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Setembro Amarelo: o RH não pode ser o único responsável pela saúde mental no trabalho

Campanhas isoladas não bastam. É preciso redesenhar metas e processos com apoio da alta liderança para favorecer a colaboração, o propósito e o reconhecimento.

Por André Fusco, em colaboração especial com a Você RH*
12 set 2025, 11h42
Colagem de uma silhueta de uma face humana ao lado de uma mão, com o dedo indicador erguido.
 (Nataliia Prachova/Getty Images)
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A campanha do Setembro Amarelo é um convite à reflexão sobre a vida, o cuidado e a prevenção ao suicídio. No ambiente corporativo, a campanha ganhou força, mas traz também uma provocação: quem é, afinal, responsável pela saúde mental no trabalho?

Há um paradoxo. O Setembro Amarelo é essencial para abrir a conversa, mas não pode ser reduzido a campanhas isoladas e conduzidas apenas pelo RH. Palestras, rodas de conversa e trilhas de autocuidado são valiosas para sensibilizar e alavancar o reconhecimento dos desafios atuais, mas precisam ser complementadas com mudanças estruturais nas regras, nas metas, nos sistemas de avaliação e nas formas de liderança.

Esse debate não diz respeito apenas ao bem-estar individual: trata-se da sustentabilidade do negócio. A Organização Mundial da Saúde estima que a depressão e a ansiedade causam uma redução de produtividade globalmente que custa US$ 1 trilhão. No Brasil, em 2024, foram mais de 470 mil afastamentos por transtornos mentais, o maior número em uma década. Cada afastamento impacta diretamente a produtividade, eleva o turnover, amplia litígios e aumenta a carga tributária das empresas por meio do FAP (Fator Acidentário de Prevenção).

O paradoxo é ainda maior quando olhamos para o próprio RH: ao mesmo tempo em que cuida dos demais, é o setor mais sobrecarregado. Pesquisas indicam que mais de 80% dos profissionais se sentem exaustos e 65% enfrentaram algum problema de saúde mental no último ano. O ponto central é que o RH, sozinho, não tem alçada para transformar a lógica organizacional.

Essa lógica, herdada de décadas de gestão orientada exclusivamente à eficiência, criou ambientes em que a competição é vista como virtude, mas que na prática degradam relações e corroem o sentido do trabalho.

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Repensando o escritório

É nesse cenário que o Setembro Amarelo deve ser visto não como fim, mas como ponto de partida. Campanhas são necessárias para abrir espaço e quebrar o tabu, mas precisam ser seguidas por iniciativas permanentes – alinhadas por exemplo à Ergonomia Mental, conceito que propõe repensar a organização do trabalho para que gere saúde e produtividade, considerando a subjetividade humana.

Isso implica repensar crenças enraizadas, como a ideia de que “o importante é ser o melhor” ou que “reconhecimento demais acomoda”, e redesenhar metas e processos para que favoreçam colaboração, propósito e reconhecimento. É aí que a alta liderança, que tem alçada para interferir nas regras e políticas, precisa assumir seu papel.

A nova NR-1 reforça essa visão ao tornar obrigatória a avaliação e gestão de riscos psicossociais. E não se trata de um processo que o RH possa conduzir sozinho: exige a atuação de engenheiros de segurança, técnicos de enfermagem do trabalho, SESMT, epecialistas em ergonomia e especialistas em psicodinâmica do trabalho. Mas, acima de tudo, depende de lideranças dispostas a reconhecer que cuidar da saúde mental é cuidar do negócio.

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Decisões da liderança

O comportamento do gestor, nesse contexto, é decisivo. Criar segurança psicológica significa reconhecer conquistas, valorizar qualidades e ter coragem de demonstrar fragilidades. Quando o líder compartilha sua humanidade, autoriza sua equipe a fazer o mesmo. Esse ambiente de confiança é essencial para que diagnósticos de ergonomia mental sejam precisos, contem com a colaboração dos trabalhadores e permitam a cocriação de soluções sem vieses.

Mas o comportamento da liderança deve ser coerente com as regras. Não adianta o gestor dar exemplo de colaboração se o modelo de avaliação é individualizado e as performances são relativizadas (estímulo pela competição: ranking).

Cuidar da saúde mental não prejudica resultados: é o que garante resultados sustentáveis. Empresas que compreendem isso fortalecem engajamento, reduzem custos invisíveis e entregam mais valor à sociedade.

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Neste Setembro Amarelo, o convite que faço é para que olhem para além das campanhas. Transformem as regras de trabalho. Reconheçam que a saúde mental é responsabilidade de todos. Só assim conseguiremos construir ambientes que gerem não apenas lucro, mas também sentido.

*André Fusco é médico, psicanalista e consultor de saúde mental para empresas. 

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