Cordão de girassol: como o acessório pode aumentar a inclusão nas empresas
PCDs e neurodivergentes só se beneficiam dese símbolo, no ambiente de trabalho, se houver uma preocupação genuína com acessibilidade. Entenda.

Nem todas as deficiências são aparentes. Por isso, o Brasil possui uma lei que regulamenta o uso do “cordão de girassol”, que dá visibilidade a pessoas com deficiências invisíveis, sejam auditivas, visuais, motoras ou intelectuais. Mas você sabe o que é o cordão – e como ele pode ser usado na sua empresa?
Trata-se de uma fita verde com desenhos de girassóis, como a que aparece na imagem acima. O cordão é reconhecido em todo o território nacional pela Lei nº 14.624/2023 como um acessório de uso opcional, cuja ausência “não prejudica o exercício de direitos e garantias” previstos na legislação brasileira.
O cordão de girassol ajuda a identificar PCDs e facilita a vida dessas pessoas, que poupam explicações ao utilizar filas ou assentos preferenciais, por exemplo. O acessório, porém, não vale como documento para comprovar necessidades especiais.
Nas empresas, o cordão de girassol pode ajudar na construção de um ambiente mais inclusivo – se o uso do acessório vier acompanhado de uma campanha de conscientização e medidas concretas para aumentar a acessibilidade. É o que defendem especialistas como Katya Hemelrijk, consultora de diversidade e CEO da Talento Incluir.
“A organização precisa saber o que fazer para acolher o funcionário. Isso significa preparar a equipe, entender suas necessidades específicas e providenciar recursos de acessibilidade que sejam importantes”, afirma a executiva. Caso o ambiente não seja propício, a pessoa com deficiência oculta provavelmente não vai se identificar como tal.
Katya ainda argumenta que muitas empresas se aproveitam da existência do cordão de girassol: incentivam colaboradores a assumirem suas deficiências ocultas apenas com a intenção de cumprir a cota mínima de PCDs no quadro de funcionários – sem contratar mais ninguém.
“Se você incentiva o uso do cordão na empresa só para contar o número de PCDs, o risco de as pessoas serem capacitistas é muito grande”, afirma a especialista. “Elas podem dizer aos colegas: ‘nossa, não parece que você tem deficiência!’. Isso gera um desconforto, seria melhor a pessoa [com deficiência oculta] ter ficado quietinha no canto dela.”
Porém, quando a campanha é genuína e bem-feita, pode ser um golaço. “Quando eu entro em algum lugar com minha cadeira de rodas, todo mundo sabe que eu tenho deficiência”, afirma Katya. “O cordão de girassol pode ajudar a dar visibilidade para muitas outras pessoas e abrir espaço para o diálogo e o acolhimento.”
Capacitismo no escritório
Segundo a pesquisa Radar da Inclusão, 60% das pessoas com deficiência ou neurodivergentes acreditam que o preconceito as impede de conseguir um bom emprego, mesmo quando possuem as competências necessárias para tal.
Quase todos os entrevistados (90%) afirmam que já enfrentaram capacitismo no ambiente de trabalho. E apenas 60% deles relataram o problema à empresa.
Os principais motivos para permanecer calado sobre o capacitismo são:
- O medo de ser demitido ou sofrer uma retaliação;
- A crença de que a denúncia não teria resultados;
- A crença de que denunciar não era necessário;
- A vergonha de fazê-lo.
Entre os funcionários que sofreram capacitismo e relataram a situação à empresa, apenas 18% se sentiram totalmente respeitados e acolhidos pela organização.