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Entrevista: Raul Aparici, diretor de aprendizagem da The School of Life

O espanhol atua para que os profissionais reflitam criticamente sobre si mesmos, saibam fazer boas conexões e se sintam bem com seu emprego e empresa.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 24 out 2024, 09h06 - Publicado em 4 jun 2024, 15h09
Foto de Raul Aparici, um homem branco com barba grisalha. Ele está sorrindo, sentado em uma cadeira, de pernas cruzadas, e usa camisa branca.
 (Celso Doni/VOCÊ RH)
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Uma pesquisa da The School of Life em parceria com a Robert Half mapeou que 28,18% dos funcionários e 21,95% dos líderes entrevistados não estão felizes com seu emprego atual. Além disso, 94,73% dos colaboradores e 95,62% dos gestores acreditam que as empresas são responsáveis pela felicidade dos profissionais.

A The School of Life atua para melhorar esses índices e também para a compreensão de que a felicidade com o trabalho é um sentimento a ser desenvolvido em colaboração, entre líderes e liderados. “Os negócios estão mudando e, embora abordagens rígidas de comando e controle tenham provado ser bem-sucedidas no passado, o bem-estar mental, a atenção ao propósito, uma carreira gratificante e o sucesso empresarial não são mutuamente exclusivos. E todos são responsáveis por essas conquistas.”

Quem afirma é o espanhol, radicado em Londres, Raul Aparici, diretor global de aprendizagem da The School of Life. Ele é o profissional que atua mais proximamente ao fundador da escola, o filósofo Alain de Botton. Consultor e palestrante, pós-graduado em coaching pela University of London, Raul esteve em São Paulo no início de maio, quando ministrou um curso imersivo sobre autoconhecimento e inteligência emocional no trabalho. Falou sobre resiliência, calma, a importância dos relacionamentos e como conduzir uma mudança de carreira.

Foi também quando atendeu a nossa reportagem para a entrevista a seguir. 

Quais são os objetivos de quem trabalha em uma escola dedicada a ensinar as pessoas sobre a vida?

Queremos ajudar as pessoas a aprender, curar e crescer em sua vida pessoal, e a prosperar e desfrutar de seu trabalho nas organizações. E fazemos isso com algumas das grandes ideias da psicologia, da psicoterapia e das artes. Encorajamos os profissionais a pensar sobre como as nossas ferramentas e ideias repercutem na sua experiência individual. Todos os nossos livros, produtos e sessões são concebidos para fazer perguntas sobre nós e aqueles que nos rodeiam. Cada curso, workshop, palestra, experiência ou livro produzido pela The School of Life tem um objetivo central: aumentar o nível de autoconhecimento e inteligência emocional de cada pessoa e, consequentemente, do mundo. 

O que você mais ensina e aprende no seu dia a dia?

Trabalho na The School of Life, em Londres, há quase dez anos e dou aulas para o público, como o curso de cinco dias que acabamos de realizar em São Paulo, além de trabalhar em organizações globais. Baseio-me na minha experiência de vida e de trabalho, bem como na minha formação como coach e como psicoterapeuta. É muito importante para mim ser consistente na minha vida, por isso estou sempre questionando e me envolvendo com as minhas próprias experiências com uma atitude curiosa. Posso ser professor na escola, mas sou sempre e para sempre também um aprendiz da vida. Acreditamos que a troca de ideias com outras pessoas tem o poder de nos ajudar a expandir, corrigir e confirmar pensamentos.

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Um ambiente para felicidade no trabalho é uma construção coletiva? Depende mais de líderes ou de funcionários?

Depende. Testemunhei algumas culturas de trabalho tóxicas em que, com as melhores intenções dos colaboradores, a gestão não apoia (ou não está interessada) na abertura e na segurança psicológica, o que tem um efeito negativo na felicidade das equipes. No entanto, isso não significa que os funcionários não possam envolver-se nas suas tarefas de forma diferente. Acredito que essa é uma responsabilidade compartilhada: a empresa oferece um ambiente de trabalho saudável e o profissional coloca em prática o autocuidado. Se um funcionário não está bem emocionalmente por motivos pessoais, por exemplo, pouco ou nada que a empresa faça o deixará mais feliz.

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Raul Aparici, diretor global de aprendizagem da The School of Life: “Se conseguirmos causar impacto numa pessoa e tratá-la com bondade, compreensão e autonomia, aqueles que a rodeiam serão beneficiados, criando um efeito cascata”. [Imagem: Celso Doni / Você RH] (Celso Doni/VOCÊ RH)

Como os gestores podem lidar com as emoções negativas dos seus colaboradores?

O meu primeiro passo seria olhar para dentro: quem sou eu como líder, ou o que estamos fazendo como organização que permite, apoia e perpetua emoções e comportamentos que não ajudam em nada. A parte dois seria ter conversas abertas com os funcionários, a partir de uma posição de questionamento humilde. A terceira parte seria implementar estratégias que tenham sido criadas coletivamente para o benefício da empresa e dos colaboradores. 

Como manter a sanidade num ambiente de trabalho tóxico ou com um chefe tóxico?

Isso é complicado. Eu diria para encontrar outro emprego! Mas a realidade da economia e as nossas circunstâncias pessoais podem tornar isso impossível. Primeiro encontre a comunidade: fale com outros funcionários, apoiem-se mutuamente. Tente se envolver novamente com o que você ama no seu trabalho: conecte seu dia a dia a um propósito maior para que, mesmo que o ambiente seja difícil, você possa contribuir de forma significativa. Também pense no que você pode fazer para melhorar seu relacionamento com seu chefe: tenha uma discussão aberta sobre a melhor forma de discordar e tente obter o máximo de clareza possível em seu trabalho. Mas, em última análise, se houver bullying ou qualquer outro comportamento inaceitável, fale com o RH e considere medidas mais sérias.

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Como você vê o futuro do trabalho à medida que as novas gerações exigem mais direitos e comodidades, enquanto muitos líderes continuam com um estilo de gestão baseado em comando e controle rígidos?

Uma pesquisa recente mostra que, para 2/3 da Geração Z, é muito importante que seu empregador compartilhe seus valores, com 92% classificando a autenticidade como extremamente ou muito importante, e surpreendentes 74% afirmando que deixariam o emprego se não sentissem progresso. Podemos aprender muito com as novas gerações, e muitas vezes me pergunto se o fato de julgarmos suas exigências como inacessíveis ou ingênuas se baseia no nosso ciúme por elas se atreverem a perguntar o que sempre quisemos, mas nunca fizemos.

Qual o seu propósito na vida profissional?

Para mim é simples: ajudar os outros a pensar criticamente e a se conectarem consigo mesmos e uns com os outros. Acredito fundamentalmente que, se conseguirmos causar impacto numa pessoa no trabalho e tratá-la com bondade, compreensão e autonomia, aqueles que a rodeiam serão beneficiados, criando um efeito cascata, em que todos ganham.

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Este texto faz parte da edição 92 (junho/julho) da Você RH. Clique aqui e confira os outros conteúdos da revista impressa.

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