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É errando que se aprende. Mas como adotar essa postura?

Refletir sobre nossas falhas impulsiona o desenvolvimento profissional e a inovação. É o que defende Eduardo Briceño no livro "Mindset de Crescimento". Confira.

Por Redação
4 set 2024, 15h39
Capa de livro em um fundo cor de rosa.
 (Montagem sobre reprodução/VOCÊ RH)
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Se as pessoas não têm a chance de falhar, não há inovação.” Talvez você já tenha encontrado essa frase no LinkedIn – o paraíso na Terra para quem gosta de mensagens motivacionais. Sua autora é Indra Nooyi, indiana que presidiu a PepsiCo de 2006 a 2018 e hoje participa como conselheira da Amazon e do Conselho Internacional de Críquete (o esporte mais popular do mundo depois do futebol).

Tal frase remete à velha máxima de que “é errando que se aprende”. Mas é um desafio mantê-la em mente. Há, por isso, um contingente variado de pessoas que procuram nos lembrar da beleza do erro: de artistas e psicólogos a… palestrantes ultrafamosos. É o caso do venezuelano Eduardo Briceño, um consultor que ajuda a construir escritórios colaborativos e inovadores. Permitindo, por exemplo, que os profissionais errem eventualmente, como defendido por Nooyi.

Em 2007, Eduardo e a psicóloga americana Carol Dweck fundaram a consultoria Mindset Works para implementar um conceito criado por ela: o “mindset de crescimento”. Pessoas com essa mentalidade acreditam, ao contrário de pessoas com “mindset fixo”, que talentos não são inatos: são aspectos a se desenvolver com esforço e estratégia. Por isso eles vão mais longe. Empresas que adotam esse mindset, por sua vez, teriam funcionários mais comprometidos e melhores no trabalho em grupo.

Eduardo se tornou um expert em aprendizagem no mundo corporativo e escreveu, em 2023, um best-seller em que defende: é improdutivo nos concentrarmos em completar uma tarefa atrás da outra sem abrir espaço para a reflexão, a colaboração… e o erro. Este seria o “paradoxo da performance”, que causa estagnação e frustração. O segredo para superá-lo? Adotar o mindset de crescimento.

Em julho, a editora Sextante lançou uma edição do livro em português: “Mindset de crescimento: Como superar o paradoxo da performance e fazer da experimentação e do erro seus maiores aliados”. Confira um trecho da obra abaixo.

Capítulo 5: Liberando o poder dos erros

O professor da Universidade do Texas Robert Duke e seus colegas queriam descobrir qual seria a melhor forma de melhorar uma execução ao piano. Pediram então aos alunos avançados que aprendessem uma passagem do Concerto nº1 de Dmitri Shostakovich e os instruíram a praticá-la pelo tempo que fosse preciso até que pudessem tocá-la no ritmo desejado sem usar o metrônomo.

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No dia seguinte, os alunos foram convidados a executar a peça. Os desempenhos foram analisados e classificados com rigor.

A conclusão?

Os pesquisadores descobriram que as estratégias usadas pelos alunos durante o exercício faziam muito mais diferença na qualidade de seu desempenho do que o tempo que tinham passado praticando. Eles também perceberam que “as diferenças mais notáveis entre as sessões de prática dos melhores pianistas e as dos outros participantes estavam relacionadas ao gerenciamento dos erros”.

No início, os pianistas mais bem classificados cometiam o mesmo número de erros que os demais; no entanto, usavam estratégias para não continuar cometendo os mesmos equívocos. Ao identificarem a causa específica de um erro, efetuavam os ajustes necessários repetidamente até corrigirem o problema.

Os erros são fundamentais para a melhoria constante, por mais dolorosos que possam ser. São também parte essencial das inovações, que sempre envolvem a identificação de problemas ainda não resolvidos e a proposição de novas soluções. Esse processo exige que observemos o mundo de perto, formulemos hipóteses sobre o que pode funcionar melhor e as testemos na prática. Como muitas não funcionarão, devemos refletir sobre os motivos, o que gera aprendizado. Faremos então tentativas mais inteligentes e, no devido tempo, criaremos inovações viáveis.

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Em um mindset fixo, os erros incomodam porque parecem falhas pessoais; às vezes até os usamos como desculpas para desistir. Mas, em um mindset de crescimento, são examinados e se tornam fonte de aprendizado.

Em algum nível, entendemos a utilidade de aprendermos e nos fortalecermos com nossos erros. A realidade é ainda mais convincente: mesmo em nível biológico, erros são fundamentais para desenvolver nosso cérebro e nossa capacidade.

Em seu podcast, Andrew Huberman, um neurocientista de Stanford, destaca que, depois dos 25 anos, as únicas formas de desencadear a neuroplasticidade – mudanças na estrutura do cérebro que alteram padrões de pensamento – são quando algo realmente nos surpreende, quando algo muito ruim acontece conosco ou quando cometemos erros.

Erros levam nosso cérebro a prestar atenção: Alguma coisa nova está acontecendo aqui.

Como ninguém gosta de causar tragédias e é impossível provocar surpresas, o modo mais eficaz de estimular a neuroplasticidade é nos envolvermos em atividades desafiadoras, que não conseguimos realizar com perfeição, e aprendermos com os erros ao longo do caminho.

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Vamos nos aprofundar na ciência para entender como isso funciona.

Quando estamos empenhados em aprender algo novo, nossa luta contra os erros leva nosso sistema nervoso a liberar uma substância química chamada epinefrina, que aumenta o estado de alerta, e outra chamada acetilcolina, que intensifica a concentração.

Ativadas essas substâncias, nosso cérebro tenta corrigir o erro.

Então, quando dá certo, outra substância química é liberada – a dopamina –, que abre caminho para a plasticidade e o aprendizado. Como Huberman destaca, desistir após uma frustração e afastar-se de um novo desafio é a pior coisa que podemos fazer, pois o sentimento de frustração é, na verdade, um sinal de que a neuroplasticidade está prestes a ocorrer.

O desconforto significa que o cérebro está à beira da mudança.

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Se continuarmos na luta até obtermos algum progresso, a dopamina informará ao cérebro que a nova abordagem funciona melhor que a antiga. E o processo de reprogramação neural se inicia.

Se não fizermos tentativas, o cérebro jamais se reprogramará para melhor.

Se desistirmos, o cérebro se aperfeiçoará em desistir.

Se avançarmos, o cérebro se aperfeiçoará em persistir.

Lembre-se disso na próxima vez que se sentir tentado a guardar o violão para sempre ou a desistir do problema que está lutando para resolver.

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Mesmo que você tenha o costume de jogar a toalha rapidamente, anime-se: Huberman observa que podemos de fato treinar o cérebro para enxergar a frustração como algo bom. Podemos mudar os modelos mentais para apreciar e até aproveitar o processo de lidar com os erros e o crescimento que dele resulta.

Neste capítulo, veremos como.

O poder da reflexão

Para aprendermos e melhorarmos, não devemos apenas cometer erros; devemos refletir sobre eles. Perceber que erramos é a senha para entrar em nossa Área de Aprendizagem e investigar o que podemos aprender por meio destas perguntas:

  • O que posso aprender com o erro?
  • O que farei diferente de hoje em diante?
  • Se meu erro prejudicou alguém, existe alguma coisa que eu possa fazer para reparar o mal que causei?

Pesquisadores da Universidade Estadual do Michigan descobriram que, após cometerem um erro, pessoas com mindset de crescimento prestavam muito mais atenção e apresentavam um desempenho melhor em problemas subsequentes quando comparadas a indivíduos com mindset fixo. Os pesquisadores concluíram que “a atenção aos erros está intimamente envolvida na capacidade de ter um mindset de crescimento para aprender com esses erros e superá-los”.

Os erros propriamente ditos não levam ao aprendizado; refletir sobre eles, sim.

Como podemos refletir sobre um erro? Não devemos torná-lo uma obsessão nem nos estressarmos com coisas que estão fora de nosso controle. Devemos simplesmente identificá-lo e atentarmos ao que poderemos fazer diferente no futuro.

Há sempre espaço para melhorar. Nunca faremos nada perfeitamente. O mundo é complexo demais. Ao aceitarmos os erros como parte necessária da vida e do aprendizado, não precisaremos ficar angustiados quando errarmos. Se examinarmos o erro e refletirmos sobre o que precisa mudar, progrediremos com mais sabedoria.

É muito raro haver uma única explicação. Geralmente, quando algo dá errado, isso se deve em parte a alguma coisa que fizemos e em parte também a outros fatores. Quanto mais assumirmos nossa responsabilidade e nos concentrarmos em nossa parte – que podemos mudar –, mais aprenderemos com nossas ações e melhoraremos nossos resultados. E os outros nos agradecerão por isso.

Marcelo Camberos, CEO e co-fundador da Beauty for All Industries e criador das empresas de produtos de beleza por assinatura BoxyCharm e Ipsy […] afirma que quase todas as decisões bem-sucedidas em suas empresas começaram como erros.

“Nos primeiros dias da empresa, eu achava que sabia instintivamente em que gastava meu tempo, mas… passava cerca de 40% dele contratando pessoal. Se tivesse parado um segundo para mapear o uso do tempo e não tivesse confiado tanto no meu instinto, teria resolvido muitos problemas antes”, disse.

Ele acabou descobrindo que seria mais benéfico trazer alguém com experiência em contratações e delegar todo o processo de recrutamento a essa pessoa. E foi o que fez ao contratar Jennifer Goldfarb e nomeá-la cofundadora da empresa.

“Foi minha primeira startup grande, eu não sabia o que estava fazendo. Então, comecei a estudar todas as semanas, me atolando em informações”, disse ele. Se tivesse prestado mais atenção a como estava gastando seu tempo, “teria poupado muitas horas e muita chateação”.

As respostas de Marcelo a seus erros lhe permitiram identificar grandes oportunidades de melhoria e implementar mudanças. Isso o levou a instituir a análise de erros e a correção de rumos como normas culturais da empresa – e essas práticas se mostraram fundamentais para seu extraordinário sucesso.

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Este texto faz parte da edição 93 (agosto/setembro) da Você RH. Clique aqui para conferir os outros conteúdos da revista impressa.

Erramos: o último parágrafo da introdução deste texto (“Em julho… Confira um trecho.”) ficou de fora da versão impressa.

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