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Edwiges Parra

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Psicóloga e professora de educação executiva da FGV, especialista em saúde mental corporativa e dependências tecnológicas
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As duas competências essenciais para desenvolver bons hábitos

Não se trata de falta de força de vontade: é preciso vencer as dificuldades cotidianas

Por Edwiges Parra
29 jun 2022, 06h24
Uma mulher está correndo uma maratona em uma rua vazia, apenas com uma pessoa na calçada
 (Pexels/Rosemary Ketchum/Divulgação)
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I

nicio este texto compartilhando uma vivência pessoal que gerou o insight para esta coluna. Realizei um grande objetivo: fazer a minha primeira maratona, que aconteceu em 12/06/22. Percorri 42,195 km em 3h51 min (sub4). Um filme passou em minha mente e uma das grandes lições foi desenvolver a capacidade de persistência e constância.

Essas competências possibilitam sermos produtivos, consistentes e disciplinados. O resultado permite incorporar bons hábitos para nossa saúde e bem-estar, e conseguimos levar esses aprendizados para nossa vida profissional.

Por que falar sobre adquirir bons hábitos? Porque, infelizmente, a humanidade carece de um estilo de vida que reúna uma rotina de atitudes para se tornar mais produtivo, tomar decisões melhores e desapegar-se de diversos tipos de vício. Construir relacionamentos mais saudáveis, seja no âmbito pessoal, seja no profissional.

O que inviabiliza as nossas tentativas de mudança? O que nos atrapalha? A resposta possível é que, na verdade, não entendemos o que de fato motiva nosso comportamento.

De acordo com a professora de psicologia e negócios da Universidade do Sul da Califórnia Wendy Wood, o problema é ainda mais complexo. Segundo Wood, precisamos parar de superestimar nosso eu racional e compreender que também somos constituídos por partes profundas.

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Uma analogia sobre isso é pensar nessas outras partes de nós como pessoas que esperam nosso reconhecimento — e aguardam nossas ordens para agir. 

Exemplos para reflexão

Quantas vezes nos colocamos objetivos, como economizar determinado valor até o final do ano, e a partir disso buscamos organizar o orçamento, tentar aprender um novo idioma de forma online, emagrecer, parar de fumar, diminuir a ingestão de álcool, vencer o sedentarismo, sair mais ou conhecer mais pessoas? O modus operandi funciona assim. No começo, as intenções foram mais fortes, apaixonadas, resolutas. No entanto, com o passar do tempo, não conseguimos manter esse compromisso. Resultado: o objetivo desejado simplesmente não aconteceu!

De acordo com Wood, que estuda há 30 anos como funciona o mecanismo humano de formação de hábitos, essa é uma experiência humana muito comum, na qual queremos realizar uma mudança e estabelecemos fortes intenções, e só por esse princípio deveria ser suficiente.

O que está contido nessa dinâmica cognitivo-comportamental é que tudo depende da força de vontade. Mas será que só tê-la é o suficiente para realizar uma mudança e se manter sustentável nela?

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Eu acredito que muitos de nós começamos alavancando essa força. A questão é que ela vai se perdendo como um combustível que não vai sendo reposto durante uma rotina de vida.

Fica difícil deixar de comparar nossa incapacidade de mudar com as realizações de quem persistiu em seus objetivos: atletas que treinam por horas todos os dias, músicos que se preparam durante meses para uma apresentação, escritores famosos que escrevem páginas e páginas sem parar até concluir seu projeto. Admiramos essas histórias e ficamos impressionados com esses feitos.

Na verdade, a questão não é ter força de vontade, e aqui empresto minha vivência na maratona, que funcionou para mim com um grande experimento, e comungo com uma das conclusões das pesquisas da professora Wendy Wood endereçadas para compreender os hábitos humanos, que esta deriva de padrões de repetições.

Em alguns casos, o que poderia ser melhor para realizar objetivos importantes de longo prazo é saber ignorar os debates mentais e começar a trabalhar. É exatamente para isso que servem os hábitos.

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Quando digo para os meus pacientes que precisam adquirir um estilo de vida saudável para melhorar as condições de saúde física, mas principalmente mental (exaustão mental, transtorno de ansiedade, depressão, burnout, compulsões etc.), introduzindo a prática de exercícios físicos diária é não pensar, e sim executar. Se parar para pensar e ouvir sua mente crítica, você vai fraquejar.

A própria ciência e nossa experiência já demonstraram que a mente forma hábitos naturalmente, tanto os inócuos quanto os que têm consequências mais sérias. Ou seja, a mesma mente com seus mecanismos de aprendizados são responsáveis por criar tanto os bons hábitos (os que estão alinhados aos nossos objetivos), quanto os maus hábitos, que trazem prejuízos a nossa vida e a dos outros também.

A persistência é a chave para a construção de bons hábitos

O que fazem as pessoas persistirem? O senso comum com base em pesquisas de comportamentos é de que a persistência exige atitudes fortes — fortes o bastante para que pessoas efetuem uma mudança e as mantenham a longo prazo.

Por fim, conclui-se que é o hábito que cria a persistência, e devemos concentrar nossa atenção e energia em saber como fazê-lo.

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Fortaleçam, caros os leitores, a capacidade de persistência com base nas atitudes funcionais que fortalecem a construção de bons hábitos para construir uma vida próspera, longeva e de satisfação.

Encerro pegando emprestado o pensamento de Samuel Johnson (1709-1784), escritor e pensador inglês conhecido por suas notáveis contribuições à língua inglesa, que traduz bem o tema desta coluna: “As diminutas correntes do hábito raramente são pesadas o bastante para serem sentidas, até se tornarem fortes demais para serem rompidas.”

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