Caso Itaú: como lidar com a queda de engajamento em trabalhos híbridos e remotos
As demissões em massa ocorridas no banco reacendem o debate sobre a motivação dos colaboradores que atuam à distância. Entenda.

A indignação exposta nesta semana pelo Sindicato dos Bancários contra as cerca de mil demissões feitas pelo Itaú, motivadas por “baixa atividade digital” de funcionários em home office, traz à tona um dilema que faz parte, cada vez mais, da rotina de muitas organizações: como lidar com a queda de engajamento e motivação em tempos de trabalho híbrido e remoto?
O primeiro passo, segundo Andre Purri, CEO da HRTech Alymente, especializada em benefícios corporativos, é substituir o controle por conexão. “Para quem trabalha 100% à distância, o engajamento nasce de rituais que reforçam o senso de pertencimento e a clareza de propósito”, diz. Na prática, ele orienta trabalhar em sprints com alinhamentos curtos e frequentes. “Não para vigiar, mas para trocar aprendizados e manter a visão de negócio sempre presente”.
Benefícios que apoiam a rotina remota, como auxílio home office, programas de bem-estar adaptados a diferentes perfis, planos de carreira mais claros e flexibilidade real de horários, na visão do especialista em auxílios corporativos, demonstram confiança no profissional e atenção à sua realidade. “As ferramentas de gestão devem servir para dar visibilidade às entregas e celebrar conquistas, em vez de medir cliques ou tempo de login”, afirma.
Já no modelo híbrido, o ideal, para Andre, é que os dias de presença se tornem momentos de valor com a equipe, e não apenas uma obrigação. “Reuniões presenciais bem planejadas dão sentido a cada ida ao escritório e fortalecem a cultura”, diz. Políticas claras de autonomia, metas compartilhadas e feedback contínuo são medidas que ajudam a equilibrar liberdade e responsabilidade, de acordo com o CEO. “O que realmente engaja é a certeza de que cada escolha de onde e como trabalhar é respeitada, enquanto a empresa mede impacto e resultado”.
O que não fazer, segundo especialistas
A prática de punir com demissões pode não resolver o problema de engajamento no longo prazo, aponta Andre. “Medir a produtividade apenas pelo tempo em que o trabalhador está conectado ignora o caráter intelectual e colaborativo do trabalho, especialmente no setor financeiro e tecnológico”, afirma. Para o CEO da Alymente, isso é um retrocesso que pode impactar tanto o engajamento quanto a reputação da companhia.
Em vez de apenas cortar quem apresenta baixa performance, Andre defende que as empresas precisam investir em estratégias que incentivam maior participação dos times. Dados da Gallup reforçam esse caminho: trabalhadores que se sentem reconhecidos têm 63% menos probabilidade de procurar um novo emprego e são 73% menos propensos a sofrer burnout.
O reconhecimento consistente aparece como um dos pilares dessa tendência corporativa, acredita o executivo, sobretudo em momentos como esses, quando as conexões humanas tendem a se fragilizar. “Nesse contexto, práticas como escuta ativa, incentivo ao crescimento profissional e fortalecimento do senso de propósito tornam-se fundamentais para manter equipes engajadas e produtivas”, reforça ele.
O desafio, portanto, vai além da fiscalização. O modelo remoto exige novas formas de motivar colaboradores que, vale lembrar, muitas vezes enfrentam sobrecarga e desconexão cultural. “A demissão, embora pareça uma solução imediata, não elimina o risco de que os mesmos problemas se repitam com outros profissionais”, alerta.