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Unidas pela liderança: por que a solidariedade entre executivas é importante

Em seu livro "Mulheres que Lideram Jogam Juntas", Daniela Bertoldo reflete sobre as dificuldades que elas têm para chegar ao topo da empresa – e defende que a sororidade é o melhor caminho.

Por Redação
Atualizado em 15 mar 2024, 10h08 - Publicado em 15 mar 2024, 09h46
Mulheres que Lideram Jogam Juntas
 (Montagem sobre reprodução/VOCÊ RH)
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A maioria de nós ainda reluta em se deixar influenciar pela opinião das mulheres. E resistimos à ideia de mulheres exercendo autoridade sobre nós.” A afirmação é da pesquisadora britânica May Ann Sieghart, que cobriu temas do cotidiano e do feminismo como editora sênior e colunista do The Times ao longo de 20 anos. Ela não está errada.

O Índice de Liderança de Reykjavik, um estudo internacional anual que examina como as pessoas percebem as lideranças femininas, apontou o seguinte na edição de 2022: só 47% dos profissionais disseram se sentir confortáveis em ter uma mulher como CEO da empresa. E trata-se de uma piora. Em 2021, essa proporção era de 54%.

Os estudos também mostram que a trajetória feminina para a liderança é mais árdua, já que elas têm menos oportunidades de se expressar em suas organizações.

Uma pesquisa feita pelo cientista social Christopher Karpowitz, da Universidade Brigham Young, nos EUA, constatou que homens falam, em média, durante 75% do tempo em reuniões de trabalho em que há eles e elas. Sobra pouco para a profissional opinar, compartilhar ideias inovadoras e demonstrar atitudes de líder.

Segundo Daniela Bertoldo, mentora no programa Nós por Elas, do Instituto IVG, os desafios das mulheres para obter uma posição de liderança têm muito a ver com a falta de união delas no ambiente de trabalho. “Basta olhar o comitê executivo de uma empresa. Quando há uma mulher no grupo de muitos homens, ela se sente especial e, em vez de apoiar o movimento e vender outras mulheres, faz alianças com os homens para preservar sua posição.”

Seu livro, Mulheres que Lideram Jogam Juntas, defende a construção de uma cultura de colaboração e apoio entre as profissionais de alto escalão para que mais delas tenham voz de comando na companhia. Confira no trecho a seguir.

Capítulo 4: O poder da sororidade – um novo paradigma para as empresas

Promover a igualdade de gênero nas empresas, por mais desafiador que seja, é crucial para que todas nós possamos ter a oportunidade de desenvolver nosso potencial pleno. Precisamos não só de mais mulheres na liderança como também de mais mulheres que assumam a liderança conscientes de suas escolhas e de seu papel transformador.

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A sororidade é o caminho. A palavra, que vem do latim, significa algo como “solidariedade entre irmãs” e busca promover a empatia, a união e o acolhimento entre mulheres, rompendo com a ideia de competitividade. Há quem cresça profissionalmente passando por cima das colegas e alimentando um clima de rivalidade, mas isso só contribui para um ambiente tóxico que gera problemas de saúde mental e emocional, e pode limitar a carreira. Temos de investir no sentido contrário, unindo esforços, criando oportunidades e celebrando conquistas de nossas semelhantes.

Segundo um estudo da Forbes, realizado com empresas americanas, a sororidade é como um pilar que acomoda a diversidade e a pluralidade nas equipes, e ressignifica o trabalho de cada integrante do time. 

Ou seja, ao reconhecermos as nossas próprias forças e aprendermos a usá-las a nosso favor, contribuímos para construir uma cultura de irmandade que faz todas as mulheres crescerem juntas. De maneira colaborativa, fica mais fácil superar obstáculos e a discriminação que ainda enfrentamos no mundo empresarial – e fora dele também.

Parece um sonho distante? Nem tanto. A força feminina é poderosa e capaz de impulsionar novos paradigmas nas lideranças das empresas. E é plenamente possível criar culturas inclusivas, capazes de melhorar as corporações. Isso já vem sendo feito por meio de novos modelos de gestão, com processos e políticas direcionados para a diversidade.

A diversidade é o assunto hoje nos departamentos de RH – que, aliás, são quase sempre liderados por mulheres – e precisa estar presente não só em ações pontuais ou voluntárias. É necessário um trabalho institucional, previsto nas metas e ações da organização, com profissionais, planejamento e verba alcançados, a partir de um alinhamento direto com a alta liderança.

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E não podemos excluir os homens desse cenário, pois precisamos de aceitação e respeito mútuo para celebrar a diversidade de todos os tipos. O que você pode fazer para incentivar a sororidade na sua empresa:

  • Pratique a empatia, a escuta e o companheirismo, reduzindo assim o clima competitivo entre mulheres.
  • Estimule a autoestima das colaboradoras com atividades e oportunidades de desenvolvimento ligadas aos desafios que poderão enfrentar em cargos de liderança.
  • Valorize os pontos fortes e fracos da sua equipe – ao respeitarmos umas às outras, os homens também passarão a fazê-lo.
  • Compartilhe suas vulnerabilidades e crie chances para uma maior conexão com seu time.
  • Promova processos de coaching e mentorias para dar oportunidades de liderança a outras mulheres e às novas gerações de meninas.
  • Comemore os sucessos: reconhecer e celebrar as realizações das colegas promove um ambiente de trabalho positivo e aumenta a confiança e a motivação.

[…]

Uma conversa construtiva e positiva

Considere o caso de Ana, uma gerente regional de vendas em uma grande empresa de benefícios. Ela percebeu que, embora fosse uma das mais experientes da equipe, suas opiniões não eram levadas tão a sério quanto as de seus colegas homens – seus comentários nas reuniões nem sempre eram considerados nos debates com os colegas. Ela também observou que as outras mulheres da equipe pareciam não estar enfrentando o mesmo problema.

Ana não queria simplesmente aceitar a situação, e decidiu agir: começou a documentar ocasiões específicas em que sentiu que suas ideias foram ignoradas ou subvalorizadas. Então abordou o problema diretamente com sua gerente executiva, apresentando-o com os exemplos específicos que havia coletado. Ana fez questão de manter a conversa positiva e construtiva, expressando seu desejo de contribuir mais efetivamente para a equipe e para a empresa.

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Ela não acusou seus colegas de serem sexistas, mas destacou a importância de garantir que todas as vozes fossem ouvidas e respeitadas. A gerente de Ana ficou surpresa ao ouvir sobre suas experiências e agradeceu por ela ter trazido o problema à tona. Em resposta, a gerente implementou treinamentos de conscientização e mudanças na estrutura das reuniões para garantir que todos tivessem a oportunidade de contribuir. Ao dar voz aos seus problemas de maneira assertiva e construtiva, Ana conseguiu criar uma mudança positiva não só para ela, como também para todas as mulheres da equipe.

Contratar mulheres

As mulheres muitas vezes enfrentam preconceitos inconscientes que podem limitar suas oportunidades de emprego. É importante fazer uma revisão de processos de RH relacionados à atração e à retenção – haja vista que muitos ainda seguem a lógica machista que tende a priorizar os homens – e adaptá-los ao contexto atual, garantindo um número equilibrado de profissionais qualificados, de ambos os gêneros, em todos os níveis hierárquicos.

Programas de desenvolvimento e acompanhamento de carreira, com processos internos de avaliação e desempenho, têm de considerar as mulheres tanto quanto os homens. E, para cargos iguais, os salários têm de ser iguais também – por que não? A presença feminina em posições de liderança faz com que as mulheres se sintam representadas e vejam que é possível atingir posições de alto comando. Diversos estudos já mostraram a importância do equilíbrio de gênero nas empresas. Um deles, feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), com 2 milhões de empresas em 34 países europeus, revelou que uma maior diversidade de gênero em cargos de liderança está associada a uma maior rentabilidade. A pesquisa apontou uma elevação de 8% a 13% de rendimento dos ativos dessas organizações.

Apoiarmos umas às outras, crescendo juntas

Ao longo da minha carreira, tive a sorte de ser mentora e mentorada ao lado de mulheres incríveis. Uma experiência que tem tudo a ver com o poder da sororidade e me marcou profundamente foi a minha relação com Laura, uma jovem profissional que orientei durante dois anos.

Quando a conheci, ela estava no início de carreira, cheia de energia e ambição, mas se sentia perdida e insegura sobre como “navegar” no mundo corporativo. Ela estava lidando com desafios que eu mesma tinha enfrentado no início da minha carreira – o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, a pressão para provar seu valor e o desafio de fazer sua voz ser ouvida.

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Durante as sessões de mentoria, trabalhamos juntas para que ela pudesse superar esses desafios. Compartilhei com ela as lições que aprendi ao longo da minha carreira e a ajudei a desenvolver estratégias para enfrentar esses obstáculos. Falei, por exemplo, sobre como se posicionar em uma reunião de diretoria para vender seu projeto e dei dicas de como conduzir uma reunião com a equipe, gerando confiança e motivação. Também a ajudei a elaborar um plano de metas para os próximos três anos, buscando cursos e livros para embasar a proposta, e dei dicas de como ter uma fala assertiva nesse cenário.

Foi uma experiência incrivelmente gratificante ver Laura crescer e se desenvolver profissionalmente. Hoje, ela é uma líder confiante e eficaz em sua organização. Laura não apenas superou os desafios que enfrentava como também está ajudando a mentorar outras mulheres em sua empresa. Ao apoiarmos umas às outras, podemos superar os desafios que enfrentamos e crescer juntas.

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Este texto faz parte da edição 90 (fevereiro/março) da VOCÊ RH. Clique aqui para conferir os outros conteúdos da revista impressa.

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