64% dos trabalhadores não recebem benefício de saúde mental no Brasil
Pesquisa do Zenklub divulgada com exclusividade por VOCÊ RH ainda revela que a maior parte dos brasileiros está ansiosa, sobrecarregada e exausta
Embora as discussões sobre saúde mental tenham aumentado nas empresas no último ano, impulsionadas fortemente pela pandemia de covid-19, ainda é preciso fazer muito para cuidar do bem-estar psicológico dos funcionários. É isso o que revela uma pesquisa feita pelo Zenklub, plataforma de saúde mental, em parceria com o DataFolha que ouviu 1.197 trabalhadores de todo o Brasil. Segundo o levantamento, 64% dos brasileiros não recebem nenhum tipo de benefício de saúde mental de suas empregadoras – mas 86% acreditam que essa prática ajudaria os funcionários a lidar com os impactos da pandemia.
Para o médico Rui Brandão, cofundador e CEO do Zenklub, a tendência é que a preocupação das companhias com a saúde mental se torne uma questão que vai influenciar os trabalhadores na escolha por uma vaga ou na permanência no emprego. “É urgente que líderes, gestores e profissionais de recursos humanos entendam a necessidade e criem ações. Quando acolhemos as pessoas em toda a sua complexidade, todos ganham”, diz Rui.
Uma das explicações para a maioria dos brasileiros ainda não receberem benefícios de saúde mental tem a ver com o fato de que esta ainda é uma discussão recente no mercado. “O tema não era abordado nas empresas até pouco tempo atrás. Havia um tabu: o ‘bom colaborador’ era aquele com mais habilidades técnicas e que não deixava as emoções aparecerem no ambiente profissional, ou seja, o que mais se parecia com uma máquina. Porém, as companhias começaram a notar casos de ansiedade, depressão e burnout no ambiente corporativo, entre outros problemas da mesma natureza”, explica Rui.
Epidemia de doenças mentais
A pesquisa do Zenklub traz índices preocupantes sobre o bem-estar emocional dos brasileiros: 66% dos entrevistados estão ansiosos, 61% se sentiram sobrecarregados nos últimos 12 meses de pandemia, 61% também estão exaustos ou muito cansados e 54% enfrentam insônia ou problemas para dormir. Esses dados indicam que muita gente está chegando – ou já chegou – ao limite.
“É muito sério quando a pessoa atinge o estágio de esgotamento mental. Suas tentativas de resolução já não deram certo, pois os sintomas físicos e psicológicos já estão interferindo em todas as áreas da vida. Por mais que exista cobrança de desempenho, a produtividade no trabalho começa a cair”, explica Daniele Nazari, psicóloga do Zenklub.
Os sintomas são variados (veja quadro abaixo), mas normalmente seguem um padrão. “Na vida pessoal, a pessoa deixa de cuidar de si mesma, não se preocupa com a aparência e, às vezes, nem com a higiene pessoal, devido ao esgotamento que já sente. Nos relacionamentos afetivos, familiares e amorosos acontece pouca interação e a pessoa pode até expressar uma linguagem mais agressiva, por não ter mais paciência”, diz Daniele.
Além disso, o problema é que quem está enfrentando uma doença mental nem sempre percebe que está nessa situação – por isso é tão importante que colegas e líderes treinem o olhar para ajudar aqueles que ficarem doentes. “Geralmente, quem percebe os sinais de esgotamento são as pessoas ao redor, por notarem que o indivíduo não está com suas características normais. A pessoa, mesmo adoecendo, tenta lutar contra o esgotamento devido à autocobrança e à sobrecarga de atividades que fizeram-na chegar a este estágio”, explica Daniele.
A psicóloga Daniele Nazari, do Zenklub, explica quais são os sinais que podem indicar que uma pessoa está no limite. Confira
FÍSICOS
– Dor de cabeça constante
– Dores no corpo
– Alergias na pele
– Problemas gastrointestinais
– Falta de ar
– Distúrbios do sono
– Perda de libido
– Falta de energia
PSICOLÓGICOS
– Ansiedade
– Depressão
– Mudanças bruscas de humor
– Insegurança
– Medo de perder o trabalho
– Sensação de não ser bom o bastante
– Lapsos de memória
– Baixa autoestima