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Esta CEO quer trazer inclusão e qualidade de vida ao mundo da publicidade

A missão da paulistana Márcia Esteves, à frente da agência de publicidade Grey Brasil, é tornar a companhia mais inclusiva e diversa

Por Alexa Meirelles, da VOCÊ RH
Atualizado em 15 dez 2020, 10h25 - Publicado em 4 set 2019, 06h00
“Liderar é nutrir, inspirar e aprender com as pessoas que estão com você”, Márcia Esteves CEO da agência de publicidade Grey  (Foto: Germano Lüders/VOCÊ RH)
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No mundo da publicidade, a inclusão ainda está engatinhando. De acordo com uma pesquisa feita pelo Meio & Mensagem divulgada no início deste ano, as mulheres ocupam apenas 14% das posições de liderança nas agências do Brasil — em 2015, o percentual alcançava 6%.

A paulistana Márcia Esteves está nesse (ainda) pequeno grupo. CEO da Grey Brasil desde 2014, ela é avessa a hierarquia e acredita que seja papel da liderança trazer a diversidade de gênero, etnias, credos e pensamentos para dentro das empresas.

Como é ser líder e mulher no mercado publicitário, ainda majoritariamente masculino?

Liderar é nutrir, inspirar e aprender com as pessoas que estão com você. Eu sou uma das poucas mulheres CEOs de agências hoje. Esse movimento tem crescido, mas ainda é algo muito pequeno dentro do universo inteiro. Por um lado, é um desafio de complementariedade: como eu mostro que é o diferente? Por outro, é um desafio de inspiração, de ajudar a abrir caminho para que novas mulheres vejam que liderar no ramo da publicidade é possível.

Há muita responsabilidade e humildade por trás disso, de aprender por que, de alguma forma, eu sou sempre diferente. Quanto mais diverso, mais rico o ambiente. Não só em resultado de negócio, mas em ideias, ainda mais num setor como o nosso, que lida com criatividade. Meu papel é sair da fala e colocar isso em prática.

Como trazer essa diversidade para a agência?

Em 2016 nós contratamos uma consultoria focada em pessoas para nos ajudar a definir qual seria nossa cultura. Foi um processo intenso, de um ano, em que eles escutaram 100% dos funcionários que estavam aqui. Naquele momento, entendemos que gostaríamos de ser uma agência que cria condições para as pessoas e para nossas marcas.

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E isso passava por um processo muito importante de sermos melhores internamente. Por exemplo: estamos em São Paulo, que não representa o Brasil inteiro. Mas eu faço comunicação para nossas marcas de todo o país. Então passamos por um processo de atrair pessoas de outras regiões. Misturamos e aprendemos muito.

Qual foi a etapa seguinte?

O mercado publicitário, como a maioria, sempre teve um processo de seleção por currículo, mas isso não consegue traduzir muita coisa. Nós fazemos parte de um negócio que é feito por gente, para gente. Eu não tenho uma produção, uma máquina que crie ideias, que gere insights. Percebemos que tínhamos pessoas da mesma classe social, com o mesmo repertório — embora vindas de outros estados. Então começamos a buscar parcerias. A primeira foi com a Faculdade Zumbi dos Palmares, focada em estudantes de baixa renda.

Passamos um ano estruturando essa parceria, porque criar condição não é só falar “entra aqui e está tudo certo”. Pensamos como faría­mos com o horário de trabalho e o deslocamento, além de criar condição para que essas pessoas se inserissem e se desenvolvessem vindo com um repertório diferente. Elas começam como estagiárias, mas quero que assumam um papel de liderança — como todos aqui. Estamos estudando como incluir profissionais com autismo e surdez. É um dever e obrigação de todo e qualquer líder, especialmente no Brasil.

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Qual é seu estilo de liderança?

O papel do líder é servir. Estou aqui para criar condições para essas 200 pessoas se desenvolverem e assumirem minha cadeira — ou a cadeira que desejarem. Quero que tenhamos um objetivo comum, mas preciso emprestar meu ombro para que todo mundo encontre seu objetivo individual. Não sei dizer como outros líderes devem ser, não sou uma CEO, na verdade eu sou a “Marcinha”, uma mulher absolutamente comum, que tem o privilégio de tentar transformar essa agência, a vida e a família dos que estão aqui dentro.

Eu não acredito em hierarquia. Quanto mais você hierarquiza uma companhia, mais distante você fica de quem está ali no dia a dia, tocando, executando e cuidando. Quando se tem uma gestão colaborativa, não precisa de cargo. As pessoas têm voz ativa por ter conhecimento de causa.

Quando pensamos em publicidade, vem aquela imagem do seriado Mad Men, com as pessoas trabalhando o dia inteiro, dormindo na agência, se alimentando mal… Como você garante que seus funcionários tenham qualidade de vida?

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Lidamos com criatividade, e como vamos ser criativos com profissionais que não saem do mesmo lugar, que dormem mal, que se alimentam mal, que não se encontram com a família, que não têm lazer, que não têm tempo para ler um livro? É contraditório. Dependo de uma disciplina operacional de toda a equipe para que as coisas sejam entregues na velocidade necessária, no prazo necessário, e isso requer uma produtividade diferente. Mas é uma questão de se reeducar. A partir das 19h30, 20 horas, eu costumo passar nas mesas e falar: “Gente, vamos embora”.

Tive casos de pessoas que tinham acabado de entrar na agência e disseram: “Não, eu não posso ir embora tão cedo porque vocês vão achar que eu não estou fazendo nada”. E eu falei: “Não, é o contrário, é uma coisa errada se você estiver aqui até tarde”. É um processo educacional dos profissionais e das lideranças, que às vezes não estão preparados para isso e pedem muito mais do que é necessário. É muito importante que todos estejam juntos, porque mudança de cultura é um processo que leva tempo.

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