Dia da Luta das PcD: 5 passos para construir pertencimento a elas no ambiente de trabalho
Despreparo da liderança e falta de ações efetivas de inclusão impactam na produtividade, engajamento e permanência dos colaboradores com deficiência.

No Brasil, mais de 18,6 milhões de pessoas, o equivalente a cerca de 9% da população, vivem com algum tipo de deficiência, segundo o PNAD 2023. Destas, apenas 3% ou quase 456 mil trabalham atualmente, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, anunciados no ano passado. A lacuna traz à tona não apenas a urgência do ingresso deste grupo no ambiente corporativo, como também a necessidade de criar práticas e políticas cotidianas que vão além das contratações. O tema ganha relevância hoje, no Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência (PcD).
Para a especialista em diversidade e inclusão, Flávia Mentone, CEO da Reponto, especializada em recrutamento e seleção de pessoas com deficiência, a ausência de acessibilidade, o despreparo das lideranças e, principalmente, a falta de ações que promovam pertencimento comprometem a permanência e o engajamento contínuo das PcD nas organizações – sobretudo nos últimos anos, quando houve um aumento nos índices de afastamentos por transtornos de saúde mental, burnout e ansiedade. “Para as pessoas com deficiência esses desafios são ainda maiores”, destaca.
Nesse sentido, ela aponta que, além da acessibilidade, existe mais uma barreira a esses colaboradores: “viver o verdadeiro pertencimento no ambiente de trabalho”.
Adaptação em sete dimensões
Flávia recomenda que a adaptação seja pensada em pelo menos sete dimensões, conforme sustenta um conceito difundido pelo pesquisador brasileiro Romeu Sassaki, considerado o pai da inclusão. São elas: arquitetônica, atitudinal, comunicacional, metodológica, instrumental, programática e natural. “Com a garantia de estrutura, é possível abrir espaço para que profissionais com deficiência possam demonstrar suas habilidades, competências e talentos e, assim, performar e se desenvolver nas organizações, além dos fatores limitantes”.
Na prática, a especialista destaca que o processo à acessibilidade completa exige preparo das equipes e lideranças para lidar com a deficiência sem discriminação ou capacitismo. A seguir, confira cinco passos, indicados pela CEO da Reponto, para auxiliar as empresas que desejam gerar um real pertencimento:
- Capacitar lideranças e equipes: o primeiro passo para a inclusão é realizar treinamentos e atividades com foco em letramento sobre capacitismo. O objetivo, segundo Flávia, é mitigar os estereótipos e preparar a companhia para lidar com a PcD de forma natural, empática e respeitosa.
- Garantir acessibilidade nos espaços: a questão arquitetônica da organização é essencial, tendo em vista adaptações razoáveis nos espaços de circulação, que possam permitir a autonomia e a mobilidade para as pessoas com deficiência.
- Disponibilizar recursos e tecnologias assistivas: o investimento em ferramentas que possam facilitar a rotina de trabalho deste grupo de profissionais é um aspecto fundamental. Muitos colaboradores com deficiência não conseguem se desenvolver nas empresas especialmente por falta de recursos.
- Oferecer apoio individualizado: para garantir o bem-estar emocional e o crescimento dos profissionais, recomenda-se analisar com calma as necessidades individuais de cada colaborador e criar condições personalizadas que possam ajuda-lo em sua permanência e engajamento dentro da empresa.
- Construir uma cultura de pertencimento: aqui, a dica é colocar a segurança psicológica em primeiro lugar e construir um espaço onde cada profissional com deficiência se sinta à vontade para crescer e ser ele mesmo. Para isso, vale implementar programas de integração, mentorias e acompanhamentos para progressão e desenvolvimento individual desses colaboradores, tornando a inclusão um valor real na organização.
Por fim, a especialista alerta que, com a falta de ações como estas, as pessoas com deficiência acabam sofrendo isolamento e baixo envolvimento nas atividades de trabalho, afetando diretamente na saúde mental, produtividade e bem-estar pessoal. “É preciso investir tempo e recursos para que elas se sintam incluídas e à vontade em um ambiente totalmente seguro”, diz ela. “Isto é pertencimento”.