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“O RH não deve ficar em estereótipos como o que associa inovação ao jovem”

O Fórum Gerações e Futuro do Trabalho quer lutar contra os preconceitos geracionais, como explica Ricardo Sales, secretário-executivo do projeto

Por Elisa Tozzi
Atualizado em 15 dez 2020, 08h46 - Publicado em 27 jul 2020, 10h09
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  •  (Matthew Bennett/Unsplash)

    Com o objetivo de discutir e estimular a inclusão geracional no mercado de trabalho, foi lançado o Fórum Gerações e Futuro do Trabalho, uma iniciativa encabeçada por Ricardo Sales, fundador da consultoria Mais Diversidade e secretário-executivo do Fórum.

    O projeto, inédito no Brasil, quer sensibilizar as empresas para o tema e ajudar as lideranças brasileiras a desenvolver profissionais de diferentes faixas etárias – incluindo os com mais velhos – para o futuro do trabalho. Nos próximos meses, o Fórum divulgará sua agenda de atividades e é possível acompanhar os trabalhos por meio da página do projeto no LinkedIn.

    Na entrevista a seguir, Ricardo Sales explica por que o tema é tão relevante para as companhias do Brasil.

    Qual a importância de lançar este Fórum em plena pandemia?

    A pandemia de covid-19 escancarou as desigualdades, inclusive no mundo do trabalho. Em meio a ela, eclodiram as maiores manifestações raciais desde os anos 1960, o que demonstra que os temas relacionados a diversidade e inclusão não são modismo passageiros. Eles estão na própria essência do zeitgeist, o espírito do nosso tempo. O Fórum Gerações e Futuro do Trabalho dialoga com questões tão amplas quanto a convivência intergeracional nas empresas até a questão da precarização do trabalho e o impacto da automação e das tecnologias nas carreiras de grupos que chamamos minorizados, a exemplo de mulheres, mães, pessoas negras, LGBTI+, 50+ e profissionais com deficiência.

    Qual será o enfoque do Fórum?

    O fato de a discussão sobre diversidade e inclusão ter avançado nos últimos cinco anos no Brasil tem relação direta com as iniciativas coletivas das organizações, reunidas em espaços como o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, o Movimento Mulher 360 e a Coalizão Empresarial pela Equidade Racial e de Gênero. Faltava uma iniciativa para a questão geracional. O tema precisa ser visto de um ponto de vista amplo e interseccional, pois os desafios são variados: entre a população de 18 a 24 anos, o desemprego é recorde e predomina o trabalho precarizado; quando se tem 40 anos, o preconceito de idade começa a aparecer, sobretudo se você ainda não ocupa uma posição de liderança; já entre os 50+, o debate é urgente por conta da Reforma da Previdência e do desejo de muitas dessas pessoas de continuarem desenvolvendo uma atividade produtiva.

    Gerações é um tema amplo por natureza. Fala de mim e do meu momento, assim como das questões que eu e todos nós enfrentaremos no futuro. É também um tema interseccional desde a sua origem, pois em todas as gerações existem homens e mulheres, pessoas cis e trans, das mais variadas raças, origens etc. Soma-se a isso as questões relacionadas à digitalização da sociedade. O futuro do trabalho chegou mais cedo, e precisamos pensar no impacto da tecnologia na carreira das pessoas. Para ficar num exemplo: a automação, no estágio atual, desempenha atividades que antes eram realizadas por pessoas com deficiência ou mães que trabalhavam meio período. Não houve o desenvolvimento de algumas dessas pessoas para trabalhos mais estratégicos, e agora elas se veem diante do desemprego. “Futuro do trabalho para quem?”, é o que devemos nos perguntar.

    Depois do coronavírus, os 60+ terão ainda mais dificuldade em se recolocar ou se manter no mercado de trabalho por serem de grupo de risco?

    É preciso ter cautela ao fazer avaliações sobre processos em andamento, mas o que temos visto neste momento é que há diminuição de vagas para pessoas com mais de cinquenta anos sob a justificativa de “protegê-las”. É algo preocupante e que precisa ser encarado por toda a sociedade. Existe um discurso forte em torno do lifelong learning, do “não pare de se atualizar”, “siga aprendendo”, mas uma pessoa de 50 anos que inicia uma nova faculdade, para ficar num exemplo, terá dificuldades para conseguir um estágio, que muitas vezes é obrigatório. Além disso, com a precarização do trabalho e o alto desemprego entre os mais jovens, tem muito 60+ voltando a ser chefe de família. É a avó pagando os estudos do neto. Pessoas mais experientes muitas vezes querem continuar ativas no mercado, mas enfrentam barreiras significativas, às vezes sutis, como, por exemplo, a pressão para aderir a planos de demissão voluntária (PDVs).

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    Do ponto de vista do RH, quais serão os desafios para incluir essas gerações nas empresas?

    O RH não deve escorregar em estereótipos como o que associa inovação ao jovem. Este é um discurso vazio e que abriu espaço para as piscinas de bolinhas entre outras infantilizações que marcaram espaço no meio empresarial nos últimos anos. As gerações sempre coexistiram nas empresas, mas precisam ir além disso. É preciso conviver. Quando há troca efetiva, todo mundo ganha. Isso exige humildade de todas as partes. Os mais novos precisam respeitar a trajetória de quem os antecedeu e abriu caminhos, e os mais velhos têm a oportunidade de apender com quem já nasceu num mundo digital. O RH, por sua vez, fala muito em soft skills e não pode ignorar que características como resiliência, empatia e escuta ativa costumam vir com a idade, e, via de regra, são mais encontradas em profissionais experientes. Se a empresa quer inovar, é necessário colocar pessoas com diferentes bagagens e histórias de vida para trabalhar juntas e repensar soluções.

    Quais são as principais barreiras para os profissionais integrarem o mercado de trabalho do futuro?

    Existe uma barreira estrutural e significativa relacionada à educação. O Brasil deveria estar discutindo adoção de tecnologias no ensino, desenvolvimento de novas competências técnicas e socioemocionais, incentivo ao empreendedorismo, formação em tecnologia entre outras questões. A agenda do governo, porém, opta por perseguir fantasmas. O problema da educação brasileira não é a suposta ideologização do ensino. Isso reduz o debate e tira o foco do que realmente deveria importar. Também me preocupa a precarização do trabalho, que vem se intensificando com o avanço da tecnologia. Isso aprofunda as desigualdades, concentra renda e acaba com o direito de sonhar de pessoas de diferentes gerações.

    Se você trabalhar com diversidade e inclusão, clique aqui para participar da pesquisa da VOCÊ RH e da Mais Diversidade que vai mapear como estão as práticas de D&I nas companhias brasileiras. É gratuito.

     

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