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Férias sem culpa: um guia para o seu descanso remunerado

Saiba como se organizar antes, durante e depois para aproveitar ao máximo esse período, e entenda como ele ajuda a empresa e a sua carreira no longo prazo.

Por Sofia Kercher
Atualizado em 2 ago 2024, 15h02 - Publicado em 29 jul 2024, 12h05
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  • cena de personagem olhando para a praia, um pouco distante, como se desejasse estar lá.
     (Carol D'Ávila/VOCÊ RH)

    Pingou email do RH: está na hora de você, finalmente, marcar suas férias. Sabemos: as opções são múltiplas, as possibilidades, infinitas. Neste guia, explicaremos tudo que você precisa fazer antes, durante e depois do seu descanso e lazer para otimizá-los – e como lidar com as sensações negativas que às vezes vêm junto. Elas são bem menos prováveis se você souber escolher o momento certo – nosso primeiro tópico.

    Em um mundo ideal, suas férias precisam ser marcadas com, no mínimo, um mês de antecedência (mas quanto antes, melhor). Quem diz isso é Tatiana Plaza, psicóloga e executiva de recursos humanos. Segundo a especialista, essa gordurinha é fundamental para que você consiga se organizar, e não lide com nada relacionado ao trabalho nos seus dias de descanso e relaxamento.

    E como definir quantos dias seriam esses? Afinal, a lei permite que você usufrua os 30 dias numa batelada só (não importa se “ninguém tira na empresa”. Ainda é um direito seu, caso queira), ou que os parcele em períodos mais curtos, de, no mínimo, uma semana. 

    Para isso, é preciso analisar quatro fatores: sua posição na empresa, a sazonalidade do negócio, o calendário de sua família (e amigos próximos, caso a ideia seja fazer algo conjunto) e seu nível de cansaço. 

    Em relação à primeira questão, pergunte a si mesmo: qual minha importância dentro dessa cadeia operacional? Existem decisões que só eu posso tomar nesse período, ou isso pode ser delegado aos meus pares, superiores ou subordinados? Seja sincero consigo mesmo. Lembre-se: você tem direito de tirar férias, e saber delegar é uma soft skill bem vista dentro do mundo corporativo, não o contrário. Nada de ser fominha.

    Sobre os calendários empresariais e familiares, vai de você. Se você tem filhos que seguem o calendário escolar, se o produto ou serviço que sua empresa oferece é mais pujante no final de ano, se seus amigos só poderão tirar férias daqui a seis meses… Todos esses são fatores a serem considerados na hora de definir o melhor momento para tirar sua folga. 

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    E não se esqueça das suas necessidades psicológicas: não adianta esperar mais alguns meses para alinhar suas férias aos de seus familiares se você está exausto hoje, agora, lendo esta reportagem. Preste atenção nos sinais de burnout (amplamente detalhados nesta matéria de capa da Você S/A de março de 2022) e priorize, acima de tudo, o seu descanso. As pessoas que te amam irão entender.

    Mutirão de organização 

    Ok, tempo e data definidos, está na hora de se ajeitar para não deixar nenhuma ponta solta. 

    O primeiro passo é marcar uma reunião com seus colegas para avisar sobre suas férias, comunicar o que cada um vai precisar fazer durante sua ausência e, caso necessário, marcar papos individuais para envolvê-los no fluxo antes, com você. Além disso, lembre-se de comunicar outros possíveis interessados, como clientes, acionistas, colegas de outras áreas… e por aí vai.

    Todos estão cientes? Ótimo. Vamos desde já agendar um emailzinho automático nos dias escolhidos, caso alguém se esqueça (sempre vão). Deixe claro quando saiu e quando vai voltar, e aponte as pessoas que poderão ser contatadas em sua ausência.

    O segundo passo é matar no peito as tarefas mais urgentes de seu cargo, aquelas que não podem ser delegadas. Novamente: o ideal é que você escolha a data longe de eventos importantes da empresa, mas cada realidade é uma realidade. 

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    Está tendo dificuldades de definir o que é prioridade ou não? David Allen te salva. O consultor de produtividade criou o popular método de gerenciamento de tarefas Getting Things Done (traduzido para “A Arte de Fazer Acontecer”). 

    O pressuposto de Allen é simples: quanto mais informações você tem em sua cabeça, mais difícil é decidir o que precisa de atenção. Como resultado, você passa mais tempo pensando nas tarefas do que, bom… fazendo-as de fato. Para ajudar a desobstruir as vias de pensamento, ele estabelece cinco passos para você se concentrar nas coisas certas, nos momentos certos.

    Primeiro, capture tudo que precisa fazer antes de entrar nas férias em um caderno, planner, planilha… fica à sua escolha. Depois, analise cada item que registrou e veja o que vale (ou não) sua atenção. Feito isso, hora de organizá-los por categoria e prioridade; examiná-los para entender qual será o melhor planejamento e, então, executá-los. Não se deixe ser interrompido: o método é sobre realizar as tarefas completamente, não apenas organizá-las, ok?

    Nessa mesma linha, na semana que antecede seus dias off, deixe documentado, por escrito, todas as informações que podem ser relevantes a quem vai assumir suas funções. Senhas, acesso a planilhas, números de telefone, orientações gerais… Esses exercícios de antecipação são fundamentais para reduzir ao máximo as chances de você ser contatado por um colega em pânico. 

    Personagem arrumando a mala para sair para praia no plano de fundo vemos seu computador desligando.
    A cada dez horas adicionais de férias que o funcionário tira, seu desempenho melhora em 8%. [Ilustração: Carol D’Ávila/Você RH] (Carol D'Ávila/VOCÊ RH)

    Out of office

    Ok, enfim de férias. Como você deve organizar o seu tempo? O que você deve fazer? Em qual site as passagens para a Bahia são mais baratas?

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    Se você está fazendo essas perguntas no seu primeiro dia de folga, volte duas casas e tente novamente. “Não existe receitinha de bolo para o que você deve ou não fazer. O que importa é que isso seja definido antes, para que você possa se organizar da melhor forma possível”, aconselha Tatiana. 

    Independentemente de como você decidir usar esse tempo – fazer uma batelada de exames, visitar sua avó, fazer um curso de cerâmica ou marcar a viagem dos sonhos com queridíssimos –, o importante é que isso seja definido antes. Especialmente porque essa antecipação também ajuda (e muito) a reduzir a famigerada Culpa das Férias (mais sobre isso adiante).

    Ainda sim, Conrado Schlochauer, empreendedor e especialista em aprendizado contínuo, recomenda que você priorize aquilo que é diferente. “As férias são o momento de você beber o que o mundo te oferece. Priorize aquilo que pode te trazer aprendizados acidentais e pontos de vista diferentes. Isso te ajudará tanto na vida quanto no retorno ao seu trabalho”, aconselha. 

    E na volta?

    Se tudo for ajustado corretamente, a única coisa que você precisará fazer é voltar ao fluxo (isso depois de, muito provavelmente, ter de ler uma quantidade pouco ortodoxa de emails). Ainda sim, o ideal é que a comunicação que rolou antes aconteça depois também: especialmente porque as pessoas do seu time estão assumindo funções extras para que você possa tirar seu merecido descanso. 

    Marque conversas com os envolvidos, entenda o que aconteceu na sua ausência, faça os devidos agradecimentos. Aos leitores em posição de gestão, a psicóloga Tatiana Plaza reforça que esse é um ótimo momento para observar o progresso (ou não) dos membros da equipe, especialmente caso exista a possibilidade de promoções no horizonte.

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    No mais, só resta agendar o resto dos seus dias (caso tenha tirado menos que o mês) e ler o texto lá do comecinho. Não sem antes, caro leitor, resolvermos a última pendência deste guia…

    Visão superior dela tomando um banho de sol na areia com um recorte do seu celular no modo silencioso.
    Pessoas que tiram férias com maior frequência têm mais chances de serem promovidas – e menos chances de deixar a empresa. [Ilustração: Carol D’Ávila/Você RH] (Carol D'Ávila/VOCÊ RH)

    Usufrua sem culpa

    Ano passado, a Microsoft levantou um dado assustador: dos 31 mil entrevistados, 46% se sentem exaustos no trabalho. São pouco mais de 14 mil pessoas indo trabalhar todos os dias à beira do burnout

    Quando você chega a esse nível, sente fadiga cognitiva, tem dificuldades em se concentrar, começa a esquecer as coisas, não consegue resolver problemas da mesma forma… só para citar alguns problemas graves. E isso pesa no bolso das companhias: uma pesquisa da Gallup de 2023 mostrou que, nos Estados Unidos, as empresas perdem quase US$ 2 trilhões anualmente por causa de funcionários esgotados.

    “A ausência da pessoa é, sim, saudável. Tanto para ela quanto para a empresa, que precisa incentivar que ela tire esse tempo para si”, pontua Marco Tulio Zanini, professor e pesquisador na Fundação Getúlio Vargas. 

    Em contrapartida às desgraças, os benefícios são incontáveis. Uma pesquisa da Ernst & Young mostrou que, a cada dez horas adicionais de férias que o funcionário tira, seu desempenho melhora em 8%. E, ao contrário do que se pensa, outro estudo da Associação de Viagens dos EUA revelou que pessoas que tiram férias com maior frequência têm mais chances de serem promovidas – e menos chances de deixar a empresa. 

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    Enfim: férias são boas para todos os envolvidos. Descansar é fundamental para aprender, para crescer, para ter novas ideias e usufruir da sua criatividade. Para passar tempo e criar memórias com os seus. E também são boas para seu retorno, em que poderá tomar decisões e cumprir suas tarefas na empresa com muito mais facilidade.

    Por isso, nada de fazer cara feia quando o email do RH chegar, ok? Mais que um direito, elas são uma necessidade de seu corpo e mente. Bom descanso! 🙂

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    Este texto faz parte da edição 93 (agosto/setembro) da Você RH. Clique aqui para conferir outros conteúdos da revista impressa.

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