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“Somos programados para sentir o que os outros sentem”, diz autor

Em novo livro, o best-seller Leonard Mlodinow questiona a crença de que emoções e trabalho não combinam

Por Redação
Atualizado em 23 out 2024, 17h15 - Publicado em 3 jun 2022, 06h04
Mulher sentada ao gramado segura um espelho e vê sua imagem sorridente refletida nele
 (Caroline Veronez/Unsplash/Divulgação)
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onhecido por obras de grande sucesso, como O Andar do Bêbado e Subliminar, o físico estadunidense Leonard Mlodinow afirma no recém-lançado Emocional — A Nova Neurociência dos Afetos que os sentimentos podem ser disseminados entre as pessoas, produzindo um “contágio”. E questiona a crença de que o pensamento racional deve prevalecer nas tomadas de decisão. “Estudos sobre inteligência emocional mostram que os líderes empresariais, políticos e religiosos mais bem-sucedidos em geral são os que conseguem controlar suas emoções e usá-las como ferramentas ao interagir com os outros”, revela. O trabalho traz reflexões importantes não só para o desenvolvimento pessoal mas também para inspirar empresas a criar ambientes corporativos saudáveis, em que a cultura tóxica não se espalhe. Veja mais no trecho a seguir

A emoção geralmente afeta nossos pensamentos, decisões e comportamentos para o bem; não é bom ser insensível às emoções. Por outro lado, ser demasiado sensível pode complicar a vida. Não existem certo e errado em um perfil emocional, mas alguns perfis podem tornar a vida mais fácil, enquanto outros causam dores desnecessárias ou interferem na vida que você gostaria de ter.

Administrando as emoções
Nós somos programados para sentir o que os outros sentem. Na verdade, estudos de imagens mostram que as estruturas cerebrais ativadas quando sentimos nossas emoções são automaticamente ativadas quando observamos essas emoções nos outros.
A disseminação da emoção de pessoa para pessoa, em uma instituição ou mesmo por toda uma sociedade é um subcampo importante da nova ciência da emoção, com um número de estudos anuais dez vezes maior nos últimos anos. Os psicólogos chamam esse fenômeno de “contágio emocional”.

Você conversa com uma colega. Percebe que se sente um pouco desconfortável. Começa a ficar ansioso. Quando se afasta, lembra que estava se sentindo bem antes de começar o bate-papo. Percebe que aquela colega costuma ter esse efeito sobre você. Ela tem uma tendência à ansiedade, e você sente o mesmo depois de falar com ela. Por que isso acontece?

Historicamente, a sobrevivência humana dependia da capacidade de funcionar dentro de um contexto social. Precisamos entender os outros e encontrar maneiras de estabelecer uma conexão. Sincronizar emoções facilita essa conexão. Como consequência, os humanos, assim como outros primatas, são mímicos inatos. Os interlocutores numa conversa tendem a sincronizar seus ritmos. Quando os bebês abrem a boca, as mães também tendem a abrir. Nós imitamos sorrisos, expressões de dor, afeto, constrangimento, desconforto e aversão. Até o riso é contagioso. (…) Um dos efeitos do contágio emocional é que o grau de felicidade das pessoas tende a refletir o de seus amigos, familiares e vizinhos. De certo modo, nós somos aqueles com quem convivemos. (…) Pessoas cercadas por pessoas felizes tendem a ser felizes e são mais propensas a ser felizes no futuro — pela disseminação da felicidade, e não só pela tendência de se associar a indivíduos semelhantes.

O mais surpreendente de todas as novas pesquisas sobre contágio emocional vem de estudos que mostram a facilidade com que isso acontece. Você não precisa entrar em contato com alguém, nem mesmo falar com ninguém pelo telefone; nossas emoções podem ser influenciadas via mensagens de texto ou pelas redes sociais. (…)

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Como muitos aspectos da emoção, o contágio emocional, apesar de vantajoso no nosso passado evolutivo, nem sempre é benéfico na sociedade atual.

Mas sob um aspecto isso implica uma lição muito importante e otimista: se as caras feias e as mensagens de texto dos outros podem alterar nosso estado emocional, nós também deveríamos poder fazer a mesma coisa. E as pesquisas mostram que de fato é possível assumir o controle das nossas emoções.

A mente sobre as emoções

Como a maioria das nossas emoções evoluiu numa época em que a vida era bem diferente, é provável que em alguns momentos elas não sejam ideais para as nossas necessidades de hoje. Em particular, estados emocionais excessivamente intensos podem ter um lado negativo.

A ansiedade se desenvolveu para nos tornar mais cuidadosos, mas quem sabe também não desencadeie o pânico. A tristeza pela perda de alguém nos lembra de algo importante, mas talvez oblitere a esperança ou o otimismo e se transforme em depressão. A raiva nos motiva a enfrentar a situação que a gerou e aumenta os níveis de adrenalina para estimular a reação, mas também pode fazer com que você aja afastando os outros, o que frustraria seus objetivos.

Todos nos deparamos com situações em que a modulação da emoção seria benéfica. Há momentos em que é melhor esconder ou suprimir nossos sentimentos, pois eles podem ser vistos como não profissionais ou inapropriados. Ou ocasiões em que, para o nosso próprio bem-estar, queiramos diminuir a intensidade do que estamos sentindo. Estudos sobre inteligência emocional mostram que os líderes empresariais, políticos e religiosos mais bem-sucedidos em geral são os que conseguem controlar suas emoções e usá-las como ferramentas ao interagir com os outros. Embora as pontuações de QI às vezes estejam em correlação com habilidades cognitivas, o controle e o conhecimento do próprio estado emocional são os fatores mais importantes para o sucesso profissional e pessoal. (…)

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Nos humanos, a regulação da emoção tem benefícios físicos e psicológicos. Está correlacionada, por exemplo, com a melhor saúde física, especialmente no que diz respeito a doenças cardíacas. (…)

Os cientistas ainda não entendem bem esse mecanismo, mas especulam que a regulação da emoção diminui a atividade do sistema de resposta ao estresse do corpo.

Quando você está em perigo físico iminente, a resposta ao estresse o prepara para o conflito. Ela aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca, contrai os músculos, dilata as pupilas para a pessoa enxergar melhor. Isso é útil se você estiver prestes a enfrentar o ataque de hienas nas savanas dos nossos ancestrais; mas já não é tão útil quando o ataque é verbal e vindo do seu chefe. E tem um custo: a resposta ocorre pela liberação de hormônios do estresse, que têm um efeito inflamatório já vinculado a doenças cardiovasculares e outras enfermidades.

Tendo em vista os benefícios da capacidade de controlar as emoções, não surpreende que as pessoas venham adotando muitos métodos para atingir esse objetivo ao longo do tempo.

Alguns funcionam; outros, não. Só nas duas últimas décadas os psicólogos de campo se concentraram em discernir esses métodos, estudando e validando a eficácia das várias abordagens. A seguir, vou falar sobre três das mais eficazes: aceitação, reavaliação e expressão.

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Aceitação: o poder do estoicismo

(…) O estoicismo costuma ser mal interpretado. É associado à ideia de que a riqueza ou mesmo o conforto são ruins. Mas não é isso que o estoicismo ensina. (…) O que os estoicos diziam é que não se deve ser psicologicamente escravizado pelas emoções: não ser manipulado por elas, e sim estar ativamente no comando. (…) A filosofia estoica era isto: assumir o controle da própria vida, aprender a trabalhar nas coisas que estão ao seu alcance para realizá-las ou mudá-las, e não desperdiçar energia com algo que não pode mudar ou realizar. (…)

Se você realmente aceitar essa filosofia e integrá-la ao seu modo de vida, vai evitar ou mitigar muitos estados emocionais que desperdiçam energia.

Reavaliação: o poder da flexibilidade

Entender o que acabou de acontecer é uma das fases pelas quais o cérebro passa à medida que uma reação emocional se desenvolve.

Alterar o curso de como o cérebro interpreta alguma coisa é uma forma de provocar um curto-circuito no ciclo que resulta numa emoção indesejada. Os psicólogos chamam esse pensamento mais orientado de “reavaliação”.
A reavaliação envolve reconhecer o padrão negativo desenvolvido nos seus pensamentos e mudar para um modelo mais desejável, mas sempre com base na realidade. (…)

Expressão: o poder das palavras

(…) Ao contrário do que nos diz a sabedoria popular, expressar as emoções negativas indesejadas ajuda a neutralizá-las.

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Psicólogos clínicos descobriram que conversar é mais eficaz quando envolve amigos de confiança ou alguém considerado importante, principalmente se essas pessoas já passaram por problemas parecidos. (…)

O simples ato de escrever sobre experiências perturbadoras por vezes reduz a pressão arterial, ameniza sintomas de dor crônica e aumenta a função imunológica. (…)

Ao longo de muitos séculos de pensamento humano e erudição, a emoção sempre esteve atrelada à má reputação, e era difícil mudar isso. Mas nos últimos anos, graças em grande parte aos avanços da neurociência, os pesquisadores remodelaram a maneira como vemos as emoções. Hoje sabemos que as situações em que a emoção é contraproducente são a exceção, não a regra.

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