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O home office flopou?

O número de vagas com a possibilidade de trabalho remoto entrou em queda livre. Mesmo assim, a maior parte das empresas tende a adotar o regime híbrido.

Por Michele Loureiro
Atualizado em 12 jun 2023, 09h35 - Publicado em 9 jun 2023, 07h00
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esde agosto do ano passado, os 2,9 mil colaboradores da B3, a bolsa de valores brasileira, estão sendo chamados de volta ao trabalho presencial. Por mais de dois anos, as atividades tinham ficado completamente remotas por causa da pandemia. Agora, há uma obrigatoriedade de 60% de presença nos escritórios, que ficam em três prédios no centro de São Paulo e na Avenida Faria Lima, coração financeiro da capital. Ainda que o modelo seja híbrido, no qual parte das atividades pode ser feita de casa, a mudança integra uma tendência que sinaliza o enfraquecimento do trabalho remoto total. Afinal, a era do home office chegou ao fim?

Ao que tudo indica, o retorno do presencial parece inadiável. Um levantamento exclusivo realizado pelo site de empregos Indeed para a VOCÊ RH mostra redução no número de oportunidades a quem deseja trabalhar sem sair de casa. Apenas 7,7% das vagas anunciadas no Brasil tinham a possibilidade de home office em março de 2023. O auge desse índice foi verificado um ano antes, quando 12,6% incluíam o trabalho remoto.

No LinkedIn, as proporções são outras, mas o sinal de declínio é igualmente forte. Em fevereiro deste ano, de acordo com dados do LinkedIn’s Economic Graph, quase 25% das vagas publicadas na rede mencionaram a possibilidade de trabalhar remotamente, incluindo o formato híbrido. Um ano antes, eram 39% do total. O fenômeno se torna ainda mais radical lá fora. Nos Estados Unidos, a proporção de vagas para trabalho remoto ou híbrido era de apenas 12,2% em fevereiro. No Reino Unido, de 10,6%.

Recentemente, várias empresas de grande porte anunciaram que os funcionários devem, sim, voltar para os escritórios. Na Walt Disney agora são quatro dias por semana na sede. A Amazon determinou pelo menos três dias. O Starbucks pediu aos funcionários, ainda em modelo híbrido mais livre, que aumentassem a presença. Em março, Mark Zuckerberg disse em uma carta aos funcionários da Meta que o tempo que passam reunidos ajuda a construir melhores relacionamentos ­– e cobrou que dessem as caras por lá.

Renata veste preto e posa para a foto
Renata Caffaro, da B3: “A proximidade faz parte da nossa cultura. Nos níveis mais juniores, o trabalho flui melhor com a presença”. (Wanezza Soares/Divulgação)

Nesse comunicado, o fundador do Facebook afirmou que uma análise interna dos dados de desempenho dos funcionários sugere que no presencial eles “fazem mais” e pediu esforços para os colaboradores comparecerem aos escritórios – ainda que, por ora, mantenha o modelo híbrido. A fala, após demissões em massa e o aviso de que haverá novos cortes, acabou soando como uma ameaça.

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Renata Caffaro, diretora de pessoas da B3, garante que o retorno ao presencial não é encarado de forma negativa na empresa. Para ela, o formato híbrido é o “encontro perfeito de dois mundos”. “Essa proximidade faz parte da nossa cultura. Nós queremos que os empregados vivenciem os encontros. Especialmente nos níveis mais juniores, o trabalho flui melhor com a presença. Em contrapartida, nós também acreditamos na flexibilidade do remoto e mantivemos a possibilidade desse formato ao adotarmos o modelo híbrido”, diz.

Gráfico "Modelo híbrido traz maior qualidade de vida"
(VOCÊ RH/VOCÊ RH)

Ela explica que a volta ao escritório não foi de supetão. Os funcionários foram previamente comunicados sobre o retorno e, no início, a presença requerida era de 40% no mês. “Agora chegamos ao nível de três vezes por semana e não pretendemos ampliar a obrigatoriedade”, afirma a executiva. Segundo ela, na área de tecnologia, há apenas 40% de exigência de presença, e 3% da companhia ainda faz teletrabalho por situações especiais.

“A mensagem-chave é que vínculo gera engajamento. Por isso, temos um olho dentro e um olho fora da empresa, e tem sido muito positivo para os nossos resultados.” No entanto, ela assume que há desafios. A adesão ao formato oscila entre 50% e 60% da equipe. “Para nós é um bom nível, pois temos absenteísmo, pessoas em convenções e situações específicas. Quando há casos críticos de falta de presença, falamos com as lideranças para compreender por que aquele colaborador não está cumprindo o combinado.”

Uma movimentação semelhante aconteceu no Grupo Trigo. Dona das marcas Spoleto e China in Box, a organização possui cerca de 1,4 mil funcionários, sendo que 340 atuam em escritórios nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Até o primeiro mês deste ano, nenhum colaborador precisava atuar presencialmente, mas agora a regra mudou: a companhia passou a exigir presença pelo menos três vezes por semana.

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“A empresa vem crescendo, os projetos estão evoluindo em ritmo acelerado, e a dinâmica do presencial nos traz maior agilidade nas decisões. Com o trabalho híbrido, sentimos um fortalecimento nas relações e, até mesmo, na cultura organizacional”, diz Mariana Castello, gerente de gente e cultura.

Equilíbrio com home office gera produtividade

O Brasil tem 20,4 milhões de pessoas com ocupações que podem ser adaptadas para o home office, o que equivale a 24,1% do mercado de trabalho, segundo cálculo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mesmo assim, muitas companhias têm deixado de lado a opção do modelo remoto, alegando motivos como área de atuação e mais produtividade.

Maiana veste um vestido amarelo florido
Mariana Castello, do Grupo Trigo: “Os projetos estão evoluindo, e a dinâmica do presencial nos traz maior agilidade nas decisões”. (Divulgação/Divulgação)

É o caso do Grupo Cataratas, empresa de turismo responsável por atrações como AquaRio, BioParque do Rio, Cataratas do Iguaçu e Marco das Três Fronteiras. Com 1,8 mil funcionários, a empresa retornou ao modelo totalmente presencial em sua área administrativa há um ano. O argumento é que a decisão visa gerar maior impacto positivo nos visitantes.

Ainda que as alegações para o fim do trabalho remoto estejam na ponta da língua nas empresas, estudos mostram que muitas delas podem não ser reais. Segundo uma pesquisa de Nicholas Bloom, economista da Universidade Stanford, a produtividade geral de empregados que adotam o trabalho remoto pelo menos duas vezes na semana é de 3% a 4% maior do que a de pessoas que precisam ir todos os dias ao escritório.

Além disso, uma pesquisa da Indeed realizada em maio de 2022, com 858 trabalhadores brasileiros, enumerou os seguintes fatos sobre o home office: 65% dos entrevistados se consideram mais produtivos, 70% afirmaram que se sentem menos estressados, e 58%, que conseguem administrar melhor suas horas quando estão trabalhando no conforto de casa.

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Em contrapartida, o temor da falta do presencial e da ida facultativa ao escritório ainda deixa os profissionais em estado de atenção: 62% acham que só têm chances de serem promovidos se trabalharem presencialmente.

“O maior problema da retomada do presencial é o descompasso entre o desejo dos profissionais e o que as empresas estão oferecendo. Há muitos temores entre as equipes e muitos argumentos rasos nas empresas”, diz Bloom.

Fator de atração e retenção

Além da produtividade, os pilares de atração e retenção de talentos são diretamente impactados pelo modelo de trabalho escolhido pela empresa. Pensar nessas questões foi uma das estratégias usadas pela Beiersdorf, empresa detentora das marcas Nivea e Eucerin, com 600 funcionários no Brasil.

“As pessoas estão atentas e mais propensas a permanecer em cargos que se conectem com seu perfil e estilo de vida, preservando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, diz Juan Pablo Leymarie, diretor de gente e gestão.

A companhia adotou o formato remoto durante a pandemia e, no começo de 2022, resolveu migrar para o modelo híbrido, com presença obrigatória duas vezes na semana. Para o executivo, o formato possibilita reencontro, troca de experiências, integração e agendas estratégicas.

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Além disso, ele afirma que a atração de talentos ganha mais possibilidades, já que o formato permite recrutar profissionais de diferentes regiões geográficas para algumas posições. “O trabalho híbrido se tornou um benefício inegociável para algumas pessoas. Por isso, é importante entender as preferências e necessidades desses talentos, mantendo a mente aberta para dialogar”, afirma.

Gráfico "Os setores com mais home office no Brasil"
(VOCÊ RH/VOCÊ RH)

A lógica parece fazer sentido. De acordo com um levantamento da consultoria Robert Half, 57% dos profissionais empregados estão dispostos a procurar um novo trabalho caso a empresa opte pelo retorno ao 100% presencial.

“O contexto reserva desafios às empresas que, sem justificativa, optarem pelo retorno totalmente presencial das atividades. Fica cada vez mais evidente que a dificuldade de adaptação às transformações do mercado criará obstáculos na contratação de bons talentos, além de dificuldade na retenção de profissionais-chave”, diz Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul.

De acordo com a pesquisa, o modelo híbrido será adotado por 59% das empresas entrevistadas. Já 30% optam pelo totalmente presencial; e apenas 6%, pelo home office integral. Os 5% restantes ainda não têm uma política definida.

Os especialistas da consultoria acreditam que o modelo híbrido é a chave para o mercado de trabalho em áreas e profissões nas quais o sucesso do negócio não depende da presença física. No fim das contas, o essencial é saber combinar o ponto de vista da organização com as necessidades e desejos de quem a transforma em sucesso ou fracasso: seus profissionais

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