Entrevista: Simone Marques, CEO da VR
A executiva revela como integrou aquisições e tecnologia para a transição de uma marca conhecida pelos cartões de benefícios para um ecossistema de RH.
Transformar uma empresa tradicional em um ecossistema de soluções integradas para RH não é tarefa para quem tem medo de mudanças. À frente da companhia desde 2024, Simone Marques lidera um movimento de reinvenção que levou a VR – marca historicamente conhecida pelos cartões de benefícios – a se tornar uma plataforma multifuncional. O Super Portal, novidade lançada recentemente, centraliza em um só ambiente serviços como controle de ponto, mobilidade, premiações e gestão de despesas. O objetivo? Simplificar a vida de equipes enxutas de recursos humanos e ajudar negócios a manter a proximidade com seus colaboradores, ganhando eficiência.
Mas a CEO não é só números e estratégia. A sensibilidade de Simone em relação aos colaboradores vem de uma trajetória que une resiliência, coragem e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Ao longo de mais de duas décadas no mercado, ela viveu situações desafiadoras e aprendeu a importância de apoio, diálogo e políticas corporativas que enxerguem o profissional por inteiro.
Nesta entrevista para a Você RH, Simone Marques fala sobre as dores das pequenas e médias empresas, a importância de líderes humanos e firmes, os desafios das mulheres em cargos executivos e como concilia carreira e família. De forma franca, ela também compartilha sua visão sobre o futuro da VR nos próximos cinco anos: uma empresa cada vez mais humanizada.
A VR lançou o Super Portal, uma plataforma que centraliza soluções de gestão de pessoas. Como essa ferramenta pode contribuir para que as empresas ganhem eficiência sem perder a proximidade com os colaboradores?
Saímos do perfil de uma empresa de benefícios para nos tornar multiprodutos. Nos últimos quatro anos, a VR adquiriu quatro companhias: a primeira, de controle de ponto; depois, a Audaz, ligada à mobilidade; no terceiro ano, a Global Points, focada em sorteios e fidelização; e, no quarto, uma especializada em gestão de despesas. O passo mais corajoso foi incorporar tudo em uma única plataforma, o Super Portal, gerando uma experiência unificada para o cliente de RH. Com isso, conseguimos reduzir em até 50% o tempo gasto em tarefas manuais. Pequenas empresas, nas quais o RH acumula funções administrativas e operacionais, ganham agilidade e economia. E fazemos tudo com dados: temos uma base poderosa para medir o impacto e a eficiência.
Muitas pequenas e médias empresas nem têm áreas estruturadas de RH. Que caminhos elas podem adotar para enfrentar os desafios da gestão de pessoas?
Esse é um ponto crucial. Vivemos um mundo cheio de preocupações, e os colaboradores enfrentam muitos desafios. A VR orienta essas empresas para entender as demandas reais de seus trabalhadores. Crédito, por exemplo, é uma grande dor. Crescemos muito em serviços financeiros justamente para apoiar colaboradores. Também temos parcerias para levar planos de saúde acessíveis e investimos em educação e mobilidade. A ideia é olhar para o trabalhador como um todo, inclusive sua família. Acompanhar a jornada diária, até sugerindo rotas de deslocamento, é parte desse cuidado.
Qual é o papel das lideranças para criar ambientes de trabalho mais saudáveis e sustentáveis?
Segurança é tudo. Um ambiente seguro permite troca de confiança sem retaliação ou julgamento. Isso faz uma diferença enorme na saúde mental. Pós-pandemia, percebemos muitos traumas, especialmente entre mulheres, que acumularam tarefas. Aqui, 70% dos atestados médicos que chegam aos RHs dos nossos clientes são de mulheres. Precisamos estar atentos e agir rápido.
Tocando nessa questão de gênero, você assumiu a presidência em um ambiente ainda desafiador para lideranças femininas. Como foi, para você, receber esse convite?
Sou muito grata aos gestores que tive – todos homens, mas respeitosos e positivos. Já enfrentei situações difíceis, como quando, grávida da minha segunda filha, fui chamada durante a licença-maternidade para liderar uma integração. Voltei ao trabalho com minha bebê de um mês e contei com apoio para criar um espaço infantil no escritório. Essas experiências me fizeram rever políticas: mães em amamentação, por exemplo, merecem mais flexibilidade. Quando recebi o convite para ser CEO, consultei minha família antes de aceitar. Eu sabia que precisaria do apoio deles, pois nem sempre conseguiria equilibrar todos os pratinhos ao mesmo tempo.
Quais estratégias você adota para conciliar carreira e filhos?
A principal foi mudar de residência. Morava em Alphaville [bairro nobre dos municípios de Barueri e Santana do Parnaíba] e passava mais de duas horas no trânsito. Então mudei para perto da Berrini [Engenheiro Luís Carlos Berrini é uma avenida de São Paulo que concentra sedes de grandes empresas], o que me deu qualidade de vida. Consigo cuidar da família, fazer exercícios e encontrar amigos. Esse ajuste fez uma diferença enorme para manter meu equilíbrio.
Como você definiria o seu estilo de liderança?
Sou muito próxima. Gosto de ouvir, perceber e agir. Uma vez, notei um funcionário cabisbaixo no corredor. À noite, mandei uma mensagem perguntando se ele estava bem. No dia seguinte, ele me agradeceu, emocionado. Liderança é isso: olhar além dos sorrisos. Sou afetiva, mas firme. Acredito profundamente na gestão humanizada.
E como é sua relação com a área de RH?
Sempre tive facilidade para lidar com pessoas. Quando entrei na VR, em 2011, como VP jurídica, fui convidada depois para assumir também a vice-presidência de pessoas. Foi um presente. Aprendi muito sobre empatia e resultados. Para mim, o RH precisa ser humano e acolhedor, mas também orientado a resultados. Só assim funciona.
Quais práticas de gestão de pessoas na VR mais te orgulham?
Sem dúvida, o desenvolvimento humano. Temos a Academia VR, com trilhas de conhecimento que incluem RH, negócios e, mais recentemente, inteligência artificial. Acreditamos que todos na empresa devem conhecer bem o negócio e vender a VR, independentemente da área.
Como você enxerga a VR nos próximos cinco anos?
Muito diferente. Hoje, 40% do nosso negócio já está em HCM [sigla para “gestão de capital humano”, em português], além dos serviços financeiros. Nosso foco é o cliente: remanejamos produtos e estratégias conforme suas demandas. Não dá para definir tudo de cima para baixo. A necessidade está no cliente, e precisamos de velocidade para atendê-lo.
Por fim, que conselho você daria para mulheres que sonham com cargos de liderança?
Persistam. Busquem apoio e não abram mão dos seus sonhos. Não é preciso adotar um “jeitão masculinizado” para chegar ao topo. Nossa sensibilidade e capacidade de multitarefa são diferenciais na vida corporativa.
Esta reportagem faz parte da edição 100 da Você RH, que chega às bancas dia 3 de outubro.
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