Tolerância ao assédio: o erro que corrói a cultura organizacional
Saiba por que fechar os olhos para comportamentos inaceitáveis enfraquece lideranças, reduz engajamento e compromete a retenção de talentos.

Em qualquer treinamento ou palestra sobre comportamento no trabalho, ouvimos que o assédio é inaceitável. Mas, no entanto, ele continua acontecendo: situações de constrangimento, pressão indevida, chantagem emocional e abuso de poder ainda se repetem com frequência em diversas empresas, e o pior é que, muitas vezes – mesmo após uma vítima dizer claramente “não” –, o comportamento persiste.
Isso mostra que o problema não está apenas na falta de conhecimento sobre limites, mas na tolerância cultural que ainda existe em relação ao assédio. Afinal, falas só se tornam verdadeiras por meio de ação.
A tolerância ao assédio se manifesta de várias formas. Ela pode aparecer no silêncio de colegas que presenciam a situação, mas evitam intervir. Pode estar na minimização feita por gestores que relativizam o comportamento com frases como “ele é assim mesmo” ou “não foi por mal”. Pode surgir nas investigações internas que terminam com advertências brandas e nenhuma mudança de fato.
Quando a consequência para o agressor é nula ou insignificante, a mensagem transmitida é que é possível assediar e continuar tudo como antes.
O medo da vítima
Por trás dessa permissividade, há fatores psicológicos e culturais. Um deles é o medo. Medo da vítima de não ser acreditada, de sofrer retaliação ou de prejudicar sua carreira, e medo dos colegas de se envolver em conflitos e sofrer as mesmas consequências. Outro fator é a normalização de comportamentos abusivos, que podem ser vistos como “brincadeira”, “estilo de liderança” ou “coisa do ambiente competitivo”. Essa normalização é um terreno fértil para que o assédio se perpetue.
Do ponto de vista organizacional, a ausência de respostas rápidas e assertivas alimenta a sensação de impunidade. Investigar com agilidade, agir com firmeza e comunicar que atitudes abusivas não serão toleradas constituem passos fundamentais para quebrar esse ciclo. É preciso deixar claro que assédio não é apenas um problema individual, mas um risco sério para a saúde emocional das equipes, para a reputação da empresa e para a confiança interna.
O “não” de uma vítima deveria bastar. Mas, na prática, há sistemas e culturas que sustentam o comportamento abusivo, direta ou indiretamente. Romper essa lógica exige coragem e consistência. Coragem para ouvir, acolher e agir diante das denúncias, e consistência para aplicar as consequências sempre que necessário, independentemente do cargo ou do histórico do agressor.
O combate ao assédio não se resolve com cartazes na parede ou campanhas esporádicas. É uma construção diária, que envolve educação, responsabilização e mudança cultural. Quando o “não” finalmente passar a ser suficiente, teremos dado um passo decisivo para criar ambientes mais seguros, respeitosos e produtivos para todos.