Os oito estilos de liderança – e o perfil mais comum no Brasil
Uma pesquisa indicou que 30% dos líderes financeiros se consideram “mentores”; levantamento reflete tendências da liderança de forma geral
iretor, mentor, inovador, produtor, facilitador, negociador, coordenador e monitor. Esses são os oito estilos clássicos de liderança definidos por Robert E. Quinn, professor emérito da escola de negócios da Universidade de Michigan, em 2004. Até hoje, o modelo serve como referência para vários estudos, como o recém-publicado O Perfil do CFO no Brasil 2022, conduzido pela consultoria de recrutamento Assetz e pelo Insper com 92 executivos da área financeira (CFOs) de grandes empresas do Brasil.
“Abordamos [na pesquisa] competências e estilos de liderança comuns a qualquer líder”
Felipe Brunieri, sócio-fundador da Assetz Recruitment
Segundo a análise, 30% dos participantes se identifica mais com as características do líder mentor. Na edição anterior do estudo, realizada em 2021, os dois estilos de liderança mais apontados foram produtor e inovador (veja mais sobre cada perfil a seguir).
O líder mentor é aquele que faz uso da empatia para orientar e desenvolver as pessoas ao redor, baseando-se, inclusive, em situações que já vivenciou. “São profissionais reconhecidos por serem mais atenciosos e abertos, que costumam considerar as reivindicações que chegam até eles”, diz Guilherme Malfi, sócio-fundador da Assetz. “Trata-se de um perfil para quem o sucesso é conferido pelo sucesso individual de cada pessoa do seu time. Um líder mentor está preocupado com o aprimoramento de competências das pessoas que lidera, por isso faz questão de proporcionar à equipe treinamentos e desafios para desenvolver seus pontos fortes.”
Em seguida no ranking aparecem o líder diretor (25%), o produtor (16%), o facilitador (13%), o monitor (5%), o inovador (4%), o negociador (4%) e o coordenador (1%). Em entrevista a VOCÊ RH, Felipe e Guilherme falam mais sobre os oito perfis abordados e suas características:
Quais características são próprias de cada estilo?
Todos os perfis apontados por Quinn têm pontos fracos e fortes, a depender do contexto e de sua prevalência. De acordo com Quinn, o equilíbrio entre cada uma dessas competências seria o ideal para o sucesso do líder, de seu time e, de forma mais ampla, também das organizações.
1. O líder inovador
É criativo e visionário. Mas essas características podem tornar o gestor pouco prático, com tendência a fazer experimentações que não agreguem melhorias ao negócio.
2. O líder negociador
É mais político, com grande capacidade de persuasão e influência, mas pode também ser compreendido pelos colegas como alguém extremamente ambicioso.
3. O líder produtor
É um excelente executor e cumpridor de metas, mas se direcionar todo o seu esforço nesse sentido, pode ser entendido como alguém individualista.
4. O líder diretor
É extremamente objetivo e pragmático, porém pouco receptivo a ideias que vão de encontro às suas.
5. O líder mentor
É solícito, extremamente acessível, mas pode se tornar permissivo caso não seja capaz de ser rígido quando necessário.
6. O líder facilitador
É aquele que promove a coesão e o trabalho em equipe e que tem um papel importante na resolução de conflitos interpessoais, tornando-se figura essencial para a solução de problemas do grupo. Porém, ao levar em consideração a contribuição de todos os envolvidos, pode se estender demais nos prazos e atrasar algumas entregas.
7. O líder coordenador
É extremamente organizado, capaz de coordenar os esforços da equipe e trazer resoluções pragmáticas para problemas de diversas ordens. Tende a ser cético e, por buscar sempre a estabilidade nos processos, pode soar como burocrático.
8. O líder monitor
De caráter mais analista, se destaca pela competência técnica. É detalhista, tem extremo apreço por dados e relatórios. Ao direcionar seu olhar e sua energia para o trabalho que já foi feito, pode não se atentar para o futuro, para processos disruptivos e transformadores.
A maior parte dos líderes deve se identificar com mais de um estilo — e isso não é apenas natural, mas desejável. Ter ciência de cada um desses perfis, dos pontos fortes e fracos de cada um, é um recurso que pode auxiliar qualquer líder na condução de um modelo de gestão mais efetivo.
Por que o líder mentor é importante e tem se sobressaído?
Por muito tempo, os modelos de liderança supostamente mais eficazes eram aqueles que trabalhavam sob uma lógica autoritária de controle e comando. Essa dinâmica tem perdido força. Hoje, um líder autoritário e controlador dificilmente consegue manter sua equipe engajada por muito tempo. O que ontem era sinônimo de sucesso, hoje já não é mais.
Nesse sentido, perfis mais abertos ao diálogo e ao entendimento das particularidades de cada indivíduo têm ganhado destaque. O líder mentor tem clareza do seu papel dentro da estrutura organizacional e, por meio de uma comunicação eficaz e empática, vai buscar o melhor de cada indivíduo do seu time. O sucesso aqui é visto a partir de um viés coletivo, nunca individual. E quando um colaborador se sente ouvido e, de alguma forma, representado em um projeto coletivo, é natural que haja maior engajamento por parte dele.
Mas vale aqui um apontamento importante. A pesquisa conduzida em conjunto com o Insper pediu que cada um dos CFOs escolhesse o estilo de liderança que melhor o representasse. O perfil mentor foi o mais citado, mas não conseguimos atestar se seus subordinados têm a mesma opinião. Vale essa ponderação sobre a autodeclaração. Independentemente disso, é notável a ciência de que perfis mais abertos e colaborativos devem prevalecer daqui para frente.
O que motivou a mudança de perfis de um ano para o outro?
A pesquisa anterior foi aplicada em 2021, primeiro ano da pandemia, quando as incertezas ainda eram inúmeras. A economia mundial já dava sinais muito claros de que seria impactada. Ao mesmo tempo, enxergávamos uma verdadeira revolução em diversos mercados para os quais a digitalização se impôs de forma abrupta. Dado esse contexto, é natural que os líderes financeiros das principais empresas brasileiras direcionassem sua atenção e seus esforços para a entrega de resultados e a disrupção de processos e serviços.
Diante do enxugamento de recursos e, em muitos casos, também de mão de obra, muitos desses líderes tiveram que colocar mais a mão na massa para garantir eficiência e bons números. No caso de setores que foram transformados da noite para o dia graças a uma digitalização compulsória, coube também encontrar formas para que continuassem produzindo e atendendo. Esses cenários podem explicar a prevalência de características mais ligadas aos perfis de produtor e inovador em 2021.
Sobre a pesquisa
Entre os respondentes do estudo, a maioria se identifica com o gênero masculino (87%) e é branca (92%), o que reflete a falta de diversidade nos cargos de alta liderança, não só na área de finanças. A média de idade é de 48 anos: 64% são da geração X; 21%, da Y; e 14% são Baby Boomers. Pessoas negras (7%), amarelas e asiáticas (1%) são minoria.
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