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Rafael Souto

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É CEO e fundador da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado, consultoria de gestão, recolocação e transição de carreira, membro do conselho da AMCHAM e ministra palestras sobre carreira e liderança
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A nova competência da liderança: saber construir futuros

A alfabetização sobre futuros, ou a capacidade de imaginar o futuro, foi definida como uma das competências mais relevantes para o profissional deste século

Por Rafael Souto, colunista de Você RH
Atualizado em 5 Maio 2022, 13h15 - Publicado em 27 abr 2022, 06h09
Duas mulheres conversam entre si. As duas estão sentadas. Uma delas é negra e tem os cabelos curtos loiros bem claros, a segunda tem traços orientais e é morena.
 (Pexels/Alexander Suhorucov/Divulgação)
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conceito de future literacy (alfabetização sobre futuros), criado pela UNESCO para definir a capacidade de imaginar o futuro, é uma das competências mais relevantes para o profissional do século 21. No último Fórum Econômico Mundial, realizado em 2021, o tema também foi incluído como uma das habilidades poderosas para o líder contemporâneo. Mas o que é alfabetização sobre futuros?

Segundo Riel Miller, um dos criadores da disciplina de alfabetização sobre futuros na UNESCO, significa ensinar a construir cenários e lidar com a imprevisibilidade.

O contexto incerto em que vivemos exige das lideranças contemporâneas uma nova habilidade: projetar cenários e criar ações no presente para preparar a organização para diversos futuros possíveis. Não se trata apenas de fazer uma aposta como se fosse escolher um número numa roleta, e sim refletir sobre tendências e definir ações. Essa alfabetização sobre o futuro é uma abordagem que coloca todo líder no papel de um construtor de possibilidades.

Nos modelos do passado, essa reflexão de cenários era feita por um grupo de pessoas que se escondiam numa sala para debater o futuro e traçar estratégias. Hoje, segundo Miller, essa habilidade precisa estar inserida num contexto mais amplo. Quanto mais estivermos preparados para compreender as diversas explicações e métodos para imaginar o futuro, menos razão teremos para temê-lo e melhor poderemos aproveitar oportunidades. O princípio-base para essa alfabetização é que as reflexões devem considerar cenários abertos. Os futuros são plurais — não existe um cenário único.

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Um dos erros mais comuns nesse debate é querer colonizar o futuro com ideias do presente e reduzir as opções. Como afirmam Jeanette Kæseler Mortensen, Nicklas Larsen, pesquisadores ligados ao Copenhagen Institute for Futures Studies, o risco está em considerar um futuro desejável e provável e, com isso, excluir novos fenômenos porque ficam ocultos nas reflexões.

A alfabetização em futuros está disponível por meio da disciplina de antecipação, que pode ser treinada e refinada para estabelecer familiaridade com o desconhecido. A disciplina da antecipação é a capacidade de tomar consciência das suposições sobre o futuro, e dominá-la nos permite ver a incerteza como um recurso — em vez de um inimigo do planejamento. Ao imaginar diferentes futuros, as pessoas podem se tornar cientes de sua capacidade de moldar e inventar novas suposições antecipatórias, e o ato de mudar essa capacidade de um estado inconsciente para um consciente é o início da alfabetização em futuros.

Debater cenários e pensar estratégias considerando a incerteza e a necessidade de construir repertório também é base da carreira moderna. O professor Mark Savickas, da Universidade de Ohio, trata desse tema pela ótica da carreira e traz o conceito de adaptabilidade. E uma das dimensões mais importantes da adaptabilidade é a consideração sobre o futuro. Propor cenários e debater possibilidades. Assim como a construção das organizações, a reflexão sobre a carreira também precisa prever cenários. Na era do protagonismo, é fundamental avaliar opções e tendências e fazer escolhas. O profissional que só considera o curto prazo e não projeta sua carreira tem risco de ficar obsoleto.

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A alfabetização sobre o futuro não é um tema simples. As agendas dos líderes estão cada vez mais abarrotadas de tarefas focadas no curto prazo. Enfiados em problemas operacionais e reféns da implacável necessidade de entregar metas a cada mês, não encontram tempo para debater o futuro.

Mas para termos empresas inovadoras precisamos de profissionais que pensem e construam os futuros possíveis. Para desenvolvermos uma organização inclusiva e preparada, precisamos de alfabetização sobre o futuro. E quanto mais pessoas estiverem envolvidas, mais significativa será essa construção.

Não vão acontecer futuros melhores e mais inclusivos até que reconheçamos que o futuro para todos não pode ser imaginado por poucos.

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