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Vívian Rio Stella

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Doutora em Linguística pela Unicamp. Idealizadora, curadora e professora da VRS Academy, pesquisa e desenvolve trabalhos voltados à lifelong learning

Comunicação silenciosa: o que a empresa transmite sem dizer nada

Como um e-mail sem personalidade, o adiamento de uma reunião e onde fica a sala do chefe afetam pertencimento, produtividade e diversidade.

Por Vivian Rio Stella, colunista da VOCÊ RH
16 set 2025, 16h06
Ilustração de duas pessoas conversando com grandes balões de fala um ao lado do outro, em um fundo amarelo.
 (Yutthana Gaetgeaw/Getty Images)
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Muito se fala que a comunicação é a chave de tudo. Investimos tempo, energia e dinheiro aprimorando cada palavra, de campanhas para engajamento a newsletters, eventos, conversas, capacitações.

Só que, muitas vezes, os recados mais significativos das empresas podem ser dados nos não ditos, da arquitetura ao automatismo, nas conversas que não acontecem.

A isso, podemos chamar de comunicação silenciosa. São as mensagens que a empresa envia sem que ninguém precise abrir a boca. Elas moldam a cultura de maneira sutil, mas profundamente eficaz. Como bem disse Peter Drucker: “A coisa mais importante na comunicação é ouvir o que não está sendo dito”.

Esse silêncio pode ter diferentes sentidos, dependendo do contexto: pode ser de aprovação, de crítica, de indiferença ou até de desamparo. Convido você a dedicar seu tempo de leitura para compreender mais esses sinais, para entender a verdadeira essência das dinâmicas humanas na organização.

Pense no(s) espaço(s) de trabalho da empresa em que atua.  Ele é um espaço aberto, com mesas lado a lado, ou é uma colmeia de cubículos cinzentos? É uma área fabril, com espaços de descompressão e verde ao redor? Ou um escritório luxuoso, repleto de símbolos que mostram a influência da organização (e, por vezes, afastam quem não se sente parte disso).

Barreiras (quase) invisíveis da liderança

Lembro-me de uma empresa de tecnologia que se mudou para um prédio onde a sala da liderança era no último andar, separada por um elevador privativo. A mensagem era clara: a cúpula estava distante do dia a dia dos colaboradores. Em contrapartida, muitas startups de sucesso optam por escritórios onde os fundadores se sentam no meio da equipe. Isso não é apenas uma questão de espaço, é um mensagem clara sobre proximidade e acessibilidade.

Outro caso interessante é de uma empresa que contou com uma equipe de colaboradores influenciadores para fazer com que a mudança de sede da empresa fosse um momento de engajamento e pertencimento. Essas pessoas souberam e compartilharam em primeira mão as fases da reforma, os locais prediletos do entorno do novo endereço e opinaram sobre layout para que o espaço refletisse as dinâmicas de trabalho daquela cultura corporativa.

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A arquitetura do ambiente de trabalho é, portanto, um dos primeiros e mais poderosos exemplos de comunicação silenciosa.

Mas, mesmo em ambientes com um layout super cool e moderno, nem sempre as práticas do dia a dia são do mesmo modo.

Quando falta intenção no “como dizer”

Sabe aqueles e-mails automáticos que chegam à caixa de entrada, muitas vezes ignorados? Eles também carregam um peso cultural. Um e-mail de “boas-vindas” para um novo colaborador ou de despedida depois de uma demissão que é puramente protocolar, sem um toque de calor ou personalização, pode passar a impressão de que a empresa valoriza mais o processo do que as pessoas.

Agora, imagine um e-mail de “parabéns” pelo aniversário de casa, personalizado com um breve histórico das conquistas do colaborador na empresa. Essa simples automação, se bem-feita, comunica cuidado e reconhecimento. Está aí uma boa oportunidade para usar IA generativa para a humanização, de forma eficiente.

E o que dizer do sistema de feedback automático? Se a única comunicação que um funcionário recebe sobre seu desempenho é uma ficha cheia de critérios de avaliação, a mensagem é que ele é apenas uma métrica. Parece anedota de texto para coluna, mas já vi isso pelas minhas andanças em empresas… o que era para ser próximo vira distante e automático.

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Como as agendas vivem repletas de reuniões, não dá para não falar delas…

Reuniões em falta ou excesso

O que a empresa comunica quando uma reunião é cancelada sem motivo? Ou quando o intervalo entre as reuniões é inexistente, encavalando uma atrás da outra? O que é transmitido quando um líder está sempre presente em todas as reuniões, mesmo nas que não precisaria estar? E o que dizer das conversas importantes que simplesmente não ocorrem?

A ausência de reuniões cruciais ou a presença em excesso de encontros desnecessários são sinais de que a empresa pode estar desorganizada ou valorizar mais o “estar ocupado” do que o “estar produtivo”. Se as lideranças não investem tempo para falar sobre temas delicados, como a saúde mental, o feedback de desempenho ou as estratégias e os rumos do negócio, a mensagem é que esses assuntos não são importantes. “Bora fazer quando der tempo, a gente conversa…” O silêncio sobre questões sensíveis cria um ambiente de cobrança excessiva, sobrecarga, insegurança e até de desconfiança.

A comunicação silenciosa também se manifesta de forma gritante nas questões de diversidade e inclusão. Quando uma microagressão acontece em uma reunião e ninguém se manifesta, o silêncio da liderança e dos colegas reforça que aquele tipo de comportamento é aceitável. Da mesma forma, a ausência de pessoas de grupos minorizados em cargos de liderança ou em mesas de decisão envia a mensagem de que, apesar de todos os discursos, a representatividade não é uma prioridade real. Os benefícios corporativos que não consideram realidades diversas, como a licença-paternidade estendida para casais LGBTQIA+, ou um plano de saúde que não cobre cirurgias de redesignação de gênero, comunicam que a diversidade é uma palavra da moda, mas não um valor.

Esses silêncios têm um peso enorme na percepção de segurança psicológica. Pesquisas de grandes consultorias, como o Gartner, indicam que a falta de confiança e a sensação de insegurança são diretamente ligadas a baixos índices de engajamento e alta rotatividade. Um ambiente no qual as pessoas sentem que suas identidades e experiências não são acolhidas é um terreno fértil para o burnout e a desconexão.

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O que podemos fazer?

Para profissionais de RH e aprendizagem, a tarefa é dupla: primeiro, devemos aprender a ler esses sinais silenciosos para entender a cultura que realmente existe na empresa. E, segundo, devemos ser arquitetos de uma comunicação silenciosa mais intencional e positiva.

Nem sempre vai ser possível mudar a cor das paredes, criar espaços verdes ou reformular o dia a dia das áreas, mas aqui estão alguns caminhos e boas práticas para transformar o que é transmitido sem palavras:

  • Olhar e escutar com atenção: Dê uma volta pela empresa. O que o layout, as cores e as interações informais dizem sobre a cultura? Converse com as pessoas, mas também preste atenção no que não é dito.
  • Revisar os pontos de contato: Analise os e-mails e tudo o que for automático, de documentos de integração a modelos de feedback ou manuais. Eles estão alinhados com os valores que a empresa diz ter? Senão, invista em um plano de reformulações.
  • Capacitar a liderança: Ajude os líderes a entender o poder do silêncio e a importância de uma comunicação consistente e transparente, continuada, mesmo nas pequenas interações do dia a dia.
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  • Promover os espaços de conversa: Crie momentos para que as conversas importantes aconteçam. Seja com reuniões one-on-one (um a um) regulares, caixas de perguntas anônimas ou canais de comunicação abertos. O objetivo é mostrar que a empresa está disposta a ouvir, mesmo o que é difícil de ser dito.
  • Sustentar projetos de diversidade, com investimentos contínuos em treinamento, grupos de afinidade, mentorias e políticas de contratação inclusivas, é uma das formas mais poderosas de comunicação silenciosa positiva. Ao manter esses projetos vivos, mesmo em períodos de dificuldade, a empresa mostra que o compromisso é genuíno.

A comunicação silenciosa está em todo lugar, moldando a experiência de cada colaborador. Ignorá-la é como tentar entender uma melodia ouvindo apenas a letra, e não a música. Ao decifrar o que a sua empresa diz sem palavras, é possível construir ou reformular, ainda que pouco a pouco, uma cultura mais autêntica, na qual a mensagem real está alinhada com a oficial. Coerência e conexão mudam tudo, e é no silêncio que podemos atuar em prol desses dois pilares da comunicação corporativa.

E na sua empresa, qual silêncio fala mais alto?

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