As pessoas têm que parar de achar que elas estão se relacionando com uma espécie de papagaio digital e entender que estão tratando com um novo ente cognitivo, que vai ganhar dezenas de novas e imprevisíveis propriedades emergentes, enquanto seguir sendo turbinado.

Pensando a vida empresarial dos próximos cinco, seis anos, sob este ponto de vista, chego a conclusões um pouco diferentes daqueles que estão sendo divulgadas por aí.

Valorização das lideranças

A importância das lideranças empresariais, CEOs, diretores, founders, chefes de serviços médicos etc. vai crescer. A IA é uma atuadora, que faz com que muito mais impacto seja gerado com muito menos esforço e tempo. Porém, ela sempre pode dar vazão a alguma propriedade emergente indesejada, como as já famosas alucinações. Logo, líderes irão se tornar ainda mais valorizados, já que suas responsabilidades irão crescer pela inclusão a IA. Salários, prestígio, etc., devem vir junto, tal como a aparição de teses e métodos no campo da liderança.

Explosão no empreendedorismo

O debate público está todo centrado na questão da substituição dos trabalhadores pela IA, o que está absolutamente certo. Porém, a parte que está sendo ignorada é que há uma demanda estratosférica de tecnologia, que segue represada. O fato de as novas IAs permitirem a criação de softwares quase sem programação deverá destravá-la, levando ao nascimento de uma miríade de soluções digitais, as quais virarão empresas.

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Empreender será mais fácil do que nunca, o que deverá influenciar a cara do capitalismo tecnológico. Nas grandes empresas, a incorporação de serviços de terceiros será uma realidade muito mais comum do que hoje em dia; no limite, a própria distinção entre funcionário e empreendedor deve se tornar menos evidente.

Enfraquecimento da TI

Departamentos de tecnologia irão se tornar menos importantes e misteriosos. Essa previsão é tão contraintuitiva quanto a de que a IA pode fazer coisas incompatíveis com os preceitos da sua implementação. E tão significativa quanto ela. Hoje em dia, TI é sinônimo de complexidade burocrática: regras de serviços (SLAs), segurança da informação, implantação de softwares nos servidores, etc. As coisas não são assim por idiossincrasias profissionais, mas pela necessidade de equalizar os princípios de gestão e compliance que se aplicam à área. A inteligência artificial vai automatizar tudo isso e permitir que qualquer um execute uma sequência de ações tecnológicas, meramente escrevendo o que quer, na interface da IA customizada da empresa. Do outro lado, algoritmos irão garantir que os processos sigam à risca as diretrizes estabelecidas.

Um segundo aspecto que sugere enfraquecimento da TI em função da revolução da IA é o fato de que todos os departamentos, no fundo, serão de tecnologia. Em pouco tempo, vai se tornar impensável contratar alguém que não entenda nada do assunto. Essa mudança deve impulsionar os cursinhos de formação complementar em IA, assim como MBAs e o resto da cadeia de produção de conhecimento corporativo.

Como sempre, quem espera que a tecnologia vai nos mandar para casa irá se surpreender.

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