A presença de mulheres CEOs no Brasil dobra, mas desafios persistem
Apesar do avanço lento em relação à liderança feminina, e até de retrocessos, elas vêm ganhando espaço na chefia. Conheça histórias de quem chegou lá.

A representação de mulheres CEOs em grandes companhias foi de 3% a 6% em cinco anos, segundo pesquisa da Bain & Company. Embora ainda tímidos, os números revelam que elas vêm se multiplicando no alto escalão corporativo. No mesmo período do levantamento, feito entre 2019 e 2024, a presença feminina em posições executivas e em conselhos chegou a 34% e 10%, respectivamente. Hoje, 37% dos cargos de liderança sênior são ocupados por mulheres, porém, em posições de CEO, elas ainda são 17%. A seguir, confira breves relatos e ensinamentos de quem venceu barreiras – e segue vencendo – em diferentes áreas do país.
“Confiança se conquista com presença, consistência e estratégia”
Para Carolina Fernandes, CEO e fundadora da Cubo Comunicação, hub phygital de marketing e comunicação, ocupar um cargo de liderança como mulher envolve equilibrar excelência técnica com posicionamento ativo. Ao longo de sua trajetória, a executiva aprendeu que confiança não é concedida, especialmente em ambientes corporativos predominantemente masculinos. “Ela é construída com presença, consistência e comunicação clara e estratégica”.
“Ser líder é, antes de tudo, assumir a responsabilidade de abrir caminhos para outras mulheres. Isso passa por ocupar espaços com segurança, compartilhar conhecimento e incentivar a confiança em si mesma e nas outras”, afirma carolina, que estruturou na Cubo uma operação que alia estratégia, performance e personalização.
“Escuta ativa e coragem para transformar”
Para Fabiana Ramos, CEO da Pine, plataforma de comunicação, ser mulher em posição de liderança ainda exige navegar por estruturas que, em muitos contextos, não foram desenhadas para acolher perspectivas femininas. Ao longo de sua trajetória, que inclui mais de 20 anos de atuação no mercado e passagens por multinacionais, a executiva aprendeu que liderar é assumir responsabilidade não apenas pelo negócio, mas também pelo impacto humano das próprias decisões.
“Como mulher, aprendi que liderança também é fazer perguntas, sustentar conversas difíceis, dar espaço para outras vozes e transformar estruturas que não favorecem a diversidade”, afirma. Segundo Fabiana, ser uma líder autêntica passa por mostrar vulnerabilidades, construir repertório e incentivar outras mulheres a ocuparem seus espaços. “Não existe prontidão absoluta para liderar; existe compromisso com o aprendizado contínuo, com o time e com o legado que se quer deixar.”
“Networking: a vulnerabilidade como um ativo”
Para Laís Macedo, fundadora e presidente do Future Is Now, grupo de networking voltado a líderes, essa rede de articulação é um passo importante para formar um futuro mais conectado, colaborativo, próspero, plural e sustentável: “características essenciais para um bom líder atualmente”, diz. Com mais de 15 anos de experiência na área, a profissional defende que comunidades de networking trazem benefícios variados para executivos como ampliação de repertório, trocas estratégicas e fora do comum, acesso a oportunidades exclusivas, aperfeiçoamento em setores pouco conhecidos e aprendizado contínuo com outros especialistas.
“Hoje, o networking mudou. Precisamos realmente estar presentes, imersos e abertos para as conexões”, afirma a executiva, que costuma ressaltar a vulnerabilidade como um ativo importante nesse meio, pois, “quando nos permitimos ser genuínos, nos conectamos em um nível mais profundo”. Laís explica que é justamente nesta hora que as redes de relacionamento podem ser, de fato, construídas. “É o momento que os grandes líderes – empáticos, parceiros e colaborativos – se formam”, completa.
“Protagonismo feminino no mercado masculino”
Para Ana Carolina Gozzi, co-CEO do Compre & Alugue Agora, plataforma que conecta profissionais do setor imobiliário a clientes potencias, liderar uma startup neste ramo historicamente masculino é um desafio. “Queremos transformar a forma como as pessoas se conectam com este mercado e isso passa, necessariamente, por diversidade”.
A presença de mulheres na chefia, segundo ela, contribui para um atendimento mais humanizado e assertivo. “Temos habilidades essenciais como comunicação eficaz e empatia”. E elas já vêm redesenhando áreas como corretagem, arquitetura, engenharia e gestão imobiliária. “Liderança feminina não é apenas ocupar um cargo. É propor novos caminhos, inovar com propósito e mostrar, na prática, que é possível fazer a diferença com consistência e visão estratégica”.
“Autenticidade e posicionamento claro”
Para Giuliana Bernardo, diretora nacional de vendas do Grupo Heineken, a indústria e o varejo, especialmente na área de vendas, ainda são territórios a serem desbravados pelas mulheres. Por isso, acredita que cada trajetória conta (e muito!) para abrir caminhos. “Manter a autenticidade e ter posicionamento claro são chaves para construir autoconfiança”, diz ela, que acredita que a liderança seja feita de pequenas batalhas diárias. “E é nelas que a gente se fortalece”.
Entre suas principais dicas está a construção de uma rede de apoio que possa reconhecer pontos fortes e evoluir nos desafios mais críticos. “Busquem referências e cultivem conexões com pessoas que possam apoiar e advogar por você. Eu mesma tive mentores, equipes e até clientes que me ajudaram a enxergar meu potencial e a crescer profissionalmente”.
Na Heineken, a meta é chegar na proporção de 50% de mulheres em cargos de liderança em diferentes áreas até 2026. “Isso é compromisso com a transformação cultural, que começa na base, com desenvolvimento técnico, oportunidades afirmativas e um pipeline de sucessão cada vez mais robusto para que as mulheres possam alcançar posições de decisão”, comenta a executiva.
“Responsabilidade de abrir portas para outras mulheres”
Para Talita Castro, CEO do PiniOn, empresa de pesquisa de mercado especializada em dados competitivos e comportamentais, ocupar um cargo de liderança como mulher significa uma oportunidade para fortalecer a diversidade no ambiente corporativo. Com mais de uma década na companhia, onde consolidou sua atuação em posicionamento estratégico em vendas e gestão, sua liderança é pautada pela inovação e pelo uso inteligente de dados para impulsionar negócios.
“Ser líder requer unir visão estratégica e capacidade de adaptação. O mercado exige inovação constante, e transformar informações em decisões precisas é o que permite conquistar espaço e expandir”, relata a executiva. “Mas, acima de tudo, liderar é assumir a responsabilidade de abrir portas para outras mulheres, compartilhando conhecimento, inspirando confiança e construindo um ambiente mais diverso e inclusivo”.
“Confiar na própria capacidade”
Para Nara Iachan, cofundadora e CMO da Loyalme, a startup da Cuponeria que oferece soluções de fidelização, ser executiva no Brasil exige coragem para explorar o desconhecido, aprender com os erros e, acima de tudo, confiar na própria capacidade. “Construir uma rede de apoio feminina é um passo mais do que importante – ter mulheres em cargos de CEO, CMO, gerência ou qualquer outra posição de liderança não é só uma referência para aquelas que ainda estão trilhando o caminho, mas também um espaço para trocar experiências e discutir desafios comuns”, diz Nara. “É essa conexão que nos fortalece e nos impulsiona a continuar avançando”.
“Inteligência emocional e ferramentas iguais para todos”
Para Fernanda Loureiro, CEO da Droom Investimentos, plataforma de aplicações financeiras, a inteligência emocional e a organização interna são essenciais para gerir equipes com excelência. Ao longo dos 32 anos de carreira, a executiva desempenhou funções de gestão, governança corporativa, estratégia de soluções, consultoria empresarial e desenvolvimento de novas lideranças.
No mercado de investimentos, a executiva atua em setor ocupado, sobretudo, por homens. “Para construir um espaço de trabalho colaborativo e pautado na equidade é imprescindível assumir uma atitude gregária, criando um ambiente em que cada profissional tenha espaço e ferramentas para participar ativamente dos processos”, acredita.
“Resiliência e colaboração entre equipes”
Para Lisandra Branco, fundadora e CEO da S8 Capital, especializada em soluções financeiras de alto impacto, seu papel é equilibrar a gestão empresarial com a criação de redes colaborativas que promovam o crescimento sustentável dos negócios e a inclusão. Com mais de 15 anos de experiência no setor, a executiva é especialista em negociação e resolução de conflitos, liderando estratégias de negócios globais.
A resiliência, para ela, é a característica principal da liderança. “É essencial trabalharmos na promoção de um ambiente corporativo que permita a colaboração entre equipes e agregue novas visões à empresa, a partir da escuta ativa e da capacidade de se adaptar”.