O gestor do futuro e as exigências do mercado para os próximos cinco anos
Para especialistas, o líder de 2030 não será medido pelo cargo que ocupa ou tempo de casa, mas pela capacidade de construir equipes de alta performance.

O futuro do trabalho já não segue linhas retas: carreiras longas e estáveis dão lugar a trajetórias mais dinâmicas, guiadas por habilidades, experiências e adaptação. Segundo a pesquisa Mind the Soft Gap, feita pela Afferolab, os profissionais tendem a permanecer, em média, até dois anos em uma mesma empresa – um reflexo, de acordo com a sócia e managing director da consultoria, Alessandra Lotufo, de um mercado em transformação, onde soft skills e competências estratégicas se tornam cada vez mais determinantes.
Para Eduardo Freire, estrategista de inovação e CEO da FWK Innovation Design, o trabalho virou um ecossistema, com projetos curtos, times distribuídos, inteligência artificial como copiloto e produtos que mudam rápido. “Isso desloca a lógica ‘carreira em escada’ para ‘carreira em portfólio’, com ziguezague de experiências, missões e requalificações contínuas”, explica.
Quem viveu isso na pele foi Marcos Freitas, CEO e fundador da Seja AP, especializada em evolução empresarial. “Antes, meu sonho era entrar numa companhia, ficar décadas e me aposentar. Só que o mundo mudou. A tecnologia acelerou tudo, a cultura se espalhou, as oportunidades se diversificaram”, reconhece ele, que não vê mais sentido imaginar uma carreira reta, como estrada única. “O profissional precisa estar disposto a mudar de rota, aprender novas habilidades e até mesmo se reinventar várias vezes”.
Jornada baseada em performance
Neste contexto de hiperconectividade e culturas difusas, o modelo de trabalho alicerçado em habilidades ganha destaque. “Estamos na era da performance crônica, marcada pela pressão constante por entregas e pela valorização do comportamento no centro das relações de trabalho”, afirma Alessandra. Para ela, influência já não é mais atribuída por cargo, mas conquistada por relevância e entrega. “O desafio agora é equilibrar uma capacitação rápida, mas sem deixar de lado a educação formal”.
A especialista também aponta que, segundo o levantamento e a dinâmica do mundo atual, colaboradores de alta performance devem reunir competências estratégicas (57%), de comunicação (53%) e emocionais (51%). “A liderança também se transforma com a ascensão de profissionais que dominam tecnologia e possuem alta capacidade de adaptação, independentemente da senioridade tradicional”, analisa.
A expectativa, segundo Marcos, é que as empresas se adaptem à tendência de carreiras mais fluidas, criando ambientes abertos ao aprendizado contínuo, entendendo que o colaborador vai buscar experiências diferentes e valorizando quem dá resultado agora, sem olhar apenas para o histórico.
Competências mais relevantes até 2030
Os líderes que vão prosperar, segundo o CEO da Seja AP, serão aqueles capazes de unir três competências: visão adaptativa, “para saber navegar num mundo tecnológico em constante mudança, sem paralisar diante da novidade”; comunicação de impacto, “para falar a verdade que precisa ser dita, inspirar a equipe e criar conexões humanas mesmo em ambientes digitais”; e mentalidade de dono, “para trabalhar como se fosse o empreendedor do negócio, tomando decisões que geram valor para a empresa, para a equipe e para o cliente”.
Já Alessandra considera essenciais soft skills, como escuta ativa, colaboração e inteligência emocional, e destaca quatro pilares para a alta performance neste novo cenário: bond (confiança relacional e segurança psicológica), fit (alinhamento com propósito), agility (capacidade adaptativa) e delivery (disciplina de execução).
Eduardo, entre outras aptidões, cita a capacidade de transformar dados de IA em decisão, sabendo quando automatizar, revisar e parar, além da requalificação como rotina. “Líder que modela o estudo destrava a cultura. É preciso aprender, desaprender, reaprender”. E se Marcos pudesse resumir tudo isso em uma única frase, ela seria: “liderança do futuro exige menos autoridade e mais autenticidade”.