Entrevista: Ricardo Burgos, VP de Pessoas e Segurança do Grupo Amil
O executivo explica como transformar estresse em cuidado e engajamento dentro das empresas de saúde.
No Grupo Amil, cuidar do bem-estar emocional dos colaboradores é uma atividade que ganhou força principalmente durante a pandemia, quando sobrecarga de trabalho, perdas e situações de alta pressão escancararam os impactos do estresse e do desgaste emocional no dia a dia dos profissionais.
Ricardo Burgos, vice-presidente de Pessoas e Segurança, acredita que ouvir, acompanhar de perto e estruturar apoio completo (físico, psicológico, financeiro e até espiritual) faz toda a diferença. Ele confessa que muito da sua visão de liderança vem do futebol, esporte que praticou a vida inteira: “Aprendi disciplina, resiliência, trabalho em equipe e como lidar com pressão. Isso me ajuda até hoje a entender pessoas e formar conexões fortes com meus times”. Para Ricardo, essa combinação de experiência esportiva e vivência na linha de frente da saúde permite criar programas que apoiam o colaborador de forma integral, fortalecendo a cultura interna e tornando o ambiente de trabalho mais humano e acolhedor.
É o que você vai ler na entrevista a seguir.
Como o Grupo Amil estruturou sua atuação em saúde mental e qual o papel da área de pessoas nesse processo?
A pandemia mostrou que precisávamos de cuidado integral. Estruturamos uma área de saúde e segurança robusta, com suporte psicológico, psiquiátrico, financeiro, emocional e espiritual. Criamos rodas de conversa, programas de guardiões voluntários e equipes de RH presentes nas unidades, garantindo acompanhamento constante. Nosso objetivo é tratar o colaborador de forma holística, ouvindo e oferecendo suporte em todos os aspectos da vida profissional e pessoal.
Vocês desenvolveram uma metodologia própria baseada na NR-1. Como ela funciona na prática?
O programa integra médicos, técnicos, assistentes e líderes das unidades. Partimos do PCMSO (Programa de Controle de Medicina e Saúde Ocupacional) para avaliar riscos e necessidades específicas. A partir daí, definimos ações de suporte mental e físico adaptadas a cada realidade, como sessões de ioga, ginástica laboral, acompanhamento psicológico, avaliação psicossocial e check-ins frequentes com as equipes.
Quais foram os maiores desafios durante a pandemia?
O desafio era lidar com o estresse extremo e a incerteza diária. Colaboradores enfrentaram jornadas intensas, contato direto com óbitos e famílias em luto, além de ausência de protocolos claros no início da crise. Isso exigiu programas estruturados de suporte contínuo e atenção à saúde mental, muito além do que a legislação tradicional demandava.
Como engajar as lideranças para que saúde mental seja uma prioridade?
Primeiro, é preciso profissionalizar as lideranças. RH, TI, suprimentos e saúde precisam estar preparados para lidar com extremos do cotidiano humano. Segundo, a empatia de profissionais de saúde facilita o diálogo. Criamos espaço constante para conversa e acompanhamento, tornando a pauta natural e integrada à rotina de gestão.
Que impactos culturais você percebeu com essa abordagem?
A pandemia evidenciou que a cultura organizacional é o que sustenta a entrega da missão. Valores como empatia, acolhimento e propósito garantiram que a empresa mantivesse operações críticas, mesmo diante de mudanças administrativas complexas. A cultura se tornou o alicerce que mantém equipes unidas e comprometidas.
Como saúde, segurança e meio ambiente se integram na prática?
Para nós, essas áreas são inseparáveis. Um ambiente seguro fisicamente precisa ser seguro emocionalmente e ambientalmente. Avaliamos todos os riscos ocupacionais e criamos ações integradas, garantindo que cada colaborador esteja protegido de forma completa, incluindo transporte, ergonomia, suporte mental e físico.
Há acompanhamento específico para setores críticos como resgate e pronto atendimento?
Sim. Nesses setores, o estresse é diário e intenso. Temos check-ins constantes, suporte psicológico imediato, descompressão após eventos críticos e monitoramento de fatores externos que afetam o colaborador. As ações são adaptadas à realidade de cada unidade, garantindo eficácia e relevância.
Qual o papel da diversidade e inclusão nesse contexto de bem-estar?
Diversidade e inclusão são parte do cuidado integral. Temos colaboradores trans, pessoas com deficiência, grupos de diálogo e linhas de atendimento especializadas. Isso fortalece o engajamento, melhora a segurança psicológica e cria um ambiente acolhedor, refletindo na produtividade e no comprometimento das equipes.
Como o impacto dessas ações é medido?
Usamos questionários psicossociais, indicadores de engajamento, absenteísmo, rotatividade e desempenho, além de feedback qualitativo. Isso permite ajustar programas continuamente e garantir que ações sejam eficazes e alinhadas às necessidades das unidades.
Há diferenças entre tipos de unidades em termos de suporte necessário?
Sim. Cada unidade tem suas particularidades. Hospitais grandes enfrentam desafios diferentes de clínicas menores ou do call center. Por isso, ações de suporte mental, logístico e físico são personalizadas para cada realidade, garantindo relevância e efetividade.
Que conselho você daria a empresas que estão começando com programas de saúde mental?
Estruture uma área integrada de saúde, segurança e meio ambiente. Crie um Programa de Apoio ao Colaborador genuíno, robusto e contínuo, baseado em dados e adaptado à realidade de cada unidade. Escute os colaboradores, identifique riscos internos e externos e esteja pronto para agir rapidamente.
Sua experiência no esporte influencia sua liderança e cuidado com pessoas?
Sim. O futebol me ensinou disciplina, resiliência e trabalho em equipe. Entender pessoas e formar conexões é essencial, tanto no esporte quanto na gestão de equipes complexas. Isso ajuda a lidar com pressão e criar um ambiente empático, mesmo em situações extremas.
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