Como lidar com a pressão por resultados e o cansaço que se agravam no fim do ano
Diagnósticos emocionais, planos de ação personalizados e gestão equilibrada podem orientar empresas em período marcado por alta carga emocional.
À medida que o fim do ano avança, o ambiente corporativo se transforma em terreno fértil para acúmulo de tensão. Fechamento de metas, avaliações de desempenho e contratações sazonais costumam aumentar a carga emocional dos times e, dessa forma, acendem o alerta para a saúde mental dos colaboradores.
“Muitas pessoas chegam ao último trimestre exaustas por não conseguirem se desconectar ou definir metas alcançáveis”, comenta a psicóloga e advogada Jéssica Palin Martins, especialista em saúde mental corporativa. Para ela, o período exige atenção redobrada à gestão emocional dentro das empresas, pois é o momento em que a cobrança por resultados e o cansaço acumulado se tornam gatilhos para quadros de esgotamento e baixa produtividade. “O risco de burnout, por exemplo, não está apenas na pressão do trabalho, mas na tensão prolongada e na falta de clareza sobre limites e prioridades”.
Ainda está em tempo
O primeiro passo para reverter esse cenário, segundo a especialista, é investir em diagnósticos emocionais e em planos de ação personalizados para equipes e lideranças. “Quando a empresa mapeia fatores de risco, entende os perfis comportamentais e cria planos de desenvolvimento ajustados à realidade de cada colaborador, ela reduz o impacto emocional do fim do ano”.
Nesses casos, o processo pode incluir a aplicação de testes psicológicos, o mapeamento de indicadores de clima e engajamento e a devolutiva estruturada para o setor de RH e para líderes. “O objetivo é garantir que metas e tarefas estejam alinhadas à capacidade real de execução, sem gerar sobrecarga”. Para Jéssica, que também é fundadora da plataforma IntegraMente, a clareza no planejamento estratégico é uma das formas mais eficazes de evitar ambientes de tensão e prevenir o adoecimento emocional.
“Produtividade não tem a ver com estar ocupado o tempo todo. Ela está relacionada à organização, disciplina e autogestão”, pontua. “As empresas que entendem isso conseguem planejar melhor o fim do ano e entrar no novo ciclo com times mais equilibrados e saudáveis”.
O papel das lideranças
A sobrecarga do período costuma afetar também gestores e lideranças intermediárias, responsáveis por garantir entregas e, ao mesmo tempo, preservar o equilíbrio do time. A advogada ressalta a importância da presença. “O líder precisa ter uma rotina de acompanhamento das tarefas e manter conversas individuais frequentes. É nesse contato que ele consegue perceber sinais de desmotivação, cansaço e desorganização”.
Jéssica diz ainda que a falta de foco e de disciplina está diretamente ligada à ausência de rituais. “Encerrar o dia de trabalho, respeitar pausas e saber desconectar-se são práticas que reduzem a tensão acumulada e mantêm a produtividade sustentável”, orienta a especialista em saúde mental. “Lideranças que incentivam esse comportamento criam ambientes emocionalmente mais seguros e saudáveis”.
Ela lembra que o papel do líder, aliás, é atuar como mediador entre as metas e o bem-estar da equipe. “Nem todo mundo acorda todos os dias no mesmo ritmo. Ter um olhar humano para essas variações faz toda diferença”, acrescenta, reforçando que liderar não é apenas cobrar resultados. “É também saber ajustar as rotas quando o time precisa respirar.”
Planejamento emocional
O último trimestre é também o momento em que se consolidam avaliações de desempenho, revisões estratégicas e metas para o novo ciclo. Para Jéssica, inserir o fator emocional nesse processo é indispensável. “As empresas precisam compreender que saúde mental não é um assunto paralelo. Ela faz parte do desempenho e, agora, também da legislação”.
A Portaria nº 1.419, de 2024, do Ministério do Trabalho e Emprego, determinou que fatores psicossociais sejam incluídos no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), equiparando-os aos riscos físicos, químicos e biológicos. Essa mudança, segundo a advogada, marca um avanço importante na gestão corporativa, exigindo que empresas registrem e acompanhem índices relacionados à saúde mental.
Jéssica explica que esse novo contexto requer planejamento contínuo, com dados e evidências sobre o clima emocional da empresa. “As organizações que monitoram os indicadores de saúde mental, absenteísmo e engajamento têm mais clareza para planejar o próximo ciclo e evitar surpresas no desempenho coletivo”, analisa.
Em uma perspectiva positiva, o fim do ano é um momento estratégico para fortalecer práticas de cuidado, além de revisar metas e preparar lideranças para o novo ciclo. “Quando a empresa adota o diagnóstico emocional como parte da cultura, ela deixa de reagir às crises e passa a atuar de forma preventiva. Isso é gestão estratégica de pessoas.”
Para a executiva, o encerramento anual não precisa ser sinônimo de esgotamento. “Com metas realistas, planejamento emocional e uma liderança capacitada, o período de maior intensidade pode se tornar uma oportunidade de fortalecimento e de construção de equipes mais conscientes e produtivas.”
61% dos trabalhadores brasileiros não estão engajados, mostra estudo
O perfil do gestor mudou e as entrevistas de emprego para líderes executivos também
Sua empresa não precisa de mais tecnologia, mas de um ‘designer de sistemas humanos e digitais’
Como lidar com a pressão por resultados e o cansaço que se agravam no fim do ano
A importância do propósito no trabalho

