Você tem clareza do seu EVP para a empresa em que trabalha?
A Proposta de Valor ao Empregado deve se aplicar na direção inversa também. Uma relação de trabalho não é sustentável sem o equilíbrio entre dar e receber.

Muito se fala sobre a proposta de valor ao empregado. Discutimos o que as empresas oferecem, o que motiva os profissionais, quais benefícios importam e como criar vínculos mais autênticos. Mas raramente nos perguntamos o inverso: qual é a proposta de valor que o profissional entrega para a empresa? Em outras palavras, qual é o seu EVP como colaborador?
A sigla significa Employee Value Proposition (Proposta de Valor ao Empregado) e costuma ser usada para descrever o pacote que uma organização oferece ao seu time. Mas o conceito pode, e talvez devesse, se aplicar também ao indivíduo. Afinal, uma relação de trabalho não é sustentável quando há desequilíbrio na proporção entre dar e receber. A empresa que não entrega um EVP relevante perde talentos. E o profissional que não entrega uma contribuição real, relevante e atualizada se torna dispensável, mesmo que ninguém diga isso em voz alta.
O ponto aqui não é romantizar o trabalho nem negar os inúmeros contextos que impactam a motivação e a performance. Minha proposta é provocar uma reflexão honesta: o que você, como profissional, tem colocado na mesa? Sua entrega continua à altura do que você espera da organização? O valor que você oferece está atualizado com as necessidades da empresa, com as transformações do setor, com os desafios da sua área?
Muitas vezes, a percepção de estabilidade ou conforto pode levar à acomodação. O tempo de casa vira argumento, mas não necessariamente se traduz em impacto positivo para o negócio. E o desejo por mais reconhecimento ou melhores condições aparece sem que haja uma avaliação clara da própria entrega. Em alguns casos, o colaborador ainda repete o que funcionou anos atrás, mas o contexto mudou. A empresa mudou, o mercado mudou, as exigências mudaram.
Ter clareza sobre o próprio EVP é também um exercício de responsabilidade. É reconhecer os pontos fortes, os diferenciais, o valor que se agrega ao time e à estratégia. Mas é também identificar o que precisa ser revisto. Será que suas competências seguem sendo essenciais? Seu papel segue estratégico? Seu desempenho segue acima da média ou ficou no “bom o suficiente”?
Lifelong learning
São reflexões que precisam caminhar ao lado do compromisso com o aprendizado contínuo. Em um mercado de trabalho dinâmico, em que mudanças tecnológicas, sociais e culturais acontecem com rapidez, estar sempre se atualizando é uma necessidade, não um diferencial.
E não se trata apenas de educação formal. Aprendemos todos os dias, nas interações com colegas, na leitura de um artigo, na escuta de um podcast ou em uma palestra que nos provoca a enxergar diferente. A disposição de se colocar como eterno aprendiz, aberto a novas ideias e diferentes formas de fazer é o que mantém a contribuição viva e relevante. Quem para de aprender e de ter essa preocupação em estar em constante renovação corre o risco de parar de fornecer contribuições relevantes no dia a dia.
Vale lembrar que nem sempre o que você entrega é tangível. Pode ser sua capacidade de formar times, de sustentar a cultura, de criar segurança psicológica ou de resolver conflitos com leveza. Mas até essas entregas mais subjetivas precisam ser percebidas, reconhecidas e, idealmente, conectadas aos objetivos da empresa. Caso contrário, ficam invisíveis. E um EVP invisível perde força.
A melhor hora para revisar o próprio EVP não é quando surge uma ameaça, mas quando tudo parece bem. É nesse momento que você tem espaço para observar, ajustar rotas e buscar evolução. Lembrando que perguntar a si mesmo, com regularidade, o que está entregando e onde pode contribuir mais é um sinal de maturidade profissional e de compromisso com a própria trajetória.
Empresas que incentivam essa consciência nos profissionais têm times mais engajados, mais adaptáveis e mais alinhados com o que realmente importa. Afinal, o verdadeiro EVP é construído em via de mão dupla.