Adaptação no processo seletivo para contratar mais de 180 indígenas
37% dos profissionais de uma unidade da Bracol são da etnia Guarani, alguns em cargo de liderança. Neste Dia dos Povos Indígenas, conheça a iniciativa.
Os indígenas representam 1% dos trabalhadores nas maiores companhias brasileiras. Desses, apenas 0,1% ocupam cargos de liderança, de acordo com pesquisa do Instituto Ethos, feita em 2023. Restrita ao trabalho informal, essa população – que hoje, 9 de agosto, celebra o Dia Internacional dos Povos Indígenas – está longe de ter presença significativa no mercado de trabalho.
No entanto, na contramão das estatísticas, a Bracol, indústria produtora de calçados de segurança e EPIs, contratou 185 profissionais da etnia Guarani para trabalhar em sua unidade de Eldorado, no Mato Grosso do Sul, com cerca de 500 colaboradores no total. Em parceria com a prefeitura de Japorã, município vizinho, onde 58% dos habitantes são indígenas, a empresa reformulou o processo de seleção para acolher os candidatos.
“Desenvolvemos um modelo de inclusão, respeitando a cultura local e entendendo as barreiras reais de acesso. O resultado tem sido transformador, tanto para a comunidade quanto para o ambiente corporativo”, afirma Thiago Honório, gerente de RH da Bracol.
Segundo ele, os principais desafios na implementação do projeto foram o bloqueio linguístico, já que os indígenas da região falam guarani como primeira língua, e as diferenças culturais, que exigiram adaptações, como o apoio e a presença do cacique Onésio Dias, liderança da aldeia Porto Lindo Yvy Katu, na condução das entrevistas – realizadas na própria aldeia – e na integração dos novos colaboradores. “Foi necessário construir confiança com as comunidades, através do cacique, além de realizar ajustes logísticos e capacitar a equipe interna para uma abordagem mais sensível e respeitosa”, diz Thiago.
No topo também
Além do volume de contratações, o programa resultou na promoção de profissionais indígenas a cargos de liderança, como Jadson Rocha, líder de expedição, e Juliano Misael Lopes, líder de produção – os dois foram contratados há três anos pela Bracol, e foram desenvolvidos internamente. “O comprometimento dos colaboradores indígenas é notável. Eles trouxeram estabilidade, disciplina e visão de coletividade. A produtividade subiu, o clima melhorou e o respeito mútuo cresceu de forma visível”, afirma o gerente de RH, reconhecendo a importância de novas perspectivas na organização. “A chegada dos indígenas despertou maior consciência [aos demais colaboradores] sobre diversidade e respeito cultural, promovendo um ambiente mais acolhedor e inclusivo.”
Geograficamente, a proximidade com as aldeias no Mato Grosso do Sul favoreceu a implementação do projeto. No entanto, a Bracol avalia a expansão desse modelo para outras unidades da empresa, respeitando as especificidades de cada região e comunidade.
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