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Ana Carolina Souza

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Neurocientista e sócia da Nêmesis, empresa de educação corporativa na área de neurociência organizacional
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Além do limite: líderes exaustos não dão apoio emocional aos outros

Confira três iniciativas para cuidar da saúde mental de suas equipes sem ficar sobrecarregado, em papéis que não são do seu escopo.

Por Ana Carolina Souza, colunista de VOCÊ RH
6 nov 2024, 17h15
Foto de fileira de fósforos frescos com cabeças vermelhas, um queimou e mostra somente algum fumo, conceito da sobrecarga.
 (fermate/Getty Images)
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Se a Sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han, já parecia descrever nosso esgotamento coletivo, hoje deveríamos falar sobre uma Sociedade do Colapso. Estamos enfrentando uma epidemia de transtornos mentais que afeta empresas, resultando em afastamentos, conflitos, queda de produtividade e desmotivação.

Enquanto as companhias acumulam dados sobre o desgaste emocional no trabalho, sem saber ao certo como lidar com um cenário tão desafiador, muitos profissionais sofrem em silêncio os efeitos do estresse crônico. Relatórios e estudos se amontoam, mas a reação das lideranças frente a essas evidências é difusa. Enquanto alguns enxergam a urgência em encontrar soluções, outros ignoram ou minimizam os resultados, priorizando demandas que parecem mais “urgentes”. Porém, uma coisa é certa: o treinamento de líderes tem sido a aposta comum das empresas.

Mas aqui surge uma pergunta importante: estamos realmente pedindo o papel certo para as lideranças? Em muitos casos, os próprios líderes estão sobrecarregados e estressados e expressam suas dificuldades em lidar com a saúde mental das equipes. Comentários como “Não estou preparado para isso” ou “Isso foge da minha alçada” são frequentes.

E isso faz sentido. Líderes exaustos não têm mesmo condições de apoiar as necessidades emocionais dos outros. Talvez seja hora de repensar o papel da liderança nesse contexto. Em vez de exigir que identifiquem e resolvam problemas de saúde mental — uma responsabilidade mais adequada aos profissionais da saúde —, devemos buscar outras formas de envolvimento da liderança.

A criação de um ambiente emocionalmente saudável e seguro requer um trabalho que não pode ser feito sozinho, e sem dúvida depende do apoio das áreas de recursos humanos, mas a seguir coloco três iniciativas que podem e devem ser desempenhadas por líderes para cuidar da saúde mental de suas equipes, sem sobrecarregá-los com demandas que estão fora de seu escopo:

Tenha em mãos informações de qualidade e saiba utilizá-las

Muitas empresas conduzem pesquisas de clima, mas essas informações nem sempre são traduzidas em ações efetivas. Parte do problema é que os indicadores oferecidos às lideranças não têm a mesma qualidade, por exemplo, dos dados utilizados para decisões financeiras.

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Na área da saúde, muitas organizações ainda observam passivamente gráficos que indicam aumentos nos afastamentos por questões emocionais, e se limitam a fazer campanhas repetitivas com foco em atividade física e alimentação, o que está longe de ser suficiente. Isso precisa mudar. Existem hoje ferramentas preditivas que permitem às empresas antecipar potenciais problemas de saúde mental — como o surgimento de Burnout ou níveis insustentáveis de estresse. Utilizar esses dados de maneira proativa pode ser a chave para intervenções mais eficazes e para um equilíbrio saudável entre bem-estar e performance.

Ao dar às lideranças acesso a informações claras e relevantes sobre a saúde emocional de suas equipes, permitimos que atuem de maneira preventiva, dentro de sua área de controle.

Atualize suas práticas de liderança

Assim como um texto em inglês não faz sentido para quem não domina o idioma, dados sobre saúde emocional não são úteis para líderes que não foram treinados para interpretá-los. O letramento emocional é uma habilidade essencial, já que questões como engajamento, motivação e estresse impactam diretamente a performance das equipes.

Os treinamentos tradicionais de liderança, focados em técnicas de gestão da era industrial, não são mais suficientes. A nova formação deve incluir o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como autogestão, empatia e comunicação. Investir em líderes emocionalmente inteligentes é investir na saúde e no sucesso da organização como um todo.

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Pergunte-se: os treinamentos de liderança em sua empresa desenvolvem essas habilidades humanas essenciais? Ou ainda se limitam a teorias que pouco se conectam com a prática diária?

Crie um ambiente de segurança psicológica

Por fim, números e gráficos não contam toda a história. Um dos papéis mais importantes de um líder é construir um ambiente de segurança psicológica, onde os colaboradores se sintam à vontade para compartilhar suas dificuldades e angústias.

A liderança tem uma função social crucial: é o elo entre a equipe e a empresa. Dedicar tempo para conhecer as pessoas e abrir espaço para conversas sinceras pode revelar problemas que não aparecem nos indicadores tradicionais. Ouvir de forma ativa e empática é essencial para resolver questões que, muitas vezes, passam despercebidas, mas que estão na raiz de problemas mais profundos.

Um ambiente emocionalmente saudável não ignora as emoções humanas; ele as acolhe e as utiliza como base para decisões estratégicas. A liderança tem um papel fundamental na construção desse espaço de diálogo e cuidado.

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Em resumo, é fundamental que as empresas reconheçam o papel estratégico das emoções no trabalho. Ao valorizar o bem-estar emocional de suas equipes — e de suas lideranças —, estarão não apenas promovendo saúde, mas também criando as bases para um ambiente de alta performance e resultados sustentáveis.

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