Petrobras nomeia funcionária PCD para gerência de inclusão
Com doença rara conhecida como “ossos de vidro”, Thais Pessanha assume cargo de gestão na companhia.
m maio deste ano, a Petrobras criou uma área focada na diversidade, equidade e inclusão dentro do RH. Para assumir a gerência do novo setor, a empresa nomeou Thais Pessanha. Ela já está há quase 20 anos na companhia, a maioria deles em cargos relacionados à tecnologia, e foi selecionada por meio de um processo com cerca de 160 candidatos.
Pessanha possui uma deficiência rara chamada osteogênese imperfeita congênita, mais conhecida como “ossos de vidro” – ou “ossos de cristal”, denominação preferida pela gerente por “soar mais chique”, segundo ela. A executiva foi, inclusive, uma das pessoas que carregaram a tocha das Olimpíadas e Paralimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.
Essa doença faz com que seus ossos sejam muito frágeis – o bastante para que ela, em seu primeiro ano de vida, tivesse sofrido 100 fraturas. “Paramos de contar. Mas hoje, aos 40 anos, já devo ter tido mais de 300”, diz.
Para participar da seleção à nova gerência da Petrobras, os funcionários deviam ter experiência em liderança – mas não só. Precisavam, também, fazer parte de grupos historicamente sub-representados, como mulheres, pretos e pardos, pessoas com deficiência e do grupo LGBTQIA+.
“A decisão foi pelo processo afirmativo. Ele foi divulgado internamente na companhia, que tem 40 mil funcionários”, afirma Carolina Rocha, gerente de cultura e clima organizacional. A seleção foi composta por análise curricular, uma breve apresentação realizada pelos candidatos e, por fim, entrevistas com o RH.
Executiva já escreveu livro sobre menina com deficiência
“A representatividade abre muitas portas. Temos um corpo técnico robusto, de letramento, com pessoas especialistas nas temáticas de diversidade, mas agora também temos o olhar de quem tem o lugar de fala e vivencia toda essa diversidade”, diz Thais Pessanha.
Seja no esporte ou no ambiente corporativo, a executiva mostra que pessoas com deficiência podem chegar a lugares incríveis. Seu novo cargo na Petrobras torna isso mais fácil. Recentemente, a companhia divulgou o teletrabalho para colaboradores com deficiência e subiu de 5% para 8% a reserva de vagas para o público PCD em seus processos seletivos.
“Assumir a nova gerência é motivo de orgulho, mas também um grande desafio. A Petrobras já possui um histórico de ações em prol da diversidade desde 2005. No entanto, há muito trabalho a ser feito. Estamos concluindo um plano para melhoria da acessibilidade e temos como prioridades ações que visam ao aumento da representatividade nos quadros da empresa e à sensibilização e ao treinamento da força de trabalho, entre outras medidas”, afirma.
Em setembro de 2021, Peçanha publicou seu primeiro livro, Sobre Rodas: Um espírito em movimento. Ela conta que, quando criança, suas referências de pessoas com deficiência na arte giravam em torno do Corcunda de Notre Dame e do Frankenstein. Na melhor das hipóteses, existiam também os super-heróis com mutações genéticas, mas que pouco ou nada se relacionam com a realidade. E ela queria mudar isso.
O livro conta a história de Olímpia, uma garota com osteogênese imperfeita congênita que ama esportes. O enredo aborda a vida real de uma pessoa com deficiência e sua capacidade de realizar seus maiores sonhos. “De onde vinha tanto atrevimento com a vida que impulsionava aquela cadeirante pequenininha, com um prognóstico de poucos anos de vida?”, questiona Thais Pessanha na sinopse.
Talvez do heroísmo que a nova executiva viu nos personagens mais inspiradores de sua infância. E que ela mesma está demonstrando com essa conquista.