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“Somos programados para sentir o que os outros sentem”, diz autor

Em novo livro, o best-seller Leonard Mlodinow questiona a crença de que emoções e trabalho não combinam

Por Redação
Atualizado em 6 jun 2022, 10h08 - Publicado em 3 jun 2022, 06h04
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  • Mulher sentada ao gramado segura um espelho e vê sua imagem sorridente refletida nele
     (Caroline Veronez/Unsplash/Divulgação)
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    onhecido por obras de grande sucesso, como O Andar do Bêbado e Subliminar, o físico estadunidense Leonard Mlodinow afirma no recém-lançado Emocional — A Nova Neurociência dos Afetos que os sentimentos podem ser disseminados entre as pessoas, produzindo um “contágio”. E questiona a crença de que o pensamento racional deve prevalecer nas tomadas de decisão. “Estudos sobre inteligência emocional mostram que os líderes empresariais, políticos e religiosos mais bem-sucedidos em geral são os que conseguem controlar suas emoções e usá-las como ferramentas ao interagir com os outros”, revela. O trabalho traz reflexões importantes não só para o desenvolvimento pessoal mas também para inspirar empresas a criar ambientes corporativos saudáveis, em que a cultura tóxica não se espalhe. Veja mais no trecho a seguir

    A emoção geralmente afeta nossos pensamentos, decisões e comportamentos para o bem; não é bom ser insensível às emoções. Por outro lado, ser demasiado sensível pode complicar a vida. Não existem certo e errado em um perfil emocional, mas alguns perfis podem tornar a vida mais fácil, enquanto outros causam dores desnecessárias ou interferem na vida que você gostaria de ter.

    Administrando as emoções
    Nós somos programados para sentir o que os outros sentem. Na verdade, estudos de imagens mostram que as estruturas cerebrais ativadas quando sentimos nossas emoções são automaticamente ativadas quando observamos essas emoções nos outros.
    A disseminação da emoção de pessoa para pessoa, em uma instituição ou mesmo por toda uma sociedade é um subcampo importante da nova ciência da emoção, com um número de estudos anuais dez vezes maior nos últimos anos. Os psicólogos chamam esse fenômeno de “contágio emocional”.

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    Você conversa com uma colega. Percebe que se sente um pouco desconfortável. Começa a ficar ansioso. Quando se afasta, lembra que estava se sentindo bem antes de começar o bate-papo. Percebe que aquela colega costuma ter esse efeito sobre você. Ela tem uma tendência à ansiedade, e você sente o mesmo depois de falar com ela. Por que isso acontece?

    Historicamente, a sobrevivência humana dependia da capacidade de funcionar dentro de um contexto social. Precisamos entender os outros e encontrar maneiras de estabelecer uma conexão. Sincronizar emoções facilita essa conexão. Como consequência, os humanos, assim como outros primatas, são mímicos inatos. Os interlocutores numa conversa tendem a sincronizar seus ritmos. Quando os bebês abrem a boca, as mães também tendem a abrir. Nós imitamos sorrisos, expressões de dor, afeto, constrangimento, desconforto e aversão. Até o riso é contagioso. (…) Um dos efeitos do contágio emocional é que o grau de felicidade das pessoas tende a refletir o de seus amigos, familiares e vizinhos. De certo modo, nós somos aqueles com quem convivemos. (…) Pessoas cercadas por pessoas felizes tendem a ser felizes e são mais propensas a ser felizes no futuro — pela disseminação da felicidade, e não só pela tendência de se associar a indivíduos semelhantes.

    O mais surpreendente de todas as novas pesquisas sobre contágio emocional vem de estudos que mostram a facilidade com que isso acontece. Você não precisa entrar em contato com alguém, nem mesmo falar com ninguém pelo telefone; nossas emoções podem ser influenciadas via mensagens de texto ou pelas redes sociais. (…)

    Como muitos aspectos da emoção, o contágio emocional, apesar de vantajoso no nosso passado evolutivo, nem sempre é benéfico na sociedade atual.

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    Mas sob um aspecto isso implica uma lição muito importante e otimista: se as caras feias e as mensagens de texto dos outros podem alterar nosso estado emocional, nós também deveríamos poder fazer a mesma coisa. E as pesquisas mostram que de fato é possível assumir o controle das nossas emoções.

    A mente sobre as emoções

    Como a maioria das nossas emoções evoluiu numa época em que a vida era bem diferente, é provável que em alguns momentos elas não sejam ideais para as nossas necessidades de hoje. Em particular, estados emocionais excessivamente intensos podem ter um lado negativo.

    A ansiedade se desenvolveu para nos tornar mais cuidadosos, mas quem sabe também não desencadeie o pânico. A tristeza pela perda de alguém nos lembra de algo importante, mas talvez oblitere a esperança ou o otimismo e se transforme em depressão. A raiva nos motiva a enfrentar a situação que a gerou e aumenta os níveis de adrenalina para estimular a reação, mas também pode fazer com que você aja afastando os outros, o que frustraria seus objetivos.

    Todos nos deparamos com situações em que a modulação da emoção seria benéfica. Há momentos em que é melhor esconder ou suprimir nossos sentimentos, pois eles podem ser vistos como não profissionais ou inapropriados. Ou ocasiões em que, para o nosso próprio bem-estar, queiramos diminuir a intensidade do que estamos sentindo. Estudos sobre inteligência emocional mostram que os líderes empresariais, políticos e religiosos mais bem-sucedidos em geral são os que conseguem controlar suas emoções e usá-las como ferramentas ao interagir com os outros. Embora as pontuações de QI às vezes estejam em correlação com habilidades cognitivas, o controle e o conhecimento do próprio estado emocional são os fatores mais importantes para o sucesso profissional e pessoal. (…)

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    Nos humanos, a regulação da emoção tem benefícios físicos e psicológicos. Está correlacionada, por exemplo, com a melhor saúde física, especialmente no que diz respeito a doenças cardíacas. (…)

    Os cientistas ainda não entendem bem esse mecanismo, mas especulam que a regulação da emoção diminui a atividade do sistema de resposta ao estresse do corpo.

    Quando você está em perigo físico iminente, a resposta ao estresse o prepara para o conflito. Ela aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca, contrai os músculos, dilata as pupilas para a pessoa enxergar melhor. Isso é útil se você estiver prestes a enfrentar o ataque de hienas nas savanas dos nossos ancestrais; mas já não é tão útil quando o ataque é verbal e vindo do seu chefe. E tem um custo: a resposta ocorre pela liberação de hormônios do estresse, que têm um efeito inflamatório já vinculado a doenças cardiovasculares e outras enfermidades.

    Tendo em vista os benefícios da capacidade de controlar as emoções, não surpreende que as pessoas venham adotando muitos métodos para atingir esse objetivo ao longo do tempo.

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    Alguns funcionam; outros, não. Só nas duas últimas décadas os psicólogos de campo se concentraram em discernir esses métodos, estudando e validando a eficácia das várias abordagens. A seguir, vou falar sobre três das mais eficazes: aceitação, reavaliação e expressão.

    Aceitação: o poder do estoicismo

    (…) O estoicismo costuma ser mal interpretado. É associado à ideia de que a riqueza ou mesmo o conforto são ruins. Mas não é isso que o estoicismo ensina. (…) O que os estoicos diziam é que não se deve ser psicologicamente escravizado pelas emoções: não ser manipulado por elas, e sim estar ativamente no comando. (…) A filosofia estoica era isto: assumir o controle da própria vida, aprender a trabalhar nas coisas que estão ao seu alcance para realizá-las ou mudá-las, e não desperdiçar energia com algo que não pode mudar ou realizar. (…)

    Se você realmente aceitar essa filosofia e integrá-la ao seu modo de vida, vai evitar ou mitigar muitos estados emocionais que desperdiçam energia.

    Reavaliação: o poder da flexibilidade

    Entender o que acabou de acontecer é uma das fases pelas quais o cérebro passa à medida que uma reação emocional se desenvolve.

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    Alterar o curso de como o cérebro interpreta alguma coisa é uma forma de provocar um curto-circuito no ciclo que resulta numa emoção indesejada. Os psicólogos chamam esse pensamento mais orientado de “reavaliação”.
    A reavaliação envolve reconhecer o padrão negativo desenvolvido nos seus pensamentos e mudar para um modelo mais desejável, mas sempre com base na realidade. (…)

    Expressão: o poder das palavras

    (…) Ao contrário do que nos diz a sabedoria popular, expressar as emoções negativas indesejadas ajuda a neutralizá-las.

    Psicólogos clínicos descobriram que conversar é mais eficaz quando envolve amigos de confiança ou alguém considerado importante, principalmente se essas pessoas já passaram por problemas parecidos. (…)

    O simples ato de escrever sobre experiências perturbadoras por vezes reduz a pressão arterial, ameniza sintomas de dor crônica e aumenta a função imunológica. (…)

    Ao longo de muitos séculos de pensamento humano e erudição, a emoção sempre esteve atrelada à má reputação, e era difícil mudar isso. Mas nos últimos anos, graças em grande parte aos avanços da neurociência, os pesquisadores remodelaram a maneira como vemos as emoções. Hoje sabemos que as situações em que a emoção é contraproducente são a exceção, não a regra.

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