HR Leaders Summit apontou as mudanças necessárias para líderes e RHs
Evento deixou claro que muito do que está no discurso da gestão de pessoas ainda não foi para a prática.

Há algo de mágico quando seis gerações compartilham o mesmo elevador. É silêncio com cheiro de café e fone sem fio. Um com sapato social lustrado, outro com o All Star gasto da faculdade. E ali, entre andares, está o RH: tentando fazer com que todos cheguem no mesmo andar sem apertar o botão errado.
Todo mundo quer mudança, mas ninguém quer mudar. Frase batida, mas nunca tão viva. Porque mudar dói. Dá trabalho. Exige escuta, coragem e um tanto de humildade institucional. E o tal do “recado bem dado” virou KPI emocional: agora a questão é perguntar melhor, escutar de verdade e construir pontes em vez de só fluxogramas.
O HR Leaders Summit, desenvolvido pela B2B Match, realizado dia 30 de junho, em São Paulo, não foi um evento. Foi um espelho. E, em cada fala, um reflexo do que precisa ser visto, mesmo quando a gente prefere não enxergar.
Temos falado bonito sobre ESG, Employee Experience, saúde mental, pertencimento… mas bonito não basta. Bonito sem prática vira disfarce. E a esperança, aquela radical, que tem compromisso com a visão e não com o otimismo barato, exige atitude. A esperança real cobra coerência.
Silvana Machado, diretora de RH e Sustentabilidade, com o case do Bradesco, deu o tom: o que trouxe a gente até aqui não leva mais adiante. E quando os conselhos viram conselheiros de verdade, a transformação começa. Com foco. Comunicação clara. Disciplina. E a honestidade de discutir erros como quem discute estratégias sem medo de parecer vulnerável.
Foi dito também que IA não substitui relações. E ainda bem. O RH não pode se apaixonar por dashboards e esquecer do aperto de mão. IA substitui tarefa, não abraço. O papel do RH não é desenhar organograma: é desenhar humanidade. Ser arquiteto de experiências, não síndico de processos.
Um outro sentido para o envelhecimento
Daniel Castanho, presidente do Conselho da Ânima Educação, cravou: “Você não é o que junta, mas o que espalha”. E se for para espalhar, que seja pertencimento, não encaixe forçado. Que seja aprendizagem contínua, e não a arrogância de quem acha que já sabe. RH que não aprende, envelhece. E não no bom sentido.
Envelhecer, aliás, virou privilégio. E como disse Mauro Wainstock, o etarismo está em todas as idades. Já passou da hora de parar de olhar para as faltas e começar a olhar para as potências. A potência do improviso, da criatividade analógica, da experiência vivida e da juventude pulsante. A mistura é o que faz o caldo.
No fundo, estamos todos tentando entender de negócios. Mas quem entende mesmo de negócios entende de gente. E gente precisa de respeito, escuta e propósito.
Talvez o futuro do RH não esteja nos dados. Esteja nas perguntas que fazemos com eles. Nos silêncios que permitimos. Nos espaços que abrimos. Porque, no fim, liderar é isso: silenciar o ego pra viver a essência. A sua. A do outro. A da empresa que, como mosaico, só é bonita quando cada pedrinha é vista como preciosa.
E talvez, só talvez, essa seja a revolução das relações que vêm por aí. Basta ter coragem de organizá-la.
*Marco Marcelino é CEO da Serinews Intelligence Service, especialista em inteligência de dados e colunista da VC S/A.