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Entrevista: Diego Barreto, CEO do iFood no Brasil

O executivo assumiu a operação numa fase de grandes transformações, quando a empresa vai do famoso app de comida até um ecossistema amplo de serviços.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 29 nov 2024, 15h17 - Publicado em 29 nov 2024, 13h48
Imagem de homem de barba, vestindo preto, sorrindo.
 (Celso Doni/VOCÊ RH)
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Poucos líderes conseguem equilibrar a gestão de uma empresa – no caso, uma das maiores de tecnologia no país – com uma produção intelectual relevante. O atual CEO do iFood no Brasil, é um desses raros exemplos. À frente da empresa desde maio de 2024, Diego Barreto não apenas lidera uma das principais plataformas de delivery do mundo, mas também é autor de dois best-sellers: O Cientista e o Executivo: Como o iFood alavancou seus dados e usou a inteligência artificial para revolucionar seus processos, criar vantagem competitiva e se tornar um case mundial de sucesso, e Nova Economia: Entenda por que o perfil empreendedor está engolindo o empresário tradicional brasileiro.

Suas obras são verdadeiros guias sobre o impacto da transformação digital na sociedade e nas organizações, reforçando sua autoridade como pensador estratégico em tempos de mudanças rápidas.  

Sob sua liderança, o iFood tem passado por uma das fases mais pujantes de sua trajetória. Originalmente conhecida como um app de delivery de comida, a empresa agora se posiciona como um ecossistema mais amplo, agregando negócios diversos, como fintech B2B, soluções de Banking as a Service e benefícios corporativos. Também incorporou novas iniciativas em sustentabilidade e inteligência artificial – inclusive no RH. Essa transição reflete não apenas uma adaptação às demandas do mercado, mas também a visão de um líder que acredita na construção de um impacto além do core business.  

Nesta entrevista exclusiva para a Você RH, o executivo compartilha como sua experiência como autor e líder tem influenciado sua abordagem no desenvolvimento do iFood, os desafios dessa transformação e o papel da cultura organizacional nesse processo. Afinal, liderar vai além de atingir metas financeiras; é construir um legado que inspire pessoas e promova inovação sustentável.

Confira a entrevista e leia os livros.

Como sua experiência de escrever dois best-sellers o ajudou na trajetória até o cargo de CEO do iFood?

Sou apaixonado por educação, tanto que eu dou aula desde o meu quarto ano de faculdade, e não é por causa da grana. Uma parte disso envolve muita escrita, e escrever me permite entrar em estado de flow, que é aquela capacidade que você tem de ir para um nível de concentração tão grande e aquilo te traz felicidade. O fato de escrever e de dar aula, em algum momento, me levou a começar a pensar e ter algumas ideias próprias sobre como a gente organiza este país, que podia ser 30 mil vezes melhor para todos, e a gente consegue estragar. Após fazer MBA no exterior, essas reflexões me levaram a perceber como o mundo estava mudando: antes, para abrir um banco você precisava construir uma agência; para ter um carro que transportasse pessoas pela cidade, necessitava ter um táxi e enfrentar a burocracia de conseguir uma licença da prefeitura; para trabalhar no setor de comida, precisava construir um restaurante. Aí surgiram softwares descentralizando e barateando esses meios de produção. Isso me levou a explorar na prática essas transformações.

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Como definiria seu estilo de liderança?

Sou um líder contextual. Não aquele executivo especialista em resolver uma questão de fase de crescimento da empresa, ou quando há muita rotatividade, ou quando a marca quer internacionalizar. Sou marcado como um gestor que consegue entender o que está acontecendo, ler, adquirir mais elementos e fazer com que aquilo aconteça. O iFood tem uma cultura baseada em dois pilares principais, que eu preciso fazer acontecerem: empreendedorismo – que significa se dedicar 80% do tempo superando desafios – e ambidestria, a capacidade de trabalhar com aspectos aparentemente contraditórios simultaneamente. É a pessoa que trabalha com inovação e analítica ao mesmo tempo. O iFood tem processos, às vezes, mais duros, ou mais inovadores, momentos de mais restrição também, momentos de aceleração… então eu tenho essa facilidade de me ajustar ao contexto.

Eu sei que o seu antecessor tinha uma missão de inovação, de expansão do iFood. Você chegou para dar continuidade ao trabalho que já vinha sendo feito ou ter alguma mudança de rumo?

Essa resposta envolve alguns tabus. Todas as vezes que a gente pensa num CEO chegando, a sensação que dá é que tem um ciclo se fechando e outro se abrindo. Eu acho que grande parte das pessoas olha dessa forma porque não existe cultura nas empresas de dinheiro. Só que, no momento que existe cultura, você não faz tiradas para um lado e para o outro. Claro, você tem seu estilo e pensamentos próprios, mas tem de seguir a cultura. Então o que eu estou querendo dizer aqui é que a gente respeita demais a cultura do iFood. Na hora que sair o Diego, a pessoa que vai me substituir vai dar continuidade a essa cultura. E qual é a nossa cultura?  Ela não é definida por planos. É uma cultura marcada por muito teste. É a partir de testes que decidimos os caminhos que vamos tomar.

Qual foi sua principal descoberta desde que começou como CEO?

Descobrimos que podemos ir além do aplicativo de delivery. Hoje, 20% dos pedidos são feitos fora do app, como pelo WhatsApp e totens em restaurantes. Identificamos também nosso potencial em serviços financeiros, pagamentos e crédito para restaurantes, criando ferramentas como o iFood Articulo Pago, que abraça esses fluxos de pagamento para compreender melhor o restaurante e devolver isso sob uma forma de crédito, e o iFood Salão, o totem para pedidos que apoia a jornada dos empreendedores dentro do próprio salão do restaurante. Isso aconteceu porque, à medida que saímos do app e vamos entrando em outros momentos da jornada de um negócio de comida, conseguimos ter uma visão muito maior do quão bom operacionalmente ele é, e do quão necessitado ele é de uma determinada demanda financeira. Então passei a posicionar a empresa para olhar isso mais de perto

Como a inteligência artificial está sendo aplicada no iFood?

Trabalhamos com IA desde 2021, começando pela infraestrutura de dados. Criamos um assistente no Slack que ajuda os times a realizar tarefas como criar promoções para restaurantes. No RH, desenvolvemos o ONA, um sistema que analisa interações organizacionais, minimizando vieses nas avaliações e gerando insights sobre relacionamentos internos.

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Quais desafios você enxerga como CEO?

Os maiores são pessoais e organizacionais. Pessoalmente, lidar com uma agenda muito inorgânica, fazendo cerca de 30 viagens em seis meses. Organizacionalmente, ser o centro onde todas as contradições da empresa se encontram, equilibrando diferentes perspectivas e necessidades.

Como está lidando com a complexidade de transformar o iFood de um app de delivery para um ecossistema mais amplo?

Não faço mudanças premeditadas, mas seguimos nossa cultura de teste e aprendizado. Cada decisão surge de resultados práticos, não de apresentações. Nosso foco é continuar testando, observar os resultados e decidir os próximos passos baseados no que aprendemos.

 

Este texto é parte da edição 95 (dezembro e janeiro) da Você RH que chegará às bancas na próxima sexta-feira (6). Acompanhe nosso site e nossas redes sociais para não perder esse lançamento. 

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