Mudanças no PAT colocam empresas e trabalhadores como os protagonistas da vez
Com a modernização do programa e o mercado aberto, o setor deixa para trás o modelo engessado dos benefícios de alimentação que marcou a última década.
O recente decreto que moderniza o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) é muito mais do que uma atualização regulatória. Ele representa o ponto de virada de um modelo que, prestes a completar 50 anos, evoluiu tecnologicamente do papel ao chip, mas permaneceu economicamente engessado. Estamos, finalmente, encerrando uma engenharia financeira que, na prática, prejudicava justamente quem deveria ser o protagonista: o trabalhador.
Para entender a profundidade da mudança, podemos dividir a história dos auxílios vale-alimentação e vale-refeição em três grandes ondas.
A primeira foi marcada por essa engenharia, na qual a empresa que concedia os benefícios recebia um “cashback”, e quem pagava essa conta era o pequeno varejista, com taxas abusivas de até 10%. Este, por sua vez, repassava o custo para o preço final. No fim, o poder de compra do almoço do trabalhador era corroído para sustentar o sistema. E a essência do PAT, de garantir saúde alimentar, ficava fragilizada.
A segunda onda, mais recente, trouxe o trabalhador para o centro, mas criou uma nova distorção: ofuscou a empresa e colocou o fornecedor do benefício como a estrela da relação. O aplicativo era da operadora, a marca também. A organização, que de fato tomava a decisão e investia no seu time, ficava em segundo plano, perdendo uma valiosa oportunidade de fortalecer sua marca empregadora.
Na era do bem-estar corporativo
Agora, o decreto acelera a chegada da terceira onda, que resgata a essência do PAT e estabelece a relação correta de protagonismo absoluto entre a empresa e seu colaborador. Nessa nova configuração, o fornecedor (como nós) deve atuar nos bastidores. Fazendo uma analogia a uma peça de teatro, nosso papel é cuidar do som, da luz e da cortina, mas quem brilha no palco são os atores principais: a organização que se preocupa com seu time e o colaborador que se sente valorizado.
Esse novo momento também demonstra que hiperpersonalização e liberdade não são opostos. A empresa pode customizar a experiência, reforçar sua marca empregadora e criar vínculos mais fortes, enquanto o colaborador continua no controle – com total flexibilidade para escolher onde e como utilizar o benefício. Argumentos de que a abertura do mercado afetaria a “soberania nacional” ou a segurança são infundados, pois a tecnologia atual permite rastreabilidade e garante o uso do benefício para seu fim original com muito mais eficiência.
Esta terceira onda não é apenas sobre taxas menores. É sobre devolver mais de R$ 10 bilhões por ano à economia, tirando dos grandes conglomerados financeiros e colocando no caixa dos pequenos e médios varejistas. É sobre dar liberdade de escolha real ao trabalhador e, fundamentalmente, fortalecer a cultura e a relação de pertencimento entre empresas e suas equipes.
O decreto não é o fim da jornada, mas o início da consolidação de um mercado de benefícios mais justo, mais transparente e que finalmente coloca os protagonistas no centro do palco.
*Douglas Barrochelo é CEO da Biz.
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